Até o fim de julho, toda a fronteira entre o Rio Grande do Sul e Uruguai será controlada por veterinários dos dois países, com a criação de um programa bilateral voltado ao combate à febre aftosa. O Projeto Integrado de Fronteira em Defesa Sanitária Animal, nascido de um acordo entre a Secretaria da Agricultura e Abastecimento (SAA), Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) e o governo uruguaio, pretende uniformizar fiscalização e manejo dos rebanhos, na tentativa de diminuir as chances de reaparecimento e disseminação do vírus. Nos 800 quilômetros de fronteira já foram identificados 47 pontos de alto e médio riscos, onde há trânsito de produtos ou animais que podem espalhar o vírus.
Um projeto piloto foi iniciado no ano passado na divisa entre o departamento Uruguaio de Rio Branco e os municípios gaúchos de Pedras Altas, Herval e Jaguarão. Serão criadas outras três zonas de fiscalização. Amanhã será a vez da faixa entre Aceguá, Bagé, Dom Pedrito e Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, e os departamentos de Melo, Rivera e Vichadero, no Uruguai. Em dia 15 de julho será instalado o projeto em Chuí e, no lado uruguaio, Santa Vitória do Palmar e Chuy.
Dia 30, os veterinários iniciam o trabalho em Quaraí, Uruguaiana e Barra do Quaraí e no departamento de Artigas, no Uruguai.
Os técnicos terão a missão de mapear as propriedades, identificar rotas de contrabando de animais e produtos, de trânsito de pessoas e veículos, fazendeiros que possuem terras nos dois lados e costumam deslocar animais livremente através da fronteira e abatedouros que operam de modo informal. De posse dos dados, será identificada a localização de cada área, por meio de mapeamento via satélite.
"Nossos veterinários e também os uruguaios poderão ingressar em uma faixa de 50 quilômetros do país vizinho para acompanhar os trabalhos. Já notamos uma diminuição do contrabando nesta faixa onde começamos o projeto-piloto", diz o chefe do Serviço de Combate à Febre Aftosa (Secofa) da SAA, Antônio Ferreira Netto.
Netto adianta ainda que existe a intenção de levar a cooperação na área de defesa sanitária animal para a fronteira gaúcha com a Argentina neste ano. "A Argentina e o Uruguai já têm programa semelhante na região de Salto", lembra Neto. O território argentino foi a provável origem do vírus que atingiu em 2001 o Uruguai e depois o Rio Grande do Sul. No ano anterior, quando focos de febre aftosa foram registrados na região de Jóia, no Noroeste do estado, as investigações indicavam que a doença chegou ao Brasil em touros contrabandeados da Argentina – onde os pontos de risco na fronteira chegam a pelo menos 60.
A perda de mercado devido à incidência de febre aftosa no estado causou um prejuízo na ordem de US$ 60 milhões à pecuária gaúcha, conforme estimativa do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados do Rio Grande do Sul (Sicadergs). A suinocultura também teve perdas com a suspensão das exportações para a Rússia, principal destino da carne gaúcha e brasileira.
Carne proibida
O secretário de Agricultura do de Santa Catarina, Moacir Sopelsa, comunicou sexta-feira, em Xanxerê, no oeste catarinense, ao secretário gaúcho, Odacir Klein, que a divisa com o estado vizinho não será reaberta para a entrada de carne bovina com osso e de animais vivos. Tampouco será retomada a vacinação do rebanho contra aftosa. As duas reivindicações gaúchas não são novas, mas foram refeitas este ano, depois que os dois estados passaram a ser administrados pelo PMDB.
Além de não atender ao pleito do vizinho, Santa Catarina quer que o circuito pecuário do sul seja revisto, disse Sopelsa, durante a visita do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, ao estado.
O secretário reconhece que a decisão provoca mal-estar entre os dois estados, mas afirma que não seria possível abrir a divisa apenas para a carne gaúcha. "A portaria ministerial que impede a entrada de carne bovina com osso (porque o vírus se aloja lá) e de animais vivos não se refere apenas ao Rio Grande do Sul, mas a todos os estados da federação. Para mudar isso teríamos que abrir para todo o País e não queremos correr esse risco", declarou Sopelsa.