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Do sítio ao supermercado: o selo que valoriza a agricultura familiar com origem e tecnologia

Iniciativa do CAT Sorriso fortalece a agricultura familiar no médio-norte de MT



Foto: Divulgação

Quando começou a produzir mandioca, em três hectares, no sítio onde mora, em Boa Esperança do Norte (MT), a agricultora Joyce Ferreira acreditava no potencial da sua produção.  Esta convicção aumentou depois que ela e outros 16 pequenos produtores rurais da região médio-norte de Mato Grosso alcançaram o Selo de Identificação de Origem da Agricultura Familiar, uma iniciativa da Associação Clube Amigos da Terra - CAT Sorriso.

O selo que atesta as boas práticas agrícolas e a qualidade do produto vendido pela Joyce, tem pouco mais de 1 ano e já gerou muitos resultados. “Aumentou a renda da minha propriedade em 30%. Consegui novos mercados, expandindo as vendas para outros municípios, porque eles viram que têm garantia de procedência. Gerou reconhecimento!”, afirma a produtora rural, Joyce Ferreira.

Atualmente, a agricultora comercializa 1.200 kg de mandioca beneficiada por mês para supermercados, feiras e para a merenda escolar dos municípios de Boa Esperança do Norte e Santa Rita do Trivelato. O legume é entregue sem casca e congelado. Na embalagem, há o selo com um QR Code, que leva os consumidores para uma plataforma digital com informações sobre o produtor, detalhes e imagens da propriedade, métodos utilizados no plantio e cuidados aplicados na produção. “Mudou 100% a transparência dos meus produtos. Os clientes e parceiros fazem questão de escanear, saber a história por trás daquele alimento. Agregou valor ao nosso trabalho”, destaca Joyce.

A rastreabilidade também se tornou um diferencial para o melão cultivado e vendido pela produtora rural Elizane da Silva, de Sorriso (MT). Nas gôndolas dos supermercados da cidade, a fruta divide espaço com o melão colhido no nordeste do país. “O selo diferencia e agrega valor à produção local”, assegura Elizane.

O QR Code nas embalagens de hortifrutigranjeiros desperta tanto interesse que algumas propriedades já recebem visitas dos consumidores. “Na feira, a curiosidade deles é tão grande que pedem para visitar a chácara”, é o que conta a produtora rural Marilde de Olímpia Rossi Ferla, que tem cultivos no município de Vera (MT). Na chácara da família, é feito o plantio de cenoura, brócolis, beterraba, couve-flor, outras hortaliças e frutas. Toda essa variedade de alimentos ocupa uma área de 9 hectares da propriedade.

Selo valoriza produção com responsabilidade ambiental e rastreabilidade

O Selo de Identificação de Origem da Agricultura Familiar - no Coração de Mato Grosso é promovido pelo CAT Sorriso, por meio do projeto Cultivando Vida Sustentável, que tem o apoio da organização IDH e da empresa Cargill. A meta é atingir os 16 municípios da região médio-norte de Mato Grosso. Segundo o CAT, os produtores rurais que desejam conquistar o selo precisam atender a três critérios principais: gestão da propriedade, responsabilidade ambiental e boas práticas de produção.

Na gestão, é exigido que o agricultor tenha documentos como CAF (Cadastro Nacional da Agricultura Familiar) e CAR (Cadastro Ambiental Rural), além de manter um Caderno do Produtor, com registros detalhados de sua produção, como: custos, aplicações de insumos e capacidade produtiva.

Já a responsabilidade ambiental envolve ações como separação de resíduos, compostagem doméstica (com restos da cozinha) e compostagem em leiras, que transforma resíduos agrícolas em adubo reutilizável. “A primeira adaptação que exigiram na minha propriedade foi o lixo zero. Antes, por falta de conhecimento, nós descartávamos de forma irregular.  Hoje, eu agradeço ao CAT por esse incentivo e temos orgulho de fazer tudo certo”, comemora a agricultora Marilde Rossi Ferla.

Outra exigência para certificação são as boas práticas de produção, o uso responsável de agroquímicos, com controle do período de carência antes da comercialização. Para produtos de origem animal, é obrigatória a adesão a sistemas de inspeção (municipal, estadual ou federal), garantindo a segurança alimentar e a procedência dos alimentos.

“O selo assegura ao consumidor que o produto tem origem conhecida, qualidade garantida e foi produzido com responsabilidade”, afirma a assistente de projetos do CAT Sorriso, Andreia Sousa.

Tecnologia e inovação impulsionam a agricultura familiar

O grupo de 16 produtores rurais certificados, a partir da iniciativa e apoio do CAT Sorriso, deu um passo além do cultivo tradicional. Com foco em produtividade, sustentabilidade e acesso a novos mercados, os agricultores estão investindo em novas tecnologias de produção e comercialização.

Em Vera, a produtora Elizandra Vedovato Han transformou a propriedade da família com irrigação por microaspersão, uso de energia solar, adubação foliar orgânica e clonagem genética de mudas de mamão hermafrodita. “Buscamos mudas certificadas em laboratório, com alto potencial produtivo e uniformidade. É inovação no campo e no mercado”, conta Elizandra.

Em Sorriso, no assentamento Jonas Pinheiro, Adeni Becker mantém uma produção diversificada de hortaliças, com destaque para a alface hidropônica. A técnica garante colheita em apenas 35 dias e produção constante de mil pés da hortaliça por mês, destinados à merenda escolar, feiras e projetos sociais. “O selo nos ensinou a usar insumos com responsabilidade, respeitar o tempo de carência e melhorar nossos processos”, afirma Adeni.

No município de Boa Esperança do Norte, Joyce Ferreira aplicou pesquisa e genética no plantio de mandioca, com base em estudos da Embrapa. “Fomos atrás de ramas mais produtivas, com boa aceitação no mercado”, explica. A propriedade também adotou composteiras estáticas para transformar resíduos em biofertilizante, gerando autonomia e sustentabilidade.

Em Sorriso, Elizane da Silva cultiva pimentão em estufas com fertirrigação automatizada. “A tecnologia controla com precisão o horário e a quantidade de água liberada”, explica. No cultivo de melão, Elizane utiliza o mulching, técnica que cobre os canteiros com material plástico para preservar a umidade e controlar ervas daninhas. A produção também tem abelhas para polinização natural. “As abelhas ajudam no aumento de 30% da produtividade do melão”, explica.  Recentemente, a produtora ampliou a área com o plantio de 40 mil pés de abacaxi em sistema semi-intensivo.

“As agricultoras dessa região do médio-norte mato-grossense mostram que a agricultura familiar é moderna, sustentável e eficiente”, garante a coordenadora do CAT, Cristina Delicato.

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