Trinta frigoríficos brasileiros habilitados à exportação suspenderam ontem a compra e o abate de bois alegando falta de animais rastreados. A rastreabilidade é uma exigência dos mercados externos, especialmente da União Européia, em vigor desde a última terça-feira. O secretário de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Maçao Tadano, classificou a medida como formação de cartel. 'Caso essa situação permaneça e seja caracterizado o locaute, poderemos adotar medidas administrativas, como a não emissão dos certificados sanitários, e jurídicas, inclusive junto ao Ministério Público.' De acordo com Tadano, há 4,7 milhões de animais registrados, prontos para abate, e 834 mil bovinos em regime de quarentena.
O secretário-executivo da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Carne Bovina e presidente do Fórum Nacional de Pecuária de Corte da CNA, Antenor Nogueira, lembrou que, em razão da entressafra, o pecuarista está com os custos de produção elevados. Com um cenário de preços baixos, observou, o produtor estocará a produção e pode haver desabastecimento. 'Está comprovado que os frigoríficos exportadores querem manipular os preços para comprar mais barato do produtor.' Ele explicou que até 12% da produção brasileira é destinada à exportação. Nos últimos 12 meses, as vendas ao mercado externo geraram renda de US$ 1,4 bilhão. Cerca de 40% foram para a UE. 'Há mercados que não exigem rastreabilidade, como Irã, Iraque e Egito. É a prova de que os frigoríficos estão utilizando o Sisbov como bode expiatório.'
Segundo o diretor técnico do Sicadergs, Zilmar Moussalle, as indústrias gaúchas habilitadas a exportar - Extremo Sul, de Capão do Leão, e Mercosul, de Bagé -, que abatem 1,3 mil bois/dia, não paralisarão as atividades. 'Prevendo a entrada do inverno, quando o boi não está acabado, foi feito um trabalho de base, com subsídio ao produtor para que rastreasse o gado com antecedência.'