O setor agrícola do Brasil derrota seus concorrentes dentro da fazenda, mas os gargalos nos transportes ameaçam emperrar o impressionante crescimento registrado recentemente nas exportações das fazendas para fora. "O investimento nos transportes e nas instalações para armazenamento do produto não acompanhou a expansão da agricultura. Estamos chegando ao limite", comenta Fábio Silveira, analista de agribusiness da empresa de consultoria MB Associados, de São Paulo.
O governo brasileiro reconhece o problema e lançou planos para reparar as redes rodoviária e ferroviária há anos negligenciadas, mas os analistas temem que a falta de recursos e as confusas prioridades políticas sejam insuficientes.
A produção agrícola brasileira deu um grande salto nos últimos anos, principalmente nos setores da soja, café e açúcar que registraram safras recordes em 2002/03, graças aos custos de produção mais baixos do mundo. Mas este crescimento provocou filas de 100 quilômetros no porto de Paranaguá, na época da colheita, e os cafeicultures foram obrigados a vender a preços baixos porque seus silos estavam cheios até as bordas.
Analistas acreditam que o agronegócio poderá continuar crescendo à taxa anual de 10% nos próximos anos e o ministro dos Transportes, Anderson Adauto Pereira, admite que serão necessários investimentos de US$ 2 bilhões nos próximos seis a sete anos para que a infra-estrutura possa acompanhar o nível da concorrência.
Mas a necessidade de austeridade fiscal levou o Tesouro a cortar o orçamento do Ministério dos Transportes de R$ 3,2 bilhões para R$ 774 milhões este ano.
A solução do governo para o problema é atrair o setor privado para parcerias. Entretanto, as empresas aguardam regras claras para aderir a projetos importantes.
"Ninguém quer se comprometer com um investimento pesado a longo prazo, como a construção de uma estrada, porque o contrato pode ser alterado com a mudança de governo", disse César Borges de Sousa, presidente da Alimentos Caramuru, esmagadora de soja, que fez consideráveis investimentos no Centro-Oeste.
O Brasil costuma escolher mal suas prioridades, disse Silveira, que teme o abandono de projetos em infra-estrutura.
O presidente Luís Inácio Lula da Silva poderá, segundo declarou recentemente a jornalistas, condicionar a adesão brasileira à Área de Livre Comércio das Américas (Alca) à ajuda dos Estados Unidos em obras de infra-estrutura.
Mais soja
A produção brasileira de soja deverá registrar novo crescimento drástico, para 56,85 milhões de toneladas, uma vez que os excelentes níveis dos preços deverão induzir os agricultores a plantar em novas áreas, a migrar para o produto em detrimento de outras lavouras e a investir mais na produção, informou na última sexta-feira a consultoria brasileira Agrural. A Agrural projetou num relatório que a produção terá um crescimento de 15,1% comparativamente aos 49,39 milhões de toneladas produzidos em 2002/03.
A estimativa é compatível com outros prognósticos locais divulgados nas últimas semanas.
A área plantada com soja deverá crescer 8% no ano que vem, para 19,42 milhões de hectares. Com melhor emprego dos insumos e boas condições climáticas, a produtividade média poderá alcançar 2.927 quilos por hectare. Neste ano foi de 2.751 quilos.
A Agrural diz que os produtores vão plantar soja no ano que vem atraídos por preços médios em dólar bem superiores aos negociados em 2002. Nos cinco primeiros meses do ano, os agricultores brasileiros obtiveram US$ 9,90 por saca de soja, o que significa um crescimento de 24,5% em relação aos US$ 7,95 por saca vigentes no mesmo período de 2002.
Em vista disso, os lucros sobre os custos de produção podem ser calculados em cerca de 30% para a safra 2002/03, disseram os consultores. Os preços da soja estão no momento mais atraentes que os preços do milho, fator que deverá atrair os agricultores para o plantio da oleaginosa. Além disso, a soja também oferece mais liquidez e oportunidades de financiamento.