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Brasil lidera crescimento dos biológicos, mas concorrência aumenta

Mercado brasileiro de bioinsumos deve superar US$ 3 bilhões até 2030



Mercado brasileiro de bioinsumos deve superar US$ 3 bilhões até 2030 Mercado brasileiro de bioinsumos deve superar US$ 3 bilhões até 2030 - Foto: Divulgação

O mercado latino-americano de produtos biológicos agrícolas está vivenciando um momento de expansão acelerada, com o Brasil despontando como o principal motor de crescimento global. Durante apresentação no evento "Biocontrol & Biostimulants LATAM", Mark Trimmer, presidente e sócio-fundador da DunhamTrimmer – International Bio Intelligence, revelou dados que demonstram o potencial transformador da região no setor.

O Brasil já movimenta mais de US$ 1,5 bilhão no mercado de bioinsumos e, segundo projeções da DunhamTrimmer, deve ultrapassar a marca de US$ 3 bilhões até o final da década. "O Brasil é responsável por mais de 20% do crescimento global do biocontrole entre 2021 e 2030", destacou Trimmer durante sua apresentação.

Os números impressionam: mais de 50 milhões de hectares de soja, milho, cana-de-açúcar e algodão já utilizam produtos biológicos no país, totalizando uma área tratada superior a 150 milhões de hectares. Atualmente, existem mais de 600 produtos de biocontrole registrados no Brasil, com predominância de tratamentos de sementes e solo com produtos microbianos.

"Nenhum outro país no mundo atingiu esse nível de uso de biocontrole em culturas de grãos", enfatizou o especialista, ressaltando que a taxa de crescimento do mercado brasileiro de biocontrole é 7% superior à do resto do mundo.
 

Chile e Argentina avançam

Enquanto o Brasil foca em commodities agrícolas, o Chile apresenta um perfil diferenciado. O país concentra o uso de biocontrole em culturas de alto valor como uvas de mesa, frutas e nozes, aproveitando sua diversidade agrícola e forte mercado exportador.

"No Chile, os bioquímicos, incluindo feromônios e reguladores de crescimento, são os principais tipos de produtos, diferentemente do Brasil", explicou Trimmer. O país também faz uso extensivo de bioestimulantes para melhorar a qualidade dos produtos destinados à exportação.

A Argentina também demonstra potencial significativo, com o mercado de bioinsumos crescendo 10,9% em 2024 e atingindo mais de US$ 120 milhões. O mercado argentino apresenta uma composição equilibrada: 50% tratamento de sementes, 25% bioestimulantes, 10% biofertilizantes e 10% biocontrole. Mais de 18 milhões de hectares foram tratados com pelo menos um produto biológico em 2024.
 

Desafios e Oportunidades

As tensões comerciais globais, particularmente envolvendo os Estados Unidos, estão criando tanto oportunidades quanto ameaças para a América Latina. Trimmer apontou que tarifas de 17% sobre tomates mexicanos e 50% sobre produtos brasileiros (impactando café, suco de laranja e carne bovina) estão redirecionando fluxos comerciais.

"O México iniciou uma política em abril de 2025 para aumentar a produção doméstica de milho, trigo e soja, reduzindo a dependência das importações americanas", revelou o especialista. Essa mudança pode criar novas oportunidades de mercado para países latino-americanos, com o café e suco de laranja brasileiros sendo redirecionados para a União Europeia e China.

O Brasil está implementando uma nova estrutura legal para bioinsumos, estabelecendo padrões rigorosos para produção, armazenamento e comercialização. O Ministério da Agricultura (MAPA) recebeu a responsabilidade de regular e implementar a nova lei, que exigirá o desenvolvimento de regulamentações claras e eficientes.

Uma preocupação importante é a supervisão tanto da produção industrial quanto da produção "on farm", que representa cerca de 15-20% do mercado brasileiro de biocontrole, para garantir conformidade com critérios equivalentes de controle de qualidade.
 

Mercado Saturado? Diferenciação é a Saída

O crescimento atraiu muitos players: o número de empresas com pelo menos um produto biológico registrado no Brasil saltou de 8 em 2014 para 53 em 2024. Essa proliferação criou um ambiente de competição acirrada.

"No início, havia competição limitada entre produtos biológicos. Hoje, vemos competição feroz entre biológicos direcionados ao mesmo segmento de cultura e uso, levando a guerras de preços", alertou Trimme

Para o especialista, novos produtos precisam se diferenciar e desenvolver uma proposta de valor clara. "A diferenciação pode ser alcançada através de tecnologia, formulação única, aplicação, posicionamento de mercado, modelo de negócios ou outras táticas."
 

Fatores Impulsionadores do Crescimento

Trimmer identificou seis fatores-chave que tornam a América Latina especialmente atrativa para investimentos em biológicos. O especialista destacou inicialmente o potencial de mercado gigantesco da região, impulsionado por um forte setor agrícola combinado com abundantes recursos naturais e a crescente ameaça das mudanças climáticas.

A tecnologia sinérgica representa outro diferencial importante, com os biológicos se combinando cada vez mais com agricultura de precisão, inteligência artificial e ferramentas digitais para expandir significativamente o mercado. As mudanças no comércio global, incluindo as tensões comerciais atuais, estão criando novas oportunidades competitivas para os países latino-americanos.

Do ponto de vista regulatório, a região oferece políticas mais favoráveis, com prazos significativamente mais curtos para aprovação de produtos comparados aos Estados Unidos e Europa. A resistência de pragas constitui um desafio muito maior na América Latina do que no Hemisfério Norte, o que torna os biológicos especialmente valiosos por oferecerem novos modos de ação mais resistentes ao desenvolvimento de resistência.

Por fim, o histórico comprovado de sucesso biológico na região, desde o uso pioneiro do Bradyrhizobium na soja até a adoção em larga escala de bionematicidas em culturas de grãos, demonstra a capacidade da América Latina de identificar rapidamente soluções biológicas inovadoras e comercializá-las em grande escala.

Apesar do otimismo, Trimmer alerta para desafios futuros. O crescimento mais lento dos mercados de biológicos no hemisfério norte torna a América Latina ainda mais atrativa, mas as empresas devem compreender e adaptar-se às exigências únicas da região.

"A implementação da nova Lei de Bioinsumos, combinada com uma eleição presidencial em 2026, pode impactar as iniciativas políticas brasileiras relacionadas aos biológicos – seja positiva ou negativamente", observou.

O mercado global de biológicos deve atingir US$ 30 bilhões até 2030, com taxa de crescimento anual composta de 10,42%. Para a América Latina, especialmente o Brasil, isso representa uma oportunidade histórica de liderança em um setor estratégico para o futuro da agricultura sustentável.

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