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"Fuga" do leite para carne preocupa


A abertura de novos mercados para a carne brasileira por causa do surgimento de um caso do mal da "vaca louca" nos Estados Unidos pode trazer conseqüências negativas para outro setor da pecuária, que vive uma crise agravada pela concordata da Parmalat. Se nada for feito no sentido de garantir renda para o setor leiteiro, o produtor poderá trocar o leite pela carne e provocar o desabastecimento no período de entressafra. Esse é o temor do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.

Para o ministro, a saída passa pelo fortalecimento das cooperativas leiteiras do país, através de um amplo programa de fusões e incorporações e uma boa ajuda financeira do BNDES. Técnicos do ministério e da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) já estão trabalhando para mapear quais as cooperativas que poderão ser fundidas, para que o BNDES possa fazer a análise de viabilidade econômico-financeira dos projetos.

O Brasil tem hoje 353 cooperativas leiteiras, mas apenas cinco estão na lista das 15 maiores empresas de laticínios do país. O governo quer estimular o produtor de leite a não abandonar a atividade. Grandes cooperativas, para o ministro, darão suporte para que haja investimentos na melhoria da qualidade do rebanho e modernização dos processos de coleta de leite. Também vão garantir escala suficiente para agregar valor ao leite, com a produção de queijo, requeijão e leite em pó.

"A crise circunstancial da Parmalat cria a oportunidade de uma revisão de todo o modelo (da cadeia de produção de leite)", disse Rodrigues. As empresas que atuam no setor também serão ouvidas. Nesta semana, o ministro reúne em Brasília representantes dos maiores laticínios do país para discutir a situação do mercado.

"Com a "vaca louca" e a eventual oportunidade de abertura de mercado para a carne, o produtor vai matar a vaca para vender carne. Aí teremos um problema de abastecimento. No curto prazo eu estou preocupado com a renda do produtor para garantir o consumidor daqui a quatro ou cinco meses, quando entra o período de seca e a produção cai normalmente".

Rodrigues acredita que o preço da carne poderá subir internamente, caso o Brasil tenha sucesso nas negociações para abertura de novos mercados. Ele estima que as exportações de carne poderão crescer este ano entre 10% e 15%, o que representaria um acréscimo de até US$ 600 milhões no resultado das exportações brasileiras.

O ministro revelou que o Japão já avisou formalmente, por meio da embaixada em Brasília, que estuda a flexibilização das regras de importação de carne, o que poderá beneficiar o Brasil. Uma delegação brasileira de empresários, diplomatas e técnicos do governo, chefiada pelo secretário de Defesa Agropecuária, Maçao Tadano, seguirá para o Japão no próximo dia 25. Os negociadores brasileiros também visitarão a Coréia do Sul e Taiwan, também potenciais compradores para a carne brasileira. O objetivo é convencer estes países a adotar as regras internacionais que admitem a importação de carne de áreas livres de aftosa com vacinação, mesmo que a doença não esteja totalmente erradicada no país produtor. No caso do Brasil, cerca de 85% do rebanho nacional estão em áreas livres da doença.

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