Guerra no Oriente Médio encarece fertilizantes
Instabilidade global pressiona custos

O agronegócio catarinense enfrenta um novo cenário de instabilidade provocado por fatores externos e internos. A escalada do conflito entre Irã e Israel vem elevando os preços de fertilizantes nitrogenados, fundamentais para culturas como o milho. Além disso, cortes nos subsídios do Plano Safra 2024/2025 aumentam a preocupação dos produtores rurais com o futuro da produção agrícola no estado.
Segundo o presidente da Cooperativa Agropecuária Camponovense (Coocam), João Carlos Di Domenico, o Irã é um dos principais fornecedores globais de insumos nitrogenados. O agravamento do cenário geopolítico interfere diretamente na logística internacional. “A guerra gera transtornos no transporte marítimo e pressiona os preços. Já se paga até US$ 50 a mais por tonelada de Ureia comprada do Oriente Médio”, alerta Di Domenico.
O impacto é sentido especialmente no planejamento da próxima safra. Em Santa Catarina, o milho é semeado entre setembro e outubro, exigindo um volume elevado de nitrogênio para alcançar bons índices de produtividade. Com os custos em alta, muitos agricultores avaliam migrar parte da área de cultivo para a soja, que tem menor exigência de fertilizantes nitrogenados.
Essa possível mudança preocupa o setor. “Se o milho se tornar inviável financeiramente, o produtor tende a apostar na soja. Mas isso pode ampliar ainda mais o déficit estadual de milho, que já gira entre 5 e 6 milhões de toneladas. Santa Catarina não tem safrinha e depende do grão para abastecer as cadeias de suínos, aves e leite”, explica o dirigente da Coocam.
Outro desafio é a redução dos recursos para financiamento rural. O corte de quase 50% nos subsídios à equalização de juros no novo Plano Safra pegou o setor de surpresa. Para João Carlos, a constante mudança nas regras do jogo prejudica o planejamento no campo. “Faltam previsibilidade e políticas públicas de longo prazo. O produtor precisa de segurança para investir, e o governo precisa entender que a agricultura não pode parar”, pontua.
Mesmo diante das dificuldades, a esperança segue firme no campo. “O homem do agro é resiliente por natureza. Continuamos acreditando na força da terra e na capacidade de produzir com qualidade e responsabilidade ambiental. O otimismo é o combustível que nos move”, finaliza Di Domenico.