A pinta preta, também conhecida em algumas regiões como varíola do mamoeiro, é uma doença muito comum tanto em pomares comerciais como em pomares domésticos. Constitui-se, hoje, na doença fúngica mais importante da cultura, pela depreciação do aspecto comercial da fruta e pela exigência de muitas aplicações de pesticidas para o seu controle, na maioria das vezes obedecendo um programa de aplicações com recomendação para cada período do ano. O fruto manchado não é comercializado para o mercado externo ou para o mercado interno mais exigente e, quando comercializado para o consumidor menos exigente, sofre grande desvalorização comercial.
AGENTE CAUSAL E HOSPEDEIROS
O agente causal da doença é o fungo anamórfico Asperisporium caricae, cuja fase perfeita é Mycosphaerella caricae, que ataca especificamente espécies do gênero Carica.
SINTOMAS
Os primeiros sintomas são observados na parte inferior das folhas mais velhas. Aí o fungo desenvolve frutificações pulverulentas que formam manchas pequenas, escuras, geralmente menores do que 4mm de diâmetro, circulares, ligeiramente angulosas, de coloração escura. Na parte superior correspondendo a esta lesão formam-se lesões semelhantes de coloração pardo-clara envolvidas por uma pequena depressão e halo amarelo. Com o progresso da doença várias lesões se juntam, amarelecendo a folha e formando, em seguida, extensas áreas necrosadas. As folhas são afetadas de maneira ascendente sendo que, em épocas em que as condições de clima são propícias, o desenvolvimento da doença é acelerado e até as folhas mais superiores são afetadas.
Os primeiros sintomas nos frutos verificam-se quando estes ainda estão verdes, na forma de manchas circulares, circundadas por um encharcamento e pequenas pontuações ainda marrons. O tamanho das manchas acompanham o desenvolvimento dos frutos, tornam-se então pretas, salientes, ásperas ao tato, limitando-se à camada superficial do fruto.
EPIDEMIOLOGIA
Existem poucos estudos sobre a relação patógeno/hospedeiro/ambiente. As manchas responsáveis pela maior liberação de esporos situam-se na face inferior da folha, têm coloração cinza-clara no centro, cercada por linhas concêntricas, de margens marrom-escuras ou pretas. Um estroma subepidérmico projeta-se através da sua epiderme liberando para o exterior conidióforos em cujos ápices se formam conídios escuros, rugosos com duas células que vão contaminar as folhas superiores e os frutos, mais próximos dela.
Sob condições de umidade relativa acima de 80%, temperaturas alternando-se entre alta durante o dia e amena durante a noite, com formação de nevoeiro pela manhã, pluviosidade e ventos fortes, acontece a dispersão para as folhas mais novas e para os frutos ainda verdes, que são colonizados e, cerca de 15 dias após, começam a aparecer as novas lesões. A maior dispersão de esporos fruto a fruto observa-se a partir da erupção dos estromas que vão aparecer plenamente no início da sua maturação.
MONITORAMENTO E CONTROLE DA PINTA PRETA
O controle da pinta preta representa os maiores gastos com aplicações de fungicidas na cultura do mamoeiro, sendo necessárias, em certas regiões, até oito pulverizações/ano. Para diminuir o número destas aplicações, deve-se proceder um monitoramento, mesmo em pomares recém-instalados, acompanhando de 10 em 10 dias o progresso da doença. Inicialmente o responsável pelo monitoramento deve procurar nas folhas ou nos frutos lesões novas, que ainda estão com a coloração marrom, uma vez que os estromas, que são subepidérmicos, ainda não romperam os tecidos da folha para formar as lesões pretas ou acinzentadas, responsáveis pela liberação dos esporos. Este tipo de lesão como indicativo do momento de controle é mais importante para os frutos pois, com o controle neste tipo de pinta, elas cicatrizam em tamanhos mínimos, na maioria das vezes imperceptíveis, além de impedir o progresso da doença para os demais frutos ainda sadios.
PROCEDIMENTOS PARA O MONITORAMENTO
O responsável pelo monitoramento visita três plantas por hectare, em talhões de 10 hectares, escolhendo-as aleatoriamente, saindo de um extremo ao outro do talhão e voltando no sentido inverso, procurando fazer um ziguezague. Em pomares com até 5 hectares ou menos, monitorar 15 plantas escolhidas aleatoriamente. O registro da ocorrência da pinta preta é feito em uma ficha de campo, para posteriores cálculos da incidência. Para o monitoramento da doença, deve-se considerar diferentemente plantas com e sem frutos. No caso de plantas sem frutos, escolher a primeira folha verde a partir da base da planta, anotando no quadro correspondente à planta inspecionada: (0) para folha sem lesão, (1) para folha com até 5 lesões, (2) para folha com mais de 5 lesões, limitadas a 20 e (3) para folhas com mais de 20 lesões ou áreas coalescidas.
No final do monitoramento, caso o resultado obtido indique tomada decisão de controle, proceder a pulverização até três dias após. Na avaliação seguinte, visar a presença de pintas na nona folha, a partir da última ainda verde, de baixo para cima, visto que mesmo controlando o fungo as pintas permanecem na folha inspecionada anteriormente e não haveria diferença quanto ao número de pintas no próximo monitoramento. No caso de plantas com frutos, contar todos os frutos da planta e todos os frutos com até uma pinta. Marcar (0) caso não encontre fruto manchado, ou o percentual de frutos atacados, em função do número total de frutos por planta. Somam-se os percentuais encontrados e divide-se por 30, número de plantas avaliadas.
A tomada de decisão para controle da pinta preta em folhas acontecerá quando o cálculo do índice da doença atingir 0,5, obtido pela média ponderada das notas, conforme a fórmula abaixo:
ID = (n.0+n.1+n.2+n.3) / número de plantas avaliadas x número de notas na escala
No caso dos frutos, recomendar o controle quando a incidência alcançar o nível de 5,0% de presença, ou menos, levando-se em consideração as condições de clima.
Em caso do monitoramento se iniciar em pomares com folhas já apresentando acima de vinte pintas, estas folhas devem ser retiradas e destruídas no local, não devendo serem arrastadas pelo pomar, evitando-se a dispersão de esporos e, a partir de então, considerar como a primeira folha a última verde, de baixo para cima e com menos de 20 lesões. Em caso de muitas folhas com este nível, arrancar apenas as folhas que estejam abaixo da coluna de frutos.
Os fungicidas registrados para a cultura do mamoeiro e com maior eficiência no controle da pinta preta são aqueles à base de difeconazole (triazol), pyraclostrobin (estrobirulina) e Thiophanate-metyl (benzimidazol).