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Aproveitamento multiuso do resíduo do sisal: uma experiência que está dando certo

Aproveitamento multiuso do resíduo do sisal: uma experiência que está dando certo



O sisal (Agave Sisalana Perrine) é uma planta originária do México e largamente cultivada em microrregiões do Estado da Bahia, principalmente pelas condições edafo-climáticas bastante adversas de algumas dessas regiões, destacando-se o semi-árido baiano. Suas folhas possuem fibras que, após processadas e beneficiadas, podem ser utilizadas para fins industriais e artesanais. Apesar da principal utilização da fibra do sisal destinar-se à fabricação de fios agrícolas, novos usos vêm sendo propostos, principalmente nas indústrias automobilísticas, na construção civil e na fabricação de geotecidos para utilização em proteção de encostas, na agricultura e revestimento de estradas, entre muitos outros. A atividade sisaleira gera muitos empregos em todas as etapas, desde a implantação, no manejo do cultivo até a colheita e o processamento das fibras.

Da planta do sisal, no entanto, apesar dessa multiplicidade de usos, apenas as folhas são exploradas, restando após a extração de todas, o bulbo central, chamado pelos agricultores de “sapata”, assim como a “seta”, que na realidade é o pedúnculo floral. Esse resíduo fica abandonado na campo de cultivo até ser retirado para novos plantios e queimado, sem sequer ser incorporado ao solo.

Dentro de um projeto que vem sendo desenvolvido pela Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical no Território do Sisal, mais especificamente na Comunidade de Boa Fé, município de São Domingos, uma nova proposta vem sendo executada considerando um uso para esse resíduo. Essa proposta passou inicialmente por uma fase de sensibilização para que os membros da comunidade se conscientizassem quanto à possibilidade do aproveitamento desse material, que até então, para eles, era visto como algo sem nenhuma utilidade. A idéia era o aproveitamento desses materiais como componentes de paisagismo ou utensílios de jardinagem, como cachepôs, vasos, fibra para substrato agrícola, assim como suportes para orquídeas, bromélias e as fruteiras ornamentais, contempladas no mencionado projeto. Assim, deu-se início aos cursos de capacitação de membros da comunidade com a finalidade de demonstrar que, por meio de um processamento mínimo, era possível transformar resíduos em objetos de uma beleza rústica e de alto valor agregado.

Os trabalhos começaram pelo processamento do bulbo que pode ser utilizado para a confecção de cachepôs pequenos, extração de fibra para substrato e cobertura morta. Os cachepôs são feitos a partir do corte do bulbo em um tamanho que comporte a altura de um vaso (normalmente podem ser para as numerações 1, 2 e 3). Em seguida, retira-se a fibra que se encontra dentro, lixa-se seu interior e passa cola branca para que as sapatas das folhas não se soltem. Com pequenas escovas deve-se limpar toda a superfície externa, principalmente as reentrâncias que costumam estar cheias de terra e outros resíduos. A etapa seguinte é a passagem de uma cera na parte externa, usando-se um pincel e o encordoamento para a finalização do produto. O encordoamento é feito com fios de sisal que podem ser tingidos com ervas locais e sementes da região, dando assim um acabamento rústico e artesanal, além de extremamente original.

Por outro lado, a fibra que foi retirada de dentro tem grande potencial para ser usada como substrato de plantas, principalmente orquídeas e bromélias, substituindo tanto o pó de xaxim (proibido pelo desgaste ambiental a que foram submetidas as samambaias) como a fibra de coco, comercializada atualmente com essa finalidade. A fibra deve ser separada manualmente, evitando grandes aglomerados, e seca ao sol antes de ser empacotada, evitando-se dessa forma, o crescimento de fungos. Esse material já vem sendo testado na Biofábrica da Campo Biotecnologia Ltda., para a aclimatização de plantas micropropagadas. Vale ressaltar que essa biofábrica compra fibra de coco vinda do Estado de Sergipe.

Quando o bulbo já se encontra num estado difícil de aproveitamento para a confecção de cachepôs, realiza-se um procedimento de desmanche, ou seja, soltam-se os “gomos”, que na realidade são a base das folhas que foram cortadas, criando dessa forma uma cobertura morta, como as cascas de pinho, muito usadas em jardinagem, tanto com função estética, como para retenção de umidade, dentre outras. A cobertura feita com esses “gomos” soltos do bulbo do sisal possuem uma durabilidade muito superior a qualquer cobertura encontrada no mercado atualmente. Estão sendo realizadas avaliações para se determinar as principais propriedades físicas e químicas dessa cobertura, o que deve gerar subsídios técnicos para sua utilização.

Finalmente, o pedúnculo da flor do sisal, conhecido pela população local como “seta” ou “flecha” do sisal, está sendo utilizado também para a confecção de cachepôs de diversos tamanhos e formatos, possibilitando a criação de vários modelos, visto que é o resultado de uma marcenaria simples. Esses cachepôs, ao contrário dos que são feitos com o bulbo, podem ser do tamanho que se desejar e permitem um encordoamento mais trabalhado. Como podem ser de tamanho grande, são bastante indicados para uso em interiores com plantas de porte médio a grande.

Uma das utilizações mais interessantes do resíduo do sisal é o uso do segmento, que é, na realidade, a intercessão entre o bulbo e o pedúnculo da flor, visto que possui um formato bastante especial e que se mostrou apropriado para o cultivo de algumas orquídeas e bromélias epífitas. O formato bastante original, bem como as reentrâncias que permitem a fixação desse tipo de planta com efeitos muito ornamentais, tem encantado os consumidores.

Uma avaliação preliminar realizada em algumas floriculturas mostrou o enorme potencial desses materiais nesse mercado tão exigente de novidades.

Durante a execução do projeto foi possível acompanhar as mudanças no comportamento da comunidade em relação ao trabalho e à proposta inicial. O grupo tem-se mostrado bastante estimulado a usar sua criatividade na exploração desses materiais, tanto que homens e mulheres da comunidade se juntaram para dar conta desse desafio.

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