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Chapecó tem prazo de 15 dias para negociar dívida


Executivos da empresa catarinense tentam resolver seus débitos, que ultrapassam R$ 1 bilhão. A direção da Chapecó Alimentos foi oficialmente comunicada ontem pela Coinbra, do grupo francês Louis Dreyfus, de que terá mais 15 dias para negociar as dívidas com os seus credores e viabilizar a compra da indústria frigorífica catarinense, em negociação há meses. O prazo vencia ontem, mas foi dilatado até o próximo dia 30. É o tempo que resta aos executivos do frigorífico para que convençam os credores a aceitar deságios de mais de 80% nos valores devidos. A Coinbra aceita pagar R$ 175 milhões pelos ativos da empresa, livre de qualquer pendência. O problema da Chapecó é conseguir quitar com isso as dívidas que somam R$ 1,040 bilhão.

O presidente da Chapecó, Celso Schmitz, que comanda as negociações, disse ontem a este jornal que ainda não perdeu as esperanças e que apela para que os credores levem em consideração o problema social que a falência e total paralisação do frigorífico provocaria.

Deságios acertados

Um importante passo foi a sinalização positiva do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que informou aceitar receber R$ 18 milhões para quitar uma dívida de R$ 560 milhões.

"Temos acertados os deságios para mais de 80% da dívidas, restando entre 15% a 16% do valor total. O problema é que isso ainda é muito. É mais do que a proposta da Coinbra", afirmou. "Os credores estão no seu legítimo direito de cobrar o que devemos, mas a única proposta firme que temos é a da Coinbra e não vemos perspectiva de que possa haver nova prorrogação de prazo, até porque o grupo já teve muita paciência. Sem isso a perda será total", disse Schmitz.

"Na cadeia são mais de 20 mil pessoas que dependem da Chapecó; 64% de Xaxim (SC) dependem da empresa", acrescentou, para ressaltar a importância social da companhia. Com unidades em Chapecó e Xaxim (SC), Cascavel (PR) e Santa Rosa (RS), o frigorífico catarinense tinha 1,5 mil integrados de aves e teve mais de cinco mil funcionários.

Depois da crise no frigorífico, 3.121 trabalhadores foram demitidos e hoje 999 ainda estão na empresa. A maior parte deles está nas unidades de Chapecó e Cascavel, que prestam serviços para a Aurora e Globoaves, respectivamente. Outros 133 estão afastados pelo INSS e o restante são as equipes de transição que estão nas fábricas paradas e nas granjas.

Segundo Schmitz, essas equipes dariam condições para a Coinbra reiniciar imediatamente o abate de suínos comprando os animais no mercado, caso o negócio seja viabilizado. No caso dos frigoríficos de aves, o processo de retomada seria mais demorado em função da necessidade de alojar os pintinhos no sistema de integração.

No pacote de dívidas que Schmitz ainda tentará obter desconto ao longo destas duas próximas semanas que lhe restam, a mais difícil é com o ABN Amro Real, que tem para receber R$ 48 milhões, diz o executivo. "O banco está no seu papel e tem o direito de cobrar. Mas ainda esperamos que considere o aspecto social", afirmou.

Dos compromissos da Chapecó, R$ 906 milhões são com o sistema financeiro; R$ 84 milhões são as dívidas com fornecedores e prestadores de serviços; R$ 35 milhões são impostos; e R$ 15 milhões são o passivo trabalhista, já considerando as rescisões dos 999 funcionários ainda vinculados à companhia. Se sair o negócio com a Coinbra, a prioridade será o pagamento das dívidas trabalhistas e dos R$ 2,5 milhões devidos aos produtores integrados de aves, além de uma indenização pelo período sem alojamento.

Problemas financeiros

Ao explicar a origem dos problemas financeiros da empresa, Schmitz diz que no reescalonamento das dívidas feito em 1999, quando o grupo argentino Macri assumiu a companhia, a Chapecó já saiu com passivo a descoberto (patrimônio líquido negativo) de US$ 150 milhões. Embora cite as dificuldades da economia Argentina e os problemas de mercado no setor agroindustrial, Schmitz admite que houve problemas de gestão na Chapecó.

"Não soubemos o momento de encolher. Se tivéssemos feito isso o problema hoje poderia ser menor", afirmou, para então emendar: "Não muito, mas de 10% a 15%, o que já seria importante".

Schmitz assumiu a coordenação do o que chama de "missão quase impossível" em abril, quando passou a comandar os esforços para salvar a empresa pela segunda vez (quando o Macri assumiu a empresa também estava em grave crise). "Lutamos para manter a empresa viva e sairemos de cabeça erguida."

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