A Voz do Mercado: especialistas analisam os desafios do agro em 2025
Autoridades e especialistas debateram o ano de 2025
Foto: Arquivo
O ano de 2025 será lembrado como um dos mais complexos e desafiadores da história recente do agronegócio brasileiro. Em um cenário de recorde produtivo, o setor precisou lidar com um conjunto de fatores adversos: o tarifaço imposto pelos Estados Unidos, os efeitos climáticos do La Niña, altos custos de produção e a pressão por comprovações ambientais em plena rota da COP 30. Para analisar esse cenário, o Talk Show A Voz do Mercado, mediado por Ivan Wedekin e Suelen Farias, reuniu especialistas para avaliar o desempenho do setor ao longo do ano.
Participaram do debate o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura e Pecuária, Luis Rua, o secretário-executivo do Consórcio da Amazônia Legal, Marcello Brito, e o CEO da Céleres, Anderson Galvão.
Tarifas dos EUA e diversificação de mercados
Luis Rua foi enfático ao destacar o impacto das tarifas norte-americanas: “Tivemos uma queda de 35% nas exportações para os Estados Unidos em outubro, comparado ao mesmo mês de 2024. Isso se deve à tarifa extra de 50% imposta a diversos produtos brasileiros”. Segundo ele, a reversão parcial das tarifas em novembro trouxe alívio para cadeias como carne bovina, café e frutas, mas ainda há setores prejudicados, como pescado, carne suína e mel.
Apesar da retração nos EUA, o Brasil conseguiu ampliar sua presença global. “Exportamos mais de US$ 15 bilhões em outubro, com aumento de 8,5% em relação a 2024, graças à nossa estratégia de diversificação de mercados”, afirmou o secretário. De 2023 a 2025, o país abriu 496 novos mercados e ampliou mais de 200, impulsionando a competitividade dos produtos agropecuários brasileiros.
Acordo com União Europeia e projeções para 2026
Outro ponto de destaque foi o esperado acordo entre Mercosul e União Europeia. Previsto para ser assinado em 20 de dezembro, o tratado pode beneficiar amplamente o agro brasileiro. “Estamos falando de quase 800 milhões de consumidores e cotas expressivas para etanol, carnes e frutas. Isso vai reposicionar o Brasil no comércio internacional”, afirmou Rua.
Ele ressaltou que o acordo, além de ampliar mercados, fortalece a imagem do Brasil como fornecedor confiável e competitivo. “Nosso papel também é ajudar o pequeno e médio produtor a atravessar essas portas que abrimos”, complementou, citando ações como a Caravana do Agroexportador e os relatórios Agro Insights produzidos pelos adidos agrícolas.
COP 30: início de uma nova etapa para o clima e o agro
Marcello Brito destacou a importância estratégica da COP 30. “A conferência não terminou; ela começou em Belém. Estamos entrando agora nas fases mais técnicas”, afirmou. Segundo ele, a COP 30 trouxe avanços ao colocar a Amazônia no centro do debate nacional e por abrir caminho para discussões mais profundas sobre transição energética e sustentabilidade no agro.
Brito elogiou a atuação diplomática brasileira, que conseguiu inserir temas relevantes na agenda climática mesmo sem resoluções definitivas. “A primeira reunião sobre o caminho dos combustíveis fósseis será em abril, com 80 países já confirmados. É um debate de longo prazo, mas que começou com protagonismo brasileiro”.
Crédito rural e risco financeiro na safra 25/26
Anderson Galvão trouxe uma análise pragmática sobre a nova temporada agrícola. Para ele, a volta das margens reduzidas impõe cautela e reforça o risco para produtores mais alavancados. “O setor financeiro está mais seletivo. Sem gordura, qualquer derrapada na produtividade pode comprometer o pagamento”, alertou.
Galvão observou uma dicotomia no campo: produtores capitalizados conseguiram atravessar a fase difícil, enquanto os endividados enfrentam maior dificuldade de acesso ao crédito. “É hora de realismo. Aquele período de margens excepcionais ficou no passado. Agora o agricultor precisa redobrar a gestão financeira e técnica”.
Apesar dos desafios, os especialistas demonstraram otimismo em relação ao futuro. Luis Rua afirmou que o Brasil está mais preparado para 2026, com mercados diversificados, ações coordenadas de governo e setor privado, e uma agenda ambiental cada vez mais integrada à pauta comercial. A abertura recorde de mercados em 2025 e os avanços em acordos multilaterais colocam o país em posição estratégica no agro global.
Encerrando o programa, Ivan Wedekin sintetizou o espírito do encontro: “O Brasil está virando a chave de fornecedor reativo para protagonista global no agro, e essa transformação precisa ser sustentada com inteligência, técnica e união”. A frase resume o tom do debate e reforça que o agro brasileiro não apenas resistiu aos desafios de 2025 — ele aprendeu com eles e se fortaleceu para os próximos ciclos.
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