CI

FATOS E PERSPECTIVAS DO COMÉRCIO EXTERIOR


NOVOS RECURSOS PARA EXPORTAÇÃO

Quem me acompanha sabe das minhas impressões acerca da necessidade da empresa brasileira em buscar sua internacionalização, afinal a globalização é algo irreversível. Pois bem, recursos a taxas “civilizadas” estão disponíveis, tanto no BNDES através do Exim, quanto no Banco do Brasil com o Proex. Ou seja, no que tange a financiamento ao vendedor e ao comprador, os tais "supplier's credit” e "buyer's credit" podem ser acessados.

Embora a empresa brasileira ainda esteja bastante onerada pela elevada carga tributária, posso assegurar que quem investir no mercado externo, não irá se arrepender, pois condições para tal acesso foram criadas.

O empresário brasileiro terá maior possibilidade de vencer os desafios aos quais diariamente é submetido, não se restringindo ao mercado interno, seu humor e sazonalidade.

Recursos no montante de 2,5 bilhões de reais, oriundos do FAT - Fundo de Amparo ao trabalhador foram disponibilizados ao BNDES, para operações de financiamento às exportações de micro, pequenas e médias empresas.

Muito ainda precisa ser feito, entretanto, ninguém fará aquilo que é nosso trabalho como empresários, ou seja, a conquista e a fidelização de clientes e mercados.

AS BANANAS E A ALCA

A cada passo dado pelo Embaixador americano Robert Zoelick, em seu passeio pela América Latina, as pressões sobre o Brasil crescem mais e mais, face suas promessas de liberação do mercado americano às pequenas economias.

Considerando-se as diferenças de dimensões, ou seja, as tão faladas assimetrias existentes entre os 34 países que deverão fazer parte da ALCA, os “menores” países tornam-se presa fácil aos interesses americanos; afinal, as ilhas do Caribe e os pequenos países centro americanos, pouco tem a perder, quando muito a exportação única e tão somente, de bananas.

É louvável a iniciativa brasileira de buscar, o mais rápido entendimento com os países Andinos, o fortalecimento do Mercosul, a celebração de acordos comerciais com outros tantos paises, pois é uma estratégia importante visando nossa maior força para as negociações na ALCA. Todavia, é sem dúvida uma missão bastante difícil, porque não temos a mesma bala na agulha e nosso poder de fogo é ínfimo, quando comparado ao arsenal americano.

Seguramente, após as reuniões de Cancun, teremos uma visão mais realista do futuro, e de como deverão caminhar as negociações ALCA, previstas para Miami em novembro. A proposta brasileira dos três trilhos* é de fato realista e estamos utilizando expedientes bastante conhecidos e largamente utilizados por nossos "sinceros" parceiros comerciais.

· *A proposta dos três trilhos:

TRILHO UM: Discute-se de forma multilateral, no âmbito da Alca,

regras de acesso a mercados, subsídios a exportação e outras medidas de

efeito equivalente (dentro da região), política da concorrência, solução

de controvérsias, tratamento especial e diferenciado para países em

desenvolvimento, fundos de compensação, facilitação de comércio,

sociedade civil e questões institucionais.

TRILHO DOIS: Em negociações bilaterais do tipo 4 + 1, com foco

especial entre Mercosul e EUA, acesso a mercados de bens, agrícola e não

agrícolas, e de maneira limitada temas relativos a serviços e

investimentos.

TRILHO TRÊS: Transfere-se do âmbito das discussões da Alca para a

OMC temas sensíveis e de regras gerais e que representariam obrigações

novas como propriedade intelectual (patentes), regras de serviços,

regras de investimentos, compras governamentais, a exemplo do proposto

pelos EUA no que tange aos temas subsídios agrícolas e regras

antidumping.

ESTRÉIA EM CANCUN A ALIANÇA SUL-SUL

Reiniciados os trabalhos da OMC – Organização Mundial de Comércio em Genebra, após as férias de verão, os Estados Unidos e a União Européia apresentaram um plano para a abertura do mercado agrícola, a ser discutido na reunião de Cancun, de forma a salvá-la e dar prosseguimento aos trabalhos da "Rodada Desenvolvimento", lançada em Doha no Qatar em 2001, após o fiasco da reunião ministerial de Seattle em novembro de 1999.

Tentando uma vez mais adiar decisões e “empurrar com a barriga”, temas como: abertura do mercado agrícola; eliminação de subsídios à produção; apoio às exportações, os Estados Unidos e a União Européia prepararam uma proposta conjunta, que nada mais é que uma nova "arapuca" aos países em desenvolvimento como o Brasil e seus parceiros do Mercosul, entre tantos outros.

A proposta apresentada, segundo o Itamaraty, é vaga, não contempla a eliminação de subsídios à exportação, não faz efetivamente referência à redução de tarifas de importação e ainda mais, não prevê a eliminação de subsídios à produção.

O açúcar sem dúvida é um bom exemplo: a rica União Européia produz o doce produto da beterraba, com custo três vezes superior aos preços de nosso açúcar de cana, porém subsidiado. Isso resulta em um incentivo à produção, lançando no mercado quantidades que nunca seriam produzidas, se não fossem os subsídios; gerando um excesso de oferta internacional, jogando os preços para baixo, prejudicando sensivelmente o resultado de nossas exportações.

Entretanto, a reunião de Cancun promete muita discussão, afinal a proposta brasileira desta feita estará apoiada pela Índia e pela China; o que é inédito em nossa diplomacia comercial, e reflete o início de uma aliança sul-sul que inclui também a África do Sul.

Como se vê, setembro nos reserva momentos de decisões importantes, e que deverão influenciar significativamente o desempenho de nossa economia, a médio e longo prazo.

--------------------------------------------------------------------------------

HUMBERTO BARBATO é Diretor Superintendente da CST (Cerâmica Santa Terezinha), Industria de Isoladores Elétricos de Porcelana e Vidro Temperado para transmissão e distribuição de energia, e Diretor de Relações Internacionais da Abinee - Associação Brasileira de Indústria Elétrica e Eletrônica.

Assine a nossa newsletter e receba nossas notícias e informações direto no seu email

Usamos cookies para armazenar informações sobre como você usa o site para tornar sua experiência personalizada. Leia os nossos Termos de Uso e a Privacidade.