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Sigatoka Negra: a principal doença da cultura da banana

Responsável por aumento de custos de produção e intensas aplicações de fungicidas a sigatoka negra é a mais agressiva doença que ataca a cultura da banana



Sigatoka Negra: a principal doença da cultura da banana

Entre as doenças foliares mais importantes da bananeira destacam-se a sigatoka amarela, tendo com seu agente causal o fungo "Mycosphaerella musicola" forma perfeita de "Pseudocercospora musae", e a sigatoka negra (Mycosphaerella fijiensis Morelet) e sua forma perfeita "Paracercospora fijiensis". A sigatoka negra, tanto por sua agressividade em diferentes cultivares como pelos curtos períodos de incubação e rapidez na disseminação dos esporos, atualmente é a mais séria e destrutiva doença da bananeira em todas as áreas produtoras do mundo onde ela está presente. O nome da doença advém da presença de manchas de coloração negra na superfície superior da folha que coalescem rapidamente exibindo uma queima generalizada de todo limbo foliar, reduzindo os tecidos fotossintetizantes e conseqüentemente a produção. Frutos de plantas severamente atacadas amadurecem precocemente na planta ou não completam seu desenvolvimento. Devido sua maior agressividade, pode substituir a Sigatoka amarela num período de seis meses a quatro anos, caso não sejam adotadas as medidas necessárias para a redução de inóculo e tratamentos fitossanitários.

No Brasil, foi descrita pela primeira vez em 1998, no Estado do Amazonas, provavelmente introduzida pela fronteira com a Colômbia e o Peru, através dos municípios de Tabatinga e Benjamin Constant, e atualmente disseminada para todos os Estados da Região Norte. Em 2004, a doença foi constatada no Estado de São Paulo e, posteriormente nos Estados de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, sul de Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Além de afetar a família das Musáceas, em 2003, foram observados em Manaus (AM), sintomas semelhantes aos de sigatoka negra, em "Heliconia psittacorum", família Heliconiacea e muito cultivada pela be-leza e durabilidade de suas inflorescências, entretanto, devido à intensa comercialização entre estados, pode colaborar na disseminação da doença para regiões indenes.

O PROCESSO DE INFECÇÃO

O ciclo de desenvolvimento da Sigatoka negra, inclui as duas fases reprodutivas do fungo, uma assexuada (conídios ou esporos) e outra sexuada (ascósporos). Quando existem condições propícias ao desenvolvimento, como variedade suscetível, temperaturas elevadas e molhamento foliar, a infecção se estabelece com a chegada dos esporos na superfície da folha vela (charuto), que germinam e penetram pelos estômatos. Com o desenrolamento lento e gradual, a folha vela expõe, primeiramente, a superfície inferior direita da folha aos ascósporos suspensos no ar e que foram disseminados pelo vento, a infecção se estabelece e dá início ao processo de colonização. Nessa fase, ocorre a morte de células em torno dos estômatos e começa a exibição dos primeiros sintomas característicos da doença, como despigmentação ou descoloração e necrose das células, apresentando uma cor marromcafé, na superfície inferior da folha.

DISSEMINAÇÃO

A disseminação do fungo é influenciada por fatores ambientais tais como: umidade, luminosidade, temperatura e vento, sendo que o vento e a umidade na forma de chuva são os principais responsáveis pela liberação dos esporos e disseminação da doença. Todavia, o costume de utilizar folhas nas caixas ou embalagens para prevenir ferimentos, uso de caixas contaminadas e mudas infectadas provenientes de locais de ocorrência da doença, contribuem para a dispersão dos esporos do fungo a longas distâncias, atingindo áreas livres da doença. Como a principal fonte de inóculo do fungo são as folhas velhas de plantas severamente atacadas de bananais abandonados ou não-tratados, estas devem ser erradicadas ou sofrerem tratamentos de desfolhas. Além de mudas contaminadas e folhas colocadas entre os cachos, frutos, vestuário, pneus, caixas de madeira, papelão, plástico e ferro, são também importantes meios de disseminação da doença, onde os esporos do fungo permanecem viáveis por longos períodos.

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico em campo, por meio da sintomatologia necessita de grande experiência e conhecimento do técnico responsável em diferenciar os sintomas produzidos pela Sigatoka amarela e negra e também de outras doenças como o Vírus da Estria da Bananeira (BSV – Banana streak virus), e a mancha de cordana. Na região do Vale do Ribeira, em São Paulo ainda observa-se a presença tanto da Sigatoka amarela quanto da Sigatoka negra em uma mesma planta ou mesma área produtora. No entanto, faz-se necessário, a complementação com outras técnicas, como observação dos esporos ao microscópio ótico e também técnicas moleculares, como PCR, atualmente utilizada pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento de Sanidade Vegetal do Instituto Biológico para as análises de diagnóstico em amostras provenientes dos Estados produtores que pleiteiam junto ao Ministério da Agricultura a inclusão de seus Estados como Área Livre de Sigatoka Negra.

SINTOMAS

A evolução dos sintomas da doença é descrita em seis fases ou estádios de desenvolvimento da doença:

1) Estádio I – marcas de despigmentação que evoluem para um ponto circular diminuto de cor marrom-café, observado apenas na margem inferior direita da primeira ousegunda folha a partir da folha vela;

2) Estádio II – os pontos se unem formando traços de cor marrom-café, limitados entre as nervuras;

3) Estádio III – os traços se unem formando estrias mais espessas de cor marrom-café que ultrapassam as nervuras paralelas;

4) Estádio IV – as estrias transformam-se em manchas de cor marrom-escuro e, destas, para negra com formato elíptico e bordas irregulares, visualizadas na superfície superior da folha;

5) Estádio V – as manchas negras apresentam halos cloróticos e centros levemente deprimidos;

6) Estádio VI – as manchas apresentam centros necrosados e secos, fortemente deprimidos, de cor variando de esbranquiçada a cinzaclaro, circundadas por bordas marrom-escuras a pretas.

Os estádios iniciais I e II são visualizados inicialmente na extremidade inferior esquerda da primeira e segunda folhas, apenas com auxílio de lentes com aumento de 10 a 20 vezes. Somente a partir do estádio III, que é possível a visualização dos sintomas (estrias) a olho nu, na superfície inferior da terceira ou quarta folha. Em casos mais severos da doença, verifica-se um rápido coalescimento das manchas negras (estádio IV), impossibilitando o aparecimento do halo clorótico, característico do estádio V. No estádio VI, é possível observar a presença de numerosos pontos pretos (peritécios) que correspondem às estruturas reprodutivas do fungo (fase sexuada ou perfeita). Esse é considerado o estádio final da doença, onde se observa o coalescimento de todas as lesões, caracterizando uma queima generalizada das partes afetadas.

MEDIDAS DE CONTROLE

• Eliminação de bananais abandonados;

• Desfolha fitossanitária, corte e cirurgia de folhas atacadas

• Cultivares como FHIA 01, FHIA 02, FHIA 18, FHIA 21, Thap Maeo, Prata Zulu, Preciosa, Prata Ken, Caipira, BRS Prata Caprichosa, BRS Prta Garantida, entre outras, são mais tolerantes à doença e podem ser indicadas para produtores que utilizam a agricultura orgânica;

• Drenagem dos solos encharcados;

• Adubação equilibrada seguindo as recomendações de análise de solo e foliar;

• Monitoramento da doença, para determinar a melhor época de controle;

• Controle químico com produtos sistêmicos e protetores registrados. Nesse caso, recomendam-se aplicações de fungicidas sistêmicos (curativos) do grupo químico dos triazóis e estribirulinas em misturas com água e óleo mineral (25 a 50%), para o período chuvoso com altas temperaturas, observando a alternância de produtos sistêmicos e protetores, para o período onde as temperaturas médias mínimas forem inferiores a 20ºC e menos chuvoso. O intervalo de aplicação e o número de pulverizações de fungicidas devem ser determinados com base no monitoramento semanal da doença, utilizando-se o método de estado da evolução da doença, que avalia a evolução semanal da severidade da doença com base na evolução dos estádios de desenvolvimento dos sintomas e no ritmo de emissão foliar.

O Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas (FRAC), recomenda algumas ações para a redução dos riscos de aparecer populações de fungos resistentes e prolongar a vida útil dos fungicidas em programas de controle da Sigatoka Negra, entre as quais:

- a alternância de produtos na sua forma de ação;

- misturas de fungicidas sistêmicos ou de contato (principalmente os benzimidazóis);

- não fazer mais de duas aplicações do mesmo fungicida sistêmico;

- não realizar mais de duas aplicações de benzimidazóis ao ano;

- não aplicar sub-dosagens de fungicidas sistêmicos;

- ao misturar fungicidas sistêmicos, usar pelo menos ¾ partes para os triazóis e a dose completa para os benzimidazóis e estabelecer um período livre de aplicações de fungicidas sistêmicos.

Autores: Jociane takassaki Ferrari e Eduardo Monteiro de Nogueira - Instituto Biológico.

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