As exportações brasileiras de suco de laranja congelado e concentrado somaram 136,4 mil toneladas no mês de agosto, um aumento de 86% sobre as vendas registradas no mês de julho e de 22% sobre o desempenho obtido em igual período do ano passado, segundo relatório divulgado pela Associação Brasileira dos Exportadores de Cítricos (Abecitrus). O acentuado crescimento se deve ao atraso nos embarques durante os primeiros meses do ano e ao aumento da demanda da União Européia (UE), que elevou em 129% as compras em agosto sobre o mês de julho. As compras do continente no Brasil somaram 102,2 mil toneladas, em comparação com as 44,5 mil toneladas de julho.
A temporada de forte calor na Europa, que vivenciou um dos verões mais rigorosos da história, contribuiu para aumentar a demanda de suco de laranja nos últimos meses. "Com o calor, os estoques locais foram escoados rapidamente e os pedidos de suco do Brasil cresceram sensivelmente. O aumento da demanda ainda deve ser refletido nos embarques de setembro", diz Ademerval Garcia, presidente da Abecitrus. Segundo o executivo, o aumento da demanda deve elevar em 100 mil toneladas os embarques brasileiros para a Europa no decorrer desta safra.
Historicamente, o continente europeu responde por 70% das vendas brasileiras no mercado externo, ou seja, volume que se situa em 700 mil toneladas ao ano. "Os principais consumidores são os países da Europa Germânica: Suíça, Alemanha, Holanda e Escandinávia", afirma. Com o registro de altas temperaturas em todo o continente europeu, países que tradicionalmente não consumiam grandes volumes de suco, a exemplo das áreas do mediterrâneo, aumentaram as compras do produto. O bom desempenho das vendas à Europa deve provocar mudanças nas previsões iniciais da Abecitrus para as exportações brasileiras ao longo deste ano. "Haverá aumento de 9%", diz Garcia. Com isso, as exportações brasileiras, que estavam projetadas em 1,1 milhão de toneladas para este ano, devem ultrapassar os 1,2 milhão de toneladas. A receita está estimada em US$ 1,4 bilhão para o período.
Além do bom desempenho da Europa, a Ásia também aumentou suas compras no mercado brasileiro. As vendas que no ano passado somaram 13 mil toneladas, devem alcançar as 40 mil toneladas este ano. "No início do ano, as projeções eram de 50 mil toneladas, mas com a incidência da gripe asiática houve uma retração da demanda", diz Garcia.
Previsão de safra
Segundo a Abecitrus, a seca registrada no Brasil nos últimos meses causou redução de 10% no volume de processamento de laranja até agora, prejudicando também as frutas tardias. Se a queda se confirmar pelo restante da safra, o processamento será 10% menor, alcançando 225 milhões de caixas, ao invés das 250 milhões previstas inicialmente, resultando em menos 100 mil toneladas de suco. A queda de produção somada às 100 mil toneladas de demanda extra na Europa pode criar um déficit de 200 mil toneladas no decorrer da safra 2002/03. "Ainda que as chuvas voltem com vigor na época própria, isto é, final de setembro, haverá uma perda de pelo menos 40 mil toneladas nesta safra", diz o presidente da Abecitrus.
Projeções da entidade colocam a produção de laranja em São Paulo em 290 milhões de caixas de 40,8 quilos, volume 19,6% menor que as 361 milhões da safra passada. Já produção de suco deve oscilar entre 800 mil e 900 mil toneladas. "Não fossem os estoques de cerca de 300 mil toneladas da safra passada, não daríamos conta da demanda de exportações deste ano", diz Garcia. Projeções do Instituto de Economia Agrícola (IEA) apontam para uma produção de 331 milhões de caixas de 40,8 quilos, em comparação com as 361 milhões de caixas colhidas no ano passado. Com o clima seco, as floradas são antecipadas e mais numerosas. Por este motivo, os frutos ficam expostos às altas temperaturas registradas no verão. Segundo Nelson Martim, coordenador do IEA, este foi o principal fator para a quebra da safra atual. Os pomares do estado de São Paulo, principal pólo produtor de laranja do Brasil, ocupam este ano uma área de 658,9 mil hectares, uma ligeira redução de 0,36% sobre a área em produção da safra passada. Já a produtividade caiu 7,2% para 23,3 mil quilos por hectare, em comparação com os 25,1 mil quilos por hectare do ano passado.