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Entenda a importância da qualidade da água na aplicação de defensivos

Entenda como a qualidade da água influencia a qualidade de aplicação de defensivos agrícolas.


Foto: AgrolinkFito

Na aplicação de defensivos, é comum o uso de diluentes, que são líquidos utilizados para diminuir a concentração do ingrediente ativo de uma formulação para a aplicação. A água, por se tratar de um recurso acessível e barato, é o diluente mais utilizado nas pulverizações de defensivos e é compatível com diversas formulações.

Porém, a falta de qualidade da água é o fator responsável por diversas situações em que a aplicação de defensivos não apresenta o resultado esperado. A água contém diversas características (que muitas vezes não são detectadas) como a alcalinidade ou a presença de sais minerais que comprometem o funcionamento dos produtos. Abaixo, vamos entender como as características da água influenciam na qualidade da aplicação dos defensivos.

 

O pH da água na aplicação de defensivos

O potencial hidrogeniônico determina a concentração de íons de hidrogênio (H+) na solução, e determina o grau de acidez, neutralidade ou alcalinidade da água. Quando ocorre presença de maior quantidade relativa de íons de hidrogênio, a solução se torna ácida, já se houver mais íons hidroxila, a solução será alcalina. Se a solução tem pH menor que 7 é ácida, se tiver pH 7 é neutra e se tiver pH maior que 7 é alcalina. A leitura do pH pode ser feita com pHgâmetro, kits de reação ou papel tornassol.

O pH da água influencia a disponibilidade dos íons em suspensão que reagem com o ingrediente ativo, podendo interferir na sua estabilidade físico-química. Algumas formulações em pH muito ácido, podem ter seus ingredientes ativos degradados ou sofrer alterações em suas propriedades, prejudicando a eficiência do produto. Já a água com pH alcalino pode quebrar as moléculas de alguns ingredientes ativos em compostos inativos. Como exemplo, podemos citar a cipermetrina, que quando dissolvida em água com pH 9,0, perde 55% do seu princípio ativo em duas horas, e 90% em 24 horas. A quantidade de minerais dissolvidos na água pode potencializar o problema.

 

A influência da dureza da água na aplicação de defensivos

A dureza é medida através da quantidade de sais de cálcio e magnésio dissolvidos na água, e é expressa em unidades equivalentes de carbonato de cálcio (CaCO3). Esses elementos afetam a eficiência dos defensivos, desestabilizando as formulações e se ligando aos ingredientes ativos, formando compostos insolúveis pouco ativos ou até totalmente inativos.

A dureza da água pode ser determinada através da análise da dureza cálcica em laboratório. Existem diversas normas para avaliar a dureza da água, mas não há um padrão único quanto à classificação da dureza. Abaixo podemos observar uma das classificações mais utilizadas em literaturas que abordam o efeito da dureza da água em defensivos agrícolas.

 

Tabela 1. Classificação de dureza da água com base na concentração de carbonato de cálcio (CaCO3).
Classificação Escala internacional (mmol / L) Escala Americana (ppm) Escala Europeia (ºdH)
Leve < 1,6 < 160 <9
Moderadamente dura 1,6 - 3,2 160 - 320 9 - 18
Dura 3,2 - 4,6 320 - 460 18 - 26
Muito dura > 4,6 > 460 > 26

Obs: 1 mmol / L = 100 ppm = 5,6 ºdH
Fonte: Nielsen Technical Trading (2007).

 

Os produtos reagem de diferentes formas à água dura, e os íons presentes na água possuem diferentes capacidades de desativar os efeitos dos produtos. Por exemplo, os íons ferro e alumínio diminuem muito severamente o efeito do glifosato, os íons de cálcio e zinco diminuem severamente, os íons de magnésio diminuem moderadamente e o íon potássio não causa efeito prejudicial. Além do glifosato, dentre outros herbicidas que têm sua eficiência reduzida quando aplicados com água dura, podemos citar o paraquat, diquat, cletodim, sethoxydim, 2,4-D amina, glufosinato de amônio etc.

Ainda no caso do glifosato, para descobrirmos quantos % do produto será inativado por ação do cálcio, podemos utilizar a seguinte fórmula:

Sendo:

VaHa: volume de água em litros por hectare;
Dureza Ca: dureza da água baseada no cálcio, em ppm. Se o laboratório apresentar o resultado em ppm de CaCO3, devemos fazer a conversão (ppm de CaCO3 / 2,5 = ppm de CA);
Dose de glifosato: dose do produto em ingrediente ativo (kg/ha).

 

A influência da pureza da água na aplicação de defensivos

Na água utilizada na calda de aplicação de defensivos pode haver compostos de argila, areia, silte ou compostos orgânicos em suspensão, que possuem capacidade de influenciar o desempenho de alguns ingredientes ativos, como o paraquat ou o glifosato, que podem perder parte significativa do seu efeito. Esse prejuízo é potencializado se a calda ficar por mais de uma hora no pulverizador. O mesmo prejuízo pode ocorrer se as plantas alvo estiverem cobertas com calcário ou poeira.

Além da capacidade de reduzir o efeito dos defensivos, essas partículas orgânicas ou de argila podem entupir ou desgastar os bicos de pulverização. Dessa forma, devemos utilizar fontes de água limpa e sempre prestar atenção nos filtros, evitando a entrada de partículas indesejadas durante o processo de abastecimento.

 

 

A influência do poder tampão da água na aplicação de defensivos

O poder tampão é a capacidade que a água possui de neutralizar ácidos, e é uma característica de águas que atravessam rochas calcáreas. Os redutores de pH muitas vezes são ineficientes e é preciso utilizar produtos que atuem sobre os agentes tamponantes.

Observe a tabela abaixo onde constam soluções de problemas relacionados à qualidade da água nas aplicações de defensivos.

Tabela 2. Guia de solução de problemas relativos à qualidade da água nas aplicações de defensivos agrícolas.
Característica Problema Solução
Água suja - Inativação de produtos
- Entupimento de bicos
- Desgaste prematuro
- Mudar a fonte
- Usar peneiras
- Verificar filtros
- Evitar demoras para aplicar a calda
- Usar doses maiores
Água dura - Inativação de formulados salinos (glifosato,
2,4-D amina, clethodim etc.)
- Mudar a fonte
- Utilizar 2,4-D éster e utilizar surfactante não iônico
- Usar doses maiores
- Utilizar sequestrante de cátions
- Usar sulfato de amônia com glifosato (3 kg / 100 L)
- Evitar demoras para aplicar a calda
- Reduzir o volume de água
pH > 7,0 - Hidrólise alcalina - Usar redutor de pH
- Evitar demoras para aplicar a calda
pH 6,1 - 7,0 - Inativação do ingrediente ativo - Aplicar até 1 a 2 horas após o preparo da calda
pH 3,5 - 6,0 - Inativação do ingrediente ativo - Aplicar até 12 horas após o preparo da calda

Fonte: Guarido (2005).

 

Anderson Wolf Machado - Engenheiro Agrônomo

 

Referências:

CONTIERO, R.L., BIFFE, D.F., and CATAPAN, V. Tecnologia de Aplicação. In: BRANDÃO FILHO, J.U.T., FREITAS, P.S.L., BERIAN, L.O.S., and GOTO, R., comps. Hortaliças-fruto [online]. Maringá: EDUEM, 2018, pp. 401-449. ISBN: 978-65-86383-01-0

GUARIDO, G. Qualidade da água na pulverização. In: COAMO. Programa Coamo de Tecnologia de Aplicação. Campo Mourão, 2005. p. 31-34.

MARCÃO, M. A.; RONCATO NETTO, E. Qualidade de água para pulverização. In: COOPAVEL/ COODETEC (Org.). Tecnologia de aplicação de defensivos agrícolas. Cascavel, 2003. p. 7-15.

NIELSEN TECHNICAL TRADING. Water technic: conversion of water hardness units. 2007. Disponível em: <http://www.aqua-corrent.dk/dk1skw/uk-waterhardness-tabel.html>. Acesso: 20 jun. 2023

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