Conflito entre EUA e China reposiciona Brasil no comércio internacional
Especialistas alertam para o impacto direto da guerra comercial no crescimento global

O embate tarifário entre Estados Unidos e China segue remodelando as cadeias globais de suprimentos e redesenhando o mapa das oportunidades comerciais. A tensão entre as duas maiores economias do mundo cria tanto desafios quanto espaços estratégicos para países da América Latina, especialmente o Brasil. Essa foi uma das principais análises apresentadas no webinar promovido pela Coface Brasil nesta quarta-feira (26).
De acordo com informações divulgadas pela Coface, o evento contou com a participação da economista-chefe para a América Latina, Patricia Krause, e do chefe de estudos macroeconômicos, Bruno de Moura Fernandes. Os especialistas alertaram para o impacto direto da guerra comercial no crescimento global e destacaram o papel da região latino-americana em meio a essa reconfiguração geoeconômica. As projeções da Coface apontam que o PIB mundial crescerá 2,2% em 2025 e 2,3% em 2026 — números que refletem a desaceleração generalizada das economias, tanto desenvolvidas quanto emergentes.
Segundo Fernandes, a desaceleração da China se agrava diante de problemas internos, como o excesso de capacidade produtiva em setores estratégicos — automobilístico, alimentos, eletrônicos e farmacêutico — somado à queda no consumo e nos preços industriais. A resposta chinesa tem sido ampliar as exportações para além do eixo tradicional com os EUA, voltando-se a outras regiões, como a América Latina.
“A China precisa exportar a qualquer custo. Se perder ainda mais espaço nos EUA, a América Latina será um destino natural, tanto como fornecedora de commodities quanto como mercado consumidor de produtos manufaturados”, avaliou Fernandes. Ele alerta que essa movimentação pode pressionar ainda mais setores já sensíveis, como o siderúrgico, o têxtil e o de tecnologia.
A economista Patricia Krause destacou que a América Latina deverá crescer 2,1% em 2024, com perspectivas moderadas e desiguais entre os países. No caso do Brasil, a projeção de crescimento foi revisada para cima, ficando em 2,3% em 2025. Segundo ela, o desempenho da economia brasileira é impulsionado pelo agronegócio e pelo consumo doméstico, mas enfrenta riscos devido a um crédito mais restrito e juros elevados. “Países como o México, mais dependentes dos EUA, são mais vulneráveis. Já Brasil e Argentina podem ocupar nichos estratégicos, principalmente no agronegócio, frente à retração americana no mercado chinês”, ponderou.
Outro destaque do evento foi o avanço dos investimentos chineses na região. Krause citou dados do Global Development Policy Center que mostram o crescimento dos projetos greenfield na América Latina, que passaram de US$ 5,8 bilhões entre 2008 e 2011 para US$ 21 bilhões entre 2020 e 2023. A infraestrutura também ganhou relevância, com o exemplo do porto de Chancay, no Peru, que deverá facilitar e baratear o comércio com o continente asiático.
O estudo da Coface ressalta que, diante da instabilidade global, as empresas latino-americanas precisarão fortalecer sua capacidade de adaptação. “Diversificação de mercados e revisão das cadeias logísticas serão essenciais para manter a competitividade em um cenário de incertezas geopolíticas”, concluiu Krause.
Para mitigar riscos e garantir estabilidade financeira, a Coface reforça a importância do seguro de crédito. A ferramenta protege empresas contra inadimplência, oferecendo segurança para ampliar sua atuação comercial mesmo diante de um ambiente internacional volátil.