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Canadá tenta liberar sua carne bovina


Após repetidas notícias falsas de que os Estados Unidos irão em breve reabrir sua fronteira para as exportações de carne bovina canadense, o criador de gado de Alberta, Erik Butters, começa a resignar-se com a perspectiva de sete anos magros. Butters, chairman de finanças para o grupo do setor Alberta Beef Producers, diz que esse é, "infelizmente", o padrão para o comércio internacional nos casos em que a doença Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), ou doença da "vaca louca", é detectada no rebanho de um país.

A província, situada no oeste do Canadá, é responsável pela maior parte da carne bovina do país e pelas remessas de gado para os EUA, avaliadas no ano passado em US$ 2,6 bilhões. Esse fluxo entre países foi congelado há três meses, depois que uma única vaca de Alberta foi diagnosticada com a desordem fatal do sistema nervoso.

Nenhum país, incluindo o Canadá, suspendeu cedo um veto depois de mesmo uma ocorrência isolada de EEB no rebanho de um parceiro comercial. Entre os diversos países cuja carne bovina o Canadá restringe devido à doença da vaca louca estão a Polônia, que registrou cinco casos de EEB desde o início de 2002, e a Finlândia, que relatou um único caso de EEB há dois anos.

O veto dos EUA sobre a carne bovina canadense ilustra como, em uma era de crescente comércio global, um grande e integrado mercado fronteiriço de produtos agrícolas pode ser repentinamente interrompido sem provas contundentes de que a segurança foi comprometida. A situação também demonstra a calamidade que atingiria o setor de carne bovina dos EUA se só um caso de doença da vaca louca surgisse ao sul da fronteira.

Os cientistas provavelmente nunca saberão ao certo por que a vaca de Alberta contraiu o EEB. A explicação mais provável é que o animal ingeriu ração contaminada. Isso significa que outras cabeças de gado foram expostas - e muitos cruzaram os dois lados da fronteira.

O surto de EEB do Reino Unido, que teve início nos anos 80, envolveu perto de 183 mil casos no gado e teve 130 vitimas fatais humanas de uma doença relacionada que se acredita seja transmitida pela ingestão de carne bovina infectada. Mas no Canadá, graças aos processos de inspeção desenvolvidos em grande parte em resposta à crise britânica, a vaca doente de Alberta foi afastada da cadeia alimentícia humana.

Uma investigação posterior, na qual 1.500 cabeças de gado foram abatidas, não revelou casos adicionais de EEB. Os inspetores de alimentos dos EUA dizem que a carne bovina canadense é segura, e elogiam os esforços do Canadá para assegurar que seu caso de EEB foi isolado. Contudo, a fronteira permanece fechada, por motivos que os altos funcionários canadenses alegam serem políticos, não científicos.

O impasse é o Japão, que ameaçou vetar as importações de carne bovina dos EUA se esse país reabrir sua fronteira para o gado ou a carne bovina canadense. O Japão também exige que, a contar de 1º de setembro, os EUA certifiquem que a carne bovina destinada ao mercado japonês não contenha produto canadense.

O ministro da Agricultura japonês, Yoshiyuki Kamei, disse a seu colega canadense, Lyle Vanclief, que o Japão não eliminará seu veto até que a inspeção do Canadá de seu rebanho satisfaça os padrões adotados pelo Japão há dois anos, após seu próprio surto de EEB.

Isso envolverá, entre outras coisas, o teste de cada carcaça de carne bovina destinada para o consumo humano - um exercício dispendioso que segundo os altos funcionários canadenses não é garantido dado que a EEB parece disseminar-se só de gado mais velho do que aqueles que o Canadá abate para a exportação de carne.

Os especialistas internacionais dizem que não há provas vinculando a carne de gado com menos de dois anos com a disseminação de EEB. Só o gado velho mostra sintomas de EEB, que se acredita seja causada pelo acúmulo de uma proteína cerebral anormal e bastante rara, chamada prion, que age como um agente infeccioso.

Não se acredita que o gado jovem o suficiente para ser abatido para fornecer a carne de primeira, que representa a principal exportação do setor do Canadá, esteja infectado. Os altos funcionários japoneses também sugerem que o próprio Canadá vete a carne bovina japonesa devido aos casos passados de EEB no Japão. O departamento de agricultura do Canadá informa que não existem esses vetos. Mas a carne bovina japonesa exige licença especial para entrar no Canadá na ausência de protocolo de inspeção de carne bilateral.

Mas o principal motivo para o Canadá e o Japão não chegarem a um acordo pode refletir as experiências bastante distintas por que passaram os dois países na esteira das ocorrências de EEB. No Japão, o mercado de carne bovina entrou em colapso porque o público perdeu confiança em um produto que não fazia grande parte de sua dieta.

kicker: Proibição das exportações provoca perdas para pecuaristas e indústrias frigoríficas

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