Brasil precisa investir R$ 102 bilhões para resolver gargalo na armazenagem de grãos
Falta de silos força venda com deságio na safra

O crescimento acelerado da produção de grãos no Brasil, impulsionado por safras consecutivas recordes, tem revelado um desequilíbrio estrutural entre oferta e capacidade de armazenagem. Segundo levantamento do Itaú BBA, o país enfrenta um déficit que exigiria aportes da ordem de R$ 102 bilhões para ser sanado, num cenário onde a infraestrutura logística avança em ritmo bem inferior à produtividade no campo.
Em 2025, a capacidade estática brasileira chegou a 213 milhões de toneladas, com alta tímida de 0,5% frente a 2024. Enquanto isso, a produção de soja e milho tem crescido a uma taxa média de 6% ao ano desde 2010, intensificando a pressão sobre os armazéns existentes. Dados do levantamento apontam que o Brasil possui hoje 11.921 unidades armazenadoras ativas, sendo o Mato Grosso o estado com maior capacidade instalada — 52 milhões de toneladas — e o Rio Grande do Sul, o líder em número de estruturas, com 3.278 unidades.
Outro fator que agrava o cenário é a logística de escoamento. Com cerca de 60% dos grãos transportados por rodovias, os custos logísticos se tornam um gargalo sensível. O frete médio do Mato Grosso até o Porto de Santos, por exemplo, chega a USD 84 por tonelada, representando 73% do custo total para envio à China. Essa dependência do modal rodoviário aumenta os riscos e reduz a competitividade do produtor brasileiro frente a mercados internacionais.
A falta de armazenagem também impacta diretamente a rentabilidade do agricultor. De acordo com o Itaú BBA, 41% dos produtores que contam com estruturas próprias relataram ganhos entre 6% e 20% na comercialização dos grãos, graças à possibilidade de armazenar a produção e vender em momentos mais estratégicos. Já quem depende exclusivamente de armazéns terceirizados é frequentemente forçado a vender no pico da safra, sob condições menos vantajosas.
A situação é ainda mais crítica em estados que integram novas fronteiras agrícolas. O Mato Grosso, apesar de liderar em volume armazenado, apresenta déficit de 51% em relação à produção de soja e milho. Rondônia opera com 75% de déficit, enquanto no MATOPIBA — região que engloba Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia — o índice chega a 60%, evidenciando a urgência por investimentos direcionados a essas regiões.
Em comparação com os Estados Unidos, a disparidade é expressiva. A capacidade de armazenagem norte-americana é de 615 milhões de toneladas, sendo 65% dentro das propriedades rurais. No Brasil, esse número cai para 17%, tornando o produtor mais vulnerável às pressões do mercado e à volatilidade logística. “O Brasil precisa de investimentos maciços, políticas públicas mais robustas e condições de crédito mais favoráveis para modernizar e expandir sua infraestrutura de armazenagem, condição essencial para que o agronegócio nacional mantenha competitividade e acompanhe o ritmo do aumento da produção”, conclui Francisco Queiroz, especialista da Consultoria Agro do Itaú BBA.