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Controle (manejo integrado) da cigarrinha do milho (Dalbulus maidis)

Leia sobre o manejo integrado da cigarrinha-do-milho, transmissora das doenças enfezamento pálido, enfezamento vermelho e risca do milho.


Foto: Agrolink

A cigarrinha-do-milho (Dalbulus maidis) é uma praga sugadora, que se alimenta da seiva do milho, mede entre 3mm e 4mm quando adulto, possuindo coloração branco-palha ou acinzentada, com duas manchas pretas na cabeça, similares a olhos escuros. As ninfas são de cor amarelo-pálida, e os ovos são depositados na nervura central, dentro do tecido vegetal.

As fêmeas são maiores que os machos geralmente, e podem depositar cerca de 14 ovos por dia, e 611 ovos durante todo o ciclo de vida. Logo, durante uma safra de milho, a população pode aumentar devido às várias gerações.

Trata-se de uma das principais pragas do milho, e a sua população vem aumentando nos últimos anos em diversas regiões do país. A praga transmite as bactérias mollicutes causadores de doenças Spiroplasma kunkelli, causadora do enfezamento pálido, e Phytoplasma asteris, causadora do enfezamento vermelho, além do vírus Maize rayado fino vírus, causador da Risca do milho. Tais doenças podem resultar em grandes perdas de produtividade na cultura, conforme veremos abaixo. Variedades de milho doce e pipoca são mais sensíveis aos enfezamentos.

Os fatores que favorecem a cigarrinha do milho são as temperaturas mais elevadas (acima de 27ºC durante o dia e acima de 17ºC durante a noite) junto com umidade, e genótipos de milho mais adequados para a multiplicação da praga. O plantio de mais de uma safra de milho acentua o problema. Além disso, o plantio de diversas lavouras com diferentes idades favorece a multiplicação e migração das cigarrinhas de lavouras mais velhas para lavouras mais novas, com plântulas nos estádios iniciais de desenvolvimento.

No milho tiguera, plantas voluntárias que emergem de grãos caídos no solo (durante a colheita, transporte ou acamamento das plantas), a população de cigarrinha e inóculo dos patógenos é mais frequente. Já na ausência do milho, a cigarrinha pode migrar por longas distâncias ou fazer diapausa em restos culturais de milho ou em plantas voluntárias.

A risca do milho, causada pelo Maize rayado fino virus, causa a formação de pequenos pontos e estrias cloróticos nas nervuras das folhas, podendo coalescer com o progresso da doença, causando menor desenvolvimento e porte da planta. Quando ocorre infecção precoce do vírus, pode ocorrer redução de crescimento e abortamento das gemas florais. Sobre o enfezamento, veremos abaixo.

 

Enfezamento no milho

Os enfezamentos no milho podem causar bastante prejuízo na cultura, reduzindo a produtividade, podendo chegar a 100% de perda. São doenças sistêmicas e vasculares, e a transmissão ocorre quando a cigarrinha se alimenta de uma planta contaminada, ocorrendo a multiplicação do patógeno no corpo do inseto, podendo transmitir para plantas sadias a partir de 3 a 4 semanas depois do contágio. Um único inseto pode contaminar diversas plantas.

As plantas com enfezamento têm o seu crescimento e desenvolvimento reduzidos, entrenós curtos, má formação de espigas, espigas improdutivas, colmos enfraquecidos, favorecimento de doenças fúngicas, folhas amareladas / avermelhadas, estrias cloróticas nas folhas e perfilhamento.

O enfezamento pálido causa estrias cloróticas delimitadas que se iniciam na base das folhas, provocando lesões. A diferença para o enfezamento vermelho, é que o enfezamento pálido tem o sintoma inicial caracterizado pela clorose mais acentuada na base foliar.

O enfezamento vermelho tem os primeiros sintomas caracterizados por uma clorose marginal das folhas do cartucho, ocorrendo posteriormente o avermelhamento das pontas das folhas inferiores. As folhas seguintes possuem diferentes graus de clorose marginal, avermelhamento e diminuição do tamanho. Geralmente ocorre a diminuição do comprimento dos internódios, e pode ocorrer um maior número de espigas, geralmente sem grãos.


Planta de milho com sintomas do enfezamento pálido (esquerda) e enfezamento vermelho (direita). Imagem: Embrapa

 

Monitoramento e controle da cigarrinha-do-milho

Pode-se monitorar visualmente a presença da cigarrinha no milho inspecionando o cartucho das plantas, inspecionando 100 plantas em um talhão, caminhando em zigue-zague. Deve-se dar atenção especial às plantas nas bordas do cultivo ou próximas de matas / cultivos de plantas que servem de alojamento às cigarrinhas, como o sorgo, trigo ou brachiaria.

 

Plantio do milho

Como medida de controle, pode-se também sincronizar a semeadura do milho e não realizar plantio subsequente, de forma a evitar a coexistência de plantas de milho em diferentes estágios. Recomenda-se também evitar a semeadura próxima a plantios muito atacados pela praga, realizar a rotação de culturas, visto que a cigarrinha ataca poucas espécies de plantas, e eliminar tigueras (plantas voluntárias de milho que ficam na lavoura o ano todo), conforme veremos abaixo.

O pousio é uma opção em áreas com alta incidência dessas doenças, bem como evitar o plantio tardio. Outra alternativa é o uso de variedades resistentes de milho. A resistência pode ser ao patógeno ou ao vetor. Além da escolha de cultivares com bons níveis de resistência, é importante também plantar mais de uma cultivar e fazer rotação destas, evitando a quebra de resistência dos cultivares, e evitando grandes prejuízos em híbridos suscetíveis em regiões com alta incidência de enfezamentos.

 

Milho tiguera e ponte verde

É importante fazer uma boa regulagem das máquinas evitando que os grãos caiam sobre a área e germinem, bem como usar caminhões em condições adequadas, evitando que grãos caiam durante o transporte. Os grãos caídos resultam em novas plantas voluntárias de milho, formando a tiguera, favorecendo a permanência do inseto e das doenças na área. A resistência do milho a alguns herbicidas dificulta o controle dessas plantas, que devem ser eliminadas para o controle da praga e doenças. A permanência das plantas de milho na área é um dos principais agravantes desse problema.

 

Controle químico

Os inseticidas não são totalmente eficientes para o controle da cigarrinha, mas o controle químico é válido, visto que um inseto pode contaminar várias plantas. Recomenda-se associar o manejo da cigarrinha com aplicações direcionadas para o manejo de percevejos, com duas aplicações sequenciais de inseticidas com intervalos de 5-7 dias, iniciando na fase de "milho palito". O controle químico não deve ser feito depois dos 40 dias após a emergência, pois após esse período, não são observadas vantagens para o controle dos patógenos em campo.

Como o milho emite folhas novas constantemente na fase vegetativa, reinfestações ocorrem, exigindo pulverizações frequentes. Após a aplicação, monitorar a praga constantemente. A aplicação de inseticidas em tratamento de sementes atua no controle preventivo da cigarrinha do milho, evitando ataques severos. Outra opção é o tratamento do solo com inseticidas como o carbofuran granulado.

 

Controle biológico e ecologia

Quanto ao controle biológico, existem diversos inimigos naturais que podem ocorrer em condições naturais. Existem os parasitas de ovos Mymaridae e Trichogrammatidae, e os parasitas de ninfas e adultos Dryinidae. Existem também produtos feitos a base de fungos, como por exemplo com esporos de Beauveria bassiana, que infectam a cigarrinha-do-milho, matando o inseto.

Outra alternativa interessante é manter uma diversidade de plantas, formando um agroecossistema, garantindo abrigo tanto para presas quanto para inimigos naturais. Habitats mais complexos, como a cobertura com palhada por exemplo, diminuem a população de cigarrinhas pois aumenta a presença de insetos predadores. O consórcio milho-braquiária também mostra um bom aumento na presença de inimigos naturais, como joaninhas, aranhas, besouros, tesourinhas e percevejos, que controlam as populações de cigarrinhas.

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

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