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Falta de rotação na lavoura de soja pode reduzir produtividade


Os agrônomos das cooperativas agrícolas paranaenses e especialistas do mercado agrícola acompanham com preocupação uma tendência que vem se disseminando no meio rural: o plantio de soja sem a necessária rotação com outra cultura, o que poderá acarretar, em alguns anos, uma perda de produtividade ou uma disseminação de doenças.

Dados levantados por técnicos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e da Secretaria de Agricultura do Paraná comprovam que pelo menos 80% das 100 mil propriedades rurais paranaenses que se dedicam ao cultivo da oleaginosa não estão obedecendo as recomendações dos especialistas, no sentido de se plantar milho ou outra cultura após a colheita da soja. Na avaliação desses especialistas, o problema não se restringe apenas ao Paraná, mas não tem sido observado também pelos proprietários rurais do Centro Oeste e de outras regiões.

Segundo o especialista Benedito de Oliveira, da Agência Rural, que acompanha as cotações de commodities em todo o mundo, a explicação para a resistência do pessoal em realizar a rotação é a cotação alta da soja. "No porto de Paranaguá, a saca de soja custa atualmente R$ 46, em relação à média de R$ 17 a R$ 17,50 da saca de milho, o que significa uma relação de 2,7 a 2,8, muita acima da média histórica, que é de duas sacas de milho por uma de soja. Quando essa média varia de 1,8 a 2, o pessoal faz a rotação da cultura", afirma.

Para ele, haverá quebra de pelo menos 9% na cultura de milho (safra principal) na próxima safra. A área plantada em 2002/03, de 9,5 milhões de hectares, cairá para 8,1 milhões de hectares no País. Em relação à soja, será o inverso. A área plantada vai crescer de 18,5 milhões para 20,1 milhões de hectares.

O agrônomo Seneri Paludo, também da Agência Rural, considera "preocupante" essa tendência dos produtores de plantar soja sobre soja. "A não rotação propicia o desenvolvimento de doenças e a propagação de fungos no meio cultural, com perda de produtividade."

Outro agrônomo, Ottmar Hubner, do Deral, órgão vinculado à Secretaria de Agricultura do Paraná, destaca que ainda há produtores, mais profissionais ou de pequeno porte, que fazem a rotação no Sul. Além disso, após a colheita da soja, que se encerra em janeiro, alguns plantam, parcialmente, a chamada safrinha de milho. Entretanto, nas terras do Centro-Oeste não há essa opção e os produtores implantaram mesmo a monocultura da soja.

Hubner endossa as preocupações de seus colegas da Conab e da Agência Rural em relação à possibilidade de ocorrência futura de pragas e queda de produtividade. "Creio que isso não aconteceu ainda devido ao desenvolvimento do segmento de sementes, com o aparecimento de novas variedades."

Após percorrer mais de 10 municípios produtores paranaenses, semana passada, o agrônomo Pedro Santi Correa, da Conab, informou que, com base em dados fornecidos pelas cooperativas agrícolas estaduais, pode-se afirmar que há pelo menos três safras - em alguns casos, quatro - os produtores não obedecem a rotação cultural, principalmente nas regiões oeste e centro-oeste do estado, onde as terras são planas e próprias para o uso de equipamentos agrícolas.

"A rotação comprovadamente beneficia a fertilidade do solo e na melhoria da rentabilidade, ao fixar nitrogênio no solo", confirma Pedro Santi Correa. Na sua avaliação, ao insistir com a prática de se plantar soja sobre soja, os agricultores causarão um esgotamento do solo no prazo máximo de dez anos. "Já há casos confirmados de aparecimento de doenças, como o cancro da haste", afirma.

Na região de Campo Mourão, sede da maior empresa agrícola paranaense, a Coamo Agroindustrial Cooperativa (Coamo), a próxima safra de soja já tem comprovadamente 978 mil hectares reservados. A Coamo tem realizado um trabalho de conscientização com seus associados, com palestras sobre a necessidade de se realizar a substituição de culturas todos os anos, mas há uma insistência dos produtores no sentido de aproveitar os altos preços da soja e insistir no plantio.

Produto transgênico

O Ministério da Agricultura divulgou nota ontem e informou que as sementes de soja transgênicas da safra 2002/03, guardadas pelos produtores para uso próprio, poderão ser utilizadas na safra 2003/04 desde que plantadas até 31 de dezembro deste ano. O alerta do ministério é que os grãos não podem, "sob nenhuma hipótese", ser comercializados para plantio nem tampouco semeados fora do estado em que foram produzidos.

kicker: Em Paranaguá, a saca da oleaginosa é vendida R$ 46, em relação a R$ 17 do milho

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