Quem perde e quem ganha com as novas tarifas dos EUA sobre o cacau
Expectativa agora se volta para a colheita da safra 2024/25

As novas tarifas impostas pelos Estados Unidos sobre o cacau e seus derivados reacenderam debates sobre competitividade, impacto inflacionário e realinhamento das cadeias globais da commodity. Em um mercado já pressionado por volatilidade e incertezas na oferta, a medida levanta preocupações e pode mudar o mapa de fornecimento para a indústria americana de chocolate.
Segundo informações da Hedgepoint Global Markets, a nova rodada de tarifas — em vigor desde 7 de agosto — atinge parceiros comerciais que representam mais da metade do volume total de cacau importado pelos EUA. Isso inclui a Costa do Marfim, principal fornecedora de amêndoas, agora com taxa de 15%, e países como Malásia, Indonésia e Índia, grandes exportadores de subprodutos como manteiga e pasta, penalizados com alíquotas entre 19% e 25%.
A Costa do Marfim, que abastece quase 40% da demanda americana por amêndoas de cacau, já sinaliza a busca por novos mercados diante do encarecimento imposto. O Equador, por sua vez, vem ampliando sua participação, favorecido pela queda na produção marfinense e menor carga tarifária, o que indica uma possível reconfiguração nos fluxos internacionais da commodity.
Ainda de acordo com a Hedgepoint, os subprodutos também entram na mira. “Com tarifas mais altas, o custo da matéria-prima processada nos EUA sobe, dando vantagem competitiva a fabricantes de países como Canadá e México, que mantêm acordos comerciais mais favoráveis com o mercado norte-americano”, destaca a analista Carolina França.
No Brasil, a situação se agrava. O país, que importa grãos para suprir sua capacidade de processamento, foi atingido por uma tarifa de 50% nas exportações para os EUA — um golpe que compromete o envio de manteiga de cacau brasileira, antes considerada estratégica.
Mesmo assim, o volume de importações líquidas de cacau pelos EUA em junho voltou à média histórica. Para analistas, esse movimento pode ter sido impulsionado pela sazonalidade e por uma possível antecipação às tarifas, com importadores tentando garantir estoques antes da alta nos custos.
O cenário, porém, permanece volátil. Os contratos futuros de dezembro/25 encerraram a última semana cotados a USD 7.978/t em Nova York, com alta semanal de 5,6%, enquanto Londres registrou GBP 5.415/t, em leve avanço de 0,6%. A volatilidade segue sendo a marca do mercado de cacau em 2025, sob influência de incertezas climáticas e impacto geopolítico.
A expectativa agora se volta para a colheita da safra 2024/25 e o início da temporada 2025/26. Mais do que um ajuste tarifário, o que está em jogo é a capacidade dos players globais de reagirem à nova lógica do comércio internacional — que pode vir a ser não apenas mais cara, mas também mais fragmentada.