Tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários
A transformação que a agricultura sofreu nestas últimas décadas impressiona. Não somente pelo número total da safra de grãos que praticamente dobrou em uma mesma área, mas também pela tecnologia, pelo conhecimento agregado e pelas técnicas conservacionistas que revolucionaram os conceitos e as práticas de manejo e uso dos solos em quase todas as regiões produtoras brasileiras.
Impressionante ainda, é o fato do plantio direto ser algo quase que inesgotável em termos de demandas técnicas. Alimentado pelo conhecimento cada vez mais aprofundado de pesquisadores, técnicos e produtores, acaba, por sua vez, gerando novos focos para a pesquisa, principalmente nas regiões onde já se consolidou como algo irreversível e permanente e o que nos resta, é o aprofundamento técnico.
Com o Sistema Plantio direto consolidado e seus benefícios à mostra, devemos nos ater a qualificação dos processos que envolvem a arte de produzir na palha com eficiência, sejam estes, processos de semeadura, adubação ou a aplicação de produtos fitossanitários, sendo este último, motivo deste artigo.
Nos últimos anos acompanha-se a evolução da tecnologia que possibilitou o uso de GPS (Globe Positioning System), que revolucionou a qualidade dos bicos com a formação de gotas maiores e uniformes e dos equipamentos com maior capacidade de área pulverizada, cabines fechadas com ar condicionado e controle computadorizado da pulverização.
Ao mesmo tempo estão sendo e foram lançados novos produtos químicos com necessidade de conhecimento diferenciado para se obter melhor eficiência técnica na lavoura.
A insatisfação de agricultores com os métodos convencionais de aplicação, resultou no desenvolvimento de equipamentos de arrasto na superfície do solo ou das plantas com bicos acoplados em cabo de aço com até 100 m de comprimento. Sendo este, um equipamento que reduz o amassamento pelas rodas do trator, aumenta a cobertura de folhas da parte inferior das plantas e aumenta o rendimento de área de pulverização. Utilizado em dessecações, nas culturas de inverno e em soja. Tem restrição de uso para culturas com baixa população de plantas como o milho, o girassol e o feijão, que podem sofrer danos pelo efeito do contato com o cabo de aço.
A tecnologia de aplicação nas lavouras continua sendo o ponto de estrangulamento para a melhor eficácia e retorno econômico. Os problemas iniciam com a qualidade da água, a seqüência de mistura e seguem com a diluição de produtos no tanque e a deposição efetiva no alvo desejado.
A mistura de produtos deve obedecer à recomendação indicada no rótulo da embalagem. Os produtos devem ser adicionados isoladamente no tanque de pulverização com a bomba acionada e a agitação constante da calda. No caso de aplicar mais de um produto no mesmo tanque, deve-se adicionar primeiro um dos produtos e depois da mistura adequada no tanque, em seguida, adicionar o segundo produto e assim, sucessivamente.
Os métodos tradicionais de medição de vazão com copos ou sacos de plástico graduados resultam em erros, que iniciam com a imprecisão das escalas e seguem com a variação na velocidade de deslocamento na lavoura. Poucas vezes os aplicadores de produtos na lavoura tem capacidade de elaborar cálculos matemáticos e determinar a vazão real de calda dos pulverizadores.
Com relação ao uso de GPS, a cobertura efetiva das faixas de aplicação é uma evolução muito importante para se evitar a sobreposição de produtos e as faixas sem aplicação.
O tráfego de tratores para a pulverização pode ser marcado na semeadura da cultura com o espaçamento diferenciado onde deve passar o equipamento de aplicação. Agricultores também adotam passar o trator antecipadamente para marcar as passagens do pulverizador. Com isso, diminui o amassamento e não há erro na faixa de aplicação dos produtos fitossanitários.
É possível definir o volume de calda utilizado na pulverização pelo tamanho da gota produzida pelos bicos de pulverização. Ou seja, o diâmetro médio volumétrico (DMV) e a sua densidade por unidade de área. Alguns agricultores ainda acreditam, erroneamente, que aumentar o volume de água (100 a 200 l/ha) e aumentar a pressão sobre o líquido até a formação de gotas pequenas (névoa) resulta em melhor eficácia ou melhor distribuição de produtos fitossanitários.
Salienta-se que gotas de tamanho pequeno resultam na formação de nevoa e dão a falsa impressão visual de que o produto está cobrindo totalmente as plantas. Essa névoa é formada por gotas muito pequenas (< 50 micrômetros), que evaporam rapidamente, ou são arrastadas pelo vento, muitas vezes não atingindo o alvo. A formação de névoa é sinônimo de perda de produto por evaporação, de deriva e de repelência pela carga elétrica igual à da folha de plantas.
Para a formação de gotas de tamanho maior e que, efetivamente, atinjam o alvo biológico é fundamental usar baixa pressão (15 lb/pol) e bicos de baixa vazão (50 l/ha).
Nas aplicações com orvalho nas plantas, os cuidados quanto à vazão e escorrimento foliar devem ser maiores, por que a folha já está no ponto de molhamento. Nesse caso, a adição de espalhantes siliconados pode ser importante para melhorar a distribuição dos produtos. Durante o dia, com temperaturas elevadas e umidade relativa do ar baixa, a adição de óleos pode ser desejável para diminuir as perdas por evaporação.
O tamanho pequeno de gotas é um dos fatores críticos que determinam a perda de produtos fitossanitários na lavoura por evaporação na distância percorrida entre a saída da gota da ponteira até a superfície da folha da planta ou do alvo biológico.
A temperatura elevada da superfície de solo nu, a variação das temperaturas de solo com palha e da massa do ar combinado com a variação nos teores de umidade relativa do ar, em diferentes momentos do dia determinam os riscos de perda de gotas por evaporação. A compreensão desses fenômenos é fundamental para a eficiência na deposição de gotas e no mecanismo de ação de produtos fitossanitários.
As gotas com diâmetro de 100 micrômetros, consideradas pequenas e próximas da formação de névoa percorrem distância aproximada de 2 m até a evaporação nas horas de maior umidade relativa do ar e de menor temperatura. Essas gotas percorrem distância de queda inferior a 0,4 m a partir das 10 h e até as 22 h, sendo perdidas no objetivo de proteger as plantas.
As gotas com diâmetro de 200 micrômetros percorrem distâncias superiores a 2,6 m, mesmo nos momentos de déficit de saturação mais intensos do dia.
Outro aspecto importante é a carga elétrica das gotas na influência de deposição dos produtos. Em geral, a superfície da folha das plantas apresenta carga elétrica negativa e a gota de água também. Portanto, a mudança da carga elétrica da água é desejável para facilitar e garantir a adesão da calda na superfície da planta. Nesse ponto, persistem algumas limitações práticas na tecnologia de mudança de carga elétrica da gota como a pequena distância efetiva de atração da gota pela folha, o tempo de persistência de carga positiva nas gotas desde a saída da ponteira até o alvo e a concentração de produtos nas folhas superiores das plantas.
A aplicação aérea de produtos fitossanitários pode ser mais uma alternativa a disposição do produtor, sendo esta uma área que demanda mais informações.
A qualificação e a profissionalização de assessores técnicos e de operários aplicadores de produtos fitossanitários foi um dos assuntos mais destacados do evento. Há necessidade da publicação de material didático e de criação de cursos para os diferentes níveis de formação profissional.
O custo elevado e a falta de equipamentos de medição de elementos climáticos (temperatura, umidade, velocidade do vento e déficit de saturação), copos e mesas para determinação de vazão é outro fator que limita a aplicação prática do conhecimento disponível sobre melhor eficiência na tecnologia de aplicação de produtos fitossanitários.
As indicações para a melhor eficiência na pulverização são de gotas de tamanho maior (> 200 micrômetros), volume de água menor (50 a 100 l/ha) nas pulverizações com equipamento de barra terrestre, baixa pressão no fluxo da calda (15 lb/polegada), barra mais próxima das plantas e bicos (ponteiras) do tipo leque com formação de gotas maiores e de tamanho uniforme.
Na qualificação de recursos humanos, verificou-se que não houve evolução significativa na compreensão dos aspectos relacionados com a deposição de gotas, com a distribuição efetiva na superfície da planta ou no alvo desejado e com a influência de elementos climáticos sobre a eficácia de produtos fitossanitários.
Autores:
Dirceu N. Gassen - Eng. Agrônomo - Gerente Técnico da Cooplantio.
Leonardo Dian Borges -Eng. Agrônomo. Revista Plantio Direto.