O ritmo de recuperação da economia argentina, que vinha crescendo desde o final do ano passado, começou a perder o fôlego. Entres os motivos está a falta de crédito para financiar investimentos, a valorização do peso, que desestimula exportações, e a desaceleração da economia no Brasil.
A indústria argentina, que cresceu 7,6% nos primeiros três meses do ano e ajudou a puxar a expansão de 5,4% do PIB, não teve o mesmo desempenho no segundo trimestre. Entre abril e junho, a atividade industrial recuou 0,5%.
O volume menor das exportações para o Brasil é um dos motivos, segundo o Indec (órgão de estatísticas do governo). O mercado brasileiro é o principal destino das exportações argentinas --compra quase 19% do total--, depois da União Européia, que fica com 20%. Só em maio, as exportações argentinas para o Brasil recuaram 25%. Entre janeiro e maio, a queda é de 12%.
O setor que mais sentiu o impacto foi a indústria manufatureira, cujas vendas diminuíram 37% em maio e 17% no acumulado ano. Houve queda ainda nas exportações de produtos de origem agropecuária: 23% no ano e 17% em maio. As exportações de pescados declinaram 31%.
Os empresários reclamam. Afirmam que não há espaço para seus produtos no Brasil e que, em contrapartida, o mercado local está sofrendo uma "invasão" de artigos verde-e-amarelo. A pressão se intensificou após o resultado positivo para o lado brasileiro na balança comercial de junho. Após 41 meses consecutivos de déficits com a Argentina, o Brasil registrou um superávit de US$ 34 milhões no mês passado. No ano, no entanto, o saldo brasileiro com o país vizinho ainda é negativo em US$ 500 milhões.
O próprio governo argentino admite estar preocupado com o desaquecimento no Brasil. No primeiro trimestre, o PIB brasileiro encolheu 0,1%. "Quando duas economias caminham no sentido oposto --uma cresce e outra recua--, é preciso compensar essa defasagem", chegou a afirmar o ministro da Economia, Roberto Lavagna, ao comentar as queixas dos empresários argentinos.