Santiago se firma como referência nacional com etanol de trigo
Planta terá capacidade inicial de processamento de 100 toneladas de trigo

A primeira usina de etanol de trigo do país foi oficialmente inaugurada no município de Santiago (RS). O empreendimento marca um avanço na diversificação da matriz energética nacional e visa reduzir a dependência estadual de etanol importado — hoje superior a 99%. O investimento inicial é de R$ 100 milhões, com previsão de expansão para R$ 600 milhões até 2027.
Segundo Tiago Gorski Lacerda, diretor da CB Bioenergia e ex-prefeito do município, a planta terá capacidade inicial de processamento de 100 toneladas de trigo por dia, podendo produzir até 12 milhões de litros de etanol hidratado por ano. “Nosso foco inicial era o etanol hidratado e DDGs. Mas ampliamos o escopo. Vamos produzir também álcool neutro, álcool gel, CO2 e farelo proteico para nutrição animal”, detalha Lacerda.
A usina utilizará uma levedura da empresa americana IFF, desenvolvida para maximizar a fermentação de trigo — inclusive variedades de menor qualidade. Isso abre espaço para o uso de cereais como sorgo, milho, arroz, cevada e triticale, conforme explicou Lacerda: “A flexibilidade de matérias-primas é um diferencial estratégico, especialmente para safras de inverno.”
Com alto nível de automação, a planta vai gerar cerca de 120 empregos diretos e indiretos, além de fomentar a agricultura regional. Um dos principais subprodutos, o DDGS, terá alto teor de proteína (35%), com estimativa de produção de 900 mil toneladas até 2030 — destinado à alimentação animal.
Projeção de crescimento e impacto para o setor
A meta da CB Bioenergia é ambiciosa: até 2030, suprir ao menos 50% da demanda estadual de etanol. Para isso, está prevista a ampliação da capacidade para até 50 milhões de litros por ano, com aporte adicional de R$ 500 milhões. Esse movimento é acompanhado por outra iniciativa relevante: a construção de uma segunda usina de etanol de trigo pela Be8, em Passo Fundo (RS), com previsão de operação em 2026.
Ambos os projetos posicionam o Rio Grande do Sul como novo hub brasileiro de biocombustíveis à base de cereais — modelo alinhado com as metas de descarbonização e autonomia energética.
Um novo cenário para o agro energético
A entrada do etanol de trigo no mercado representa uma virada estratégica para a segurança energética nacional. Ao reduzir a dependência de combustíveis externos e estimular o aproveitamento de culturas de inverno, o modelo de Santiago pode se consolidar como referência para outras regiões do país. A aposta da CB Bioenergia é, ao mesmo tempo, inovação tecnológica, fomento regional e oportunidade de negócio para produtores, agroindústrias e distribuidores de combustíveis.