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Preço da farinha de trigo recua 9%


Moinhos brasileiros alegam que motivo da queda é a concorrência com o produto argentino. Os preços da farinha de trigo no mercado interno recuaram 9% nos últimos trinta dias. A saca de 50 quilos que era negociada a R$ 55 em São Paulo no meio de abril, hoje é vendida pelos moinhos a R$ 50 na mesma praça. O principal motivo que está levando os moinhos brasileiros a reduzirem seus preços não é a queda dos valores da matéria-prima, "mas a entrada no mercado interno de uma farinha de trigo de origem argentina, que é fraudada para pagar taxa menor de impostos", diz um representante da indústria.

Segundo a indústria, o produto argentino é negociado no mercado brasileiro com uma vantagem de preços de pelo menos 15% em relação à farinha nacional. Atualmente, o produto importado é comercializado em São Paulo a um valor de R$ 44 a saco de 50 quilos. "As indústrias argentinas estão competindo em desigualdade com os nossos moinhos. É um problema ético de comercialização", afirma Fernando Augusto, gerente de finanças e suprimentos do moinho Anaconda.

Os argentinos são acusados de adicionar 0,3% de sal na composição da farinha de trigo que exportam ao Brasil, de tal forma que o produto passaria a ser considerado pré-mistura e não mais farinha. Dessa forma, a taxa de retenção que seria de 20% para a farinha e grão é reduzida para 5% no caso das misturas.

Mercado internacional

Segundo Lawrence Pih, presidente do Moinho Pacífico, os preços da farinha de trigo no Brasil estão caindo em média R$ 1,50 a cada quinze dias. "O preço do trigo no mercado internacional está subindo. A concorrência desleal está obrigando as indústrias a reduzirem seus preços", afirma Lawrence Pih.

A adição de um percentual tão pequeno de sal na farinha não altera suas propriedades, tampouco a transforma em pré-mistura, que possui na realidade preço 30% superior à farinha de trigo. A fraude, detectada em novembro de 2002 pelas indústrias nacionais, já estaria provocando alterações na forma de comercialização de alguns moinhos.

Fontes do mercado informaram que no Centro-Oeste e Nordeste, os moinhos deixaram de processar o grão e compram a farinha argentina e a revendem no mercado interno. A fonte diz que ofereceu seu produto a um cliente da região, que negou a oferta alegando a inviabilidade do negócio com o novo produto.

A prática desleal dos moinhos argentinos também poderia afetar a produção de trigo brasileiro. Com a concorrência da farinha argentina, os moinhos brasileiros poderiam reduzir sua demanda por trigo nacional para processar, já que os argentinos estariam com seu produto industrializado diretamente no mercado nacional.

Ao contrário do que possa parecer, o governo argentino não tem interesse em coibir a fraude. "Na Argentina a prática é considerada normal e serve de subsídio aos moinhos. Apesar de o governo recolher menos impostos, já que as empresas pagam 5%, quando deveriam pagar 20%, consegue compensar a diferença no fornecimento de energia, transporte e mão-de-obra", afirma Fernando Augusto, do moinho Anaconda.

Pressão política

De acordo com Lawrence Pih, do Moinho Pacífico, o controle e a fiscalização desse produto deveria ser feito na Argentina. O Brasil pode apenas fazer pressão política para mudar a situação. "Nada de concreto foi feito até agora. O governo brasileiro precisa exercer uma pressão maior para o quadro seja revertido", afirma Pih.

Representantes do governo brasileiro, argentino e da indústria nacional buscam uma solução para o problema da fraude da farinha de trigo argentina. Segundo o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Trigo, Roland Guth, esse foi o quarto encontro com representantes da Argentina e nenhuma solução foi encontrada.

O representante das indústrias brasileiras informou que está pressionando o governo brasileiro para que sejam tomadas medidas mais duras sejam tomadas para evitar a entrada da farinha adulterada.

Na época em que houve a detecção da fraude, durante a primeira reunião com os representantes dos dois países, os argentinos se comprometeram estudar o caso, mas nada foi feito. Fontes do mercado informam que o poder de pressão das indústrias brasileiras é muito pequeno no governo.

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