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Dívida dos suinocultores do Rio Grande do Sul chega a R$ 90 milhões


Com a falta de crédito para amortizar as dívidas do setor suinícola, os produtores de carne suína do Rio Grande do Sul vêm acumulando débitos desde o início de 2002, quando o preço do quilo vivo recuou em razão do excesso de produção. Hoje, o endividamento do setor no Estado atinge R$ 90 milhões. Esta é a afirmação do presidente da Comissão de Suinocultura da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), João Picoli, que em nome do presidente da entidade, Carlos Sperotto, prestou depoimento ontem (04-08) na CPI das Carnes, em Porto Alegre, que investiga os motivos da queda de preços no setor. Também prestou depoimento o presidente da Comissão da Pecuária de Corte da Farsul, Fernando Adauto, para esclarecer os lucros reduzidos dos bovinocultores.

Picoli explica que os débitos são originários dos financiamentos feitos pelos suinocultores junto aos bancos. Dos R$ 90 milhões, R$ 50 milhões são oriundos do Banco do Brasil, R$ 35 milhões do Bansicredi e R$ 5 milhões do Banco do Estado do Rio Grande do Sul (Banrisul), que segundo ele, é a única instituição que vem renegociando com os produtores. A dívida anterior beirava os R$ 93 milhões, sendo que R$ 3 milhões já foram renegociados com o banco estadual. “Mesmo que o preço do quilo vivo reaja, os produtores continuarão abatendo suas matrizes para reduzir as dívidas. Hoje o suinocultor busca recursos de um lado para cobrir o outro, o chamado mata-mata”, afirma Picoli. “Há dívidas acumuladas pelo setor que irão vencer já nesse mês e ainda não há uma solução para renegociá-las”, complementa.

O dirigente do setor suinícola da entidade mostra-se apreensivo quanto à falta de crédito dos produtores perante os bancos. “Hoje o produtor que tem condições de obter crédito com as instituições não está conseguindo porque a atividade é considerada de risco”, desabafa. Ele ressalta ainda que se os suinocultores inadimplentes terão dificuldade de obter financiamento dos bancos, visto que no caso específico do Banco do Brasil cada caso é analisado cuidadosamente pela instituição.

O presidente da Associação dos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Gilberto Silva, também prestou depoimento e defendeu que as dívidas dos produtores tenham prazo de pelo menos dois anos para serem amortizadas. Em seu discurso, Silva critica o lucro abusivo dos supermercados, que de um total de 100% acusa de faturarem 57% sobre o valor do produto, sendo que o restante é distribuído para os demais elos da cadeia. Alerta também sobre as perdas de R$ 50 por animal em razão do alto custo de produção e a deficiência da vigilância sanitária no Estado.

Entretanto, o presidente da Acsurs acredita que o preço do suíno deve aumentar no segundo semestre em decorrência da queda de abates que vem sendo verificada desde o início do ano. No ano passado, o Rio Grande do Sul registrou o abate de 58 mil toneladas de matrizes, quase o dobro do registrado em 2001 quando totalizou 32 mil toneladas, mas acredita que esse número será menor em 2003. O grande empecilho do setor continua sendo a disparidade entre o custo de produção (R$ 1,58) com o preço do quilo de suíno vivo (R$ 1,40), mais as bonificações que variam entre 5% a 10%.

O representante da Farsul confessa que a atividade na região de Erechim vem perdendo produtores a cada período de crise. “Em 1988 havia aproximadamente quatro mil produtores, este número caiu para 2,2 mil em 2002 e hoje há apenas 1,1 mil”, retrata. “Caso a situação não comece a mudar, haverá ainda mais produtores desistindo da atividade e precisarão encontrar outro ramo para trabalhar, sendo que muitos desses farão parte do grande número de desempregados existentes no país”, dispara o dirigente. Ele acredita que somente uma intervenção do governador do Estado, Germano Rigotto, junto ao presidente Lula poderá recuperar o setor e fazê-lo crescer novamente. Na segunda-feira da semana que vem, a CPI vai ouvir os representantes do setor da indústria suinícola e bovina.

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