Crescimento agressivo derruba gigante de insumos
Esse cenário reflete um padrão já visto em outros setores

Acontecimentos como a recuperação judicial da Agrogalaxy expõem um alerta valioso para o setor de distribuição de insumos agrícolas no Brasil, segundo Renato Seraphim, especialista em agronegócio e professor. A aposta em crescimento agressivo via aquisições, sem integração eficiente e com endividamento elevado, acabou minando a sustentabilidade financeira da empresa, que acumulou dívida bruta ajustada de R\$ 2,2 bilhões em setembro de 2024 e passivo total de R\$ 4,67 bilhões, impactando fornecedores de peso como Mosaic e Rainbow.
Esse cenário reflete um padrão já visto em outros setores, como o varejo de supermercados, onde gigantes globais enfrentaram dificuldades ao ignorar a diversidade regional, abrindo espaço para redes locais sólidas. Hoje, no agro, redes regionais como Ouro Safra, Protec e Uniagro ganham força, enquanto grandes consolidadores enfrentam desafios de integração e governança.
“O caso da Agrogalaxy é particularmente relevante para mim, pois participei do início da construção desse gigante. Com base nessa experiência, posso afirmar que sua trajetória se tornou um exemplo claro e factível de como ambições de crescimento podem levar a rupturas e à perda de confiança no sistema”, comenta.
Além dos erros estratégicos, fatores macro como juros altos, crédito rural concentrado em grandes produtores, volatilidade das commodities e riscos climáticos agravam a vulnerabilidade financeira das distribuidoras. O descompasso entre capital de giro e ciclo agrícola, estoques mal geridos e logística precária completam a receita de fragilidade.
“Crescer agressivamente por M&A, sem uma boa integração, leva a ineficiências operacionais e anula os benefícios da escala. A busca por tamanho pode fazer a empresa perder agilidade e eficiência”, completa.
Para evitar novas rupturas, o setor precisa rever suas práticas: adotar políticas de crescimento mais cautelosas, melhorar a gestão operacional, diversificar fontes de financiamento e fortalecer o seguro agrícola. “Ao aprender com os desafios da consolidação, o setor de distribuição de insumos agrícolas no Brasil pode construir um futuro mais forte e sustentável”, conclui.