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O avanço da biotecnologia na agricultura


Milho transgênico voltado para a produção de hormônio do crescimento pode render até R$ 348 milhões por hectare. A biotecnologia está abrindo uma nova frente para os agricultores e pecuaristas. Uma das facetas mais promissoras, embora menos conhecida, é a das "biofábricas", em que grãos como soja e milho, ou animais, como cabras, se transformam em fábricas de produtos como o hormônio do crescimento, vacinas para o combate à diarréia e no desenvolvimento de super fibras.

"Cálculos iniciais dão conta que um hectare de milho transgênico, voltado para a produção do hormônio do crescimento (HGH), poderia render, bruto, R$ 348 milhões", diz Elíbio Rech, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O cálculo de Rech leva em conta uma produtividade de 4 mil quilos por hectare, o custo do hormônio (R$ 87 mil o grama) e o fator de conversão (1 quilo de milho = 1 grama de HGH).

Para se obter o mesmo faturamento, seria necessário plantar 270 mil hectares de milho convencional, ou o equivalente às áreas cultivadas com milho nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, no Centro-oeste. Calcula-se que o faturamento bruto de um hectare de milho seja de R$ 1,3 mil.

O hormônio do crescimento é utilizado no tratamento de pessoas que têm baixa estatura causada por uma disfunção da hipófise, a glândula responsável pela produção do HGH. "É um hormônio caríssimo. Se produzido em larga escala, poderíamos baratear seu custo em, no mínimo, dez vezes", acredita Rech.

Bioaço

Os primeiros estudos com biofábricas começaram há quatro anos no Brasil e se inspiraram no sucesso do "bioaço", desenvolvido pela canadense Nexia Biotechnologies Inc. e hoje objeto de um contrato de pesquisa milionário com o Exército dos Estados Unidos.

A Nexia conseguiu o que cientistas vêm tentando há décadas: reproduzir a resistência e flexibilidade da teia de aranha para uso comercial. Para isso, ela introduziu o gene responsável pela produção da teia da aranha em cabras transgênicas. O leite produzido não é para consumo humano. Por meio de uma técnica especialmente desenvolvida, o leite é "purificado" numa proteína líquida, semelhante àquela produzida pela aranha.

"A grande pergunta é entender como a aranha transforma aquela proteína líquida num polímero (teia). Quando os cientistas descobrirem isso, daremos um grande passo no avanço da ciência", diz.

Uma das aplicações dessa fibra, chamada de bioaço, seria na área médica, em microsuturas. "Por ser uma fibra leve e ultra resistente, ela poderia ser empregada na confecção de ternos à prova de balas", diz o pesquisador brasileiro.

No Brasil, os cientistas estão conduzindo uma pesquisa semelhante. Atualmente, eles estão tentando isolar o gene responsável pela fabricação da biofibra em duas espécies de aranhas da Mata Atlântica e da Amazônia.

Outra pesquisa em curso no Brasil é para isolar o anticorpo responsável pela detecção do câncer de mama, e introduzi-lo na soja. "Esse é um anticorpo caríssimo que, se produzido em larga escala, pode beneficiar milhões de pessoas", afirma Rech.

A agricultura foi escolhida como veículo das pesquisas por ser uma atividade de baixo custo, larga escala e ciclo curto de amadurecimento. É por isso que a Embrapa escolheu alfaces e tomates para introduzir o antígeno contra a diarréia em humanos. "Não significa que a alface será consumida ‘in natura’. Ela será transformada em pó, colocada em cápsulas e vendida nas farmácias", afirma.

Para Rech, o cultivo das biofábricas deve ser feito em ambiente altamente controlado e fechado, evitando que algum pássaro ou inseto consuma a planta e impedindo a polinização cruzada. "Isso beneficiaria sobretudo o pequeno agricultor, porque o cultivo seria feito em pequenas propriedades", diz.

Embora as pesquisas estejam avançadas, Rech não acredita que esses produtos cheguem ao mercado no curto prazo. "Precisamos testá-los primeiro em ratos, depois em animais de pequeno, médio e grande porte, para só então testarmos em humanos. Temos um longo caminho pela frente", diz o pesquisador.

Estudos com biofábricas estão sendo desenvolvidos por pesquisadores da Embrapa, Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Instituto Butantã, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade de Brasília (UnB).

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