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A "melhor" tecnologia


Gilberto R. Cunha

Discute-se muito (na maioria das vezes, sem grandes conhecimentos de causa) sobre a "melhor" tecnologia agropecuária. Nessas ocasiões, quase sempre, a tendência é predominar visões disciplinares, defesas corporativas, concepções ideológicas (não necessariamente ruins ou erradas) ou interesses comerciais. Talvez a questão esteja sendo posta de forma equivocada e nem exista uma "melhor" tecnologia agropecuária, mas sim uma mais adequada para cada situação. Mesmo na comunidade científica atuante nas ciências agrárias não se tem consenso a esse respeito; ressalte-se. Tampouco há no segmento de assistência técnica/extensão rural e no meio dos produtores, embora, em certos momentos, há quem insista no contrário, quase sempre, seguindo comportamentos massificados ou modismos.

Não sendo tão novo e nem tão antigo assim, começou a ganhar força nas ciências agrárias o modelo de tecnologia agropecuária sustentável. Que seria isso? Nada muito diferente de algo que possibilite uma produção de comida capaz de suprir as necessidades (quantidade e qualidade) de mais de seis bilhões de criaturas humanas. E, sem desconsiderar que a população mundial não pára de crescer, podendo chegar aos nove bilhões de humanos antes mesmo de cumprida a primeira quarta parte do atual século; demandando cada vez mais e melhores alimentos. Em resumo: sem utopias, garantir segurança alimentar (quantidade, qualidade e acesso indistinto para todos).

São muitas as definições de tecnologia agrícola sustentável. Em comum, quase todas trazem, de forma explicita ou implícita, jargões do tipo "economicamente viável, socialmente justas, preservadoras do ambiente e, como um acréscimo relativamente recente, incluiu-se o politicamente defensável”.Coisas que podem significar muito ou nada; tudo vai depender do valor e do entendimento que se dê a essas expressões.

Deixando de fora a emoção que costuma permear esse tipo de debate, vale ampliar. O ladoeconômico das novas tecnologias agropecuárias não pode ser perdido de vista jamais. Basta ver a participação do agronegócio brasileiro no produto interno bruto, por exemplo, para reforçar essa idéia. Se valer para o país também vale para os indivíduos: uma tecnologia, para merecer o rótulo de inovação, tem que ser capaz de gerar renda e não somente aumentar gastos, como ocorre em alguns casos. Mas, também não é suficiente só considerar o aspecto econômico. Nada pode justificar a geração de renda a qualquer custo. Por exemplo, às expensas de uma degradação extrema e insustentável do ambiente (embora não se possa ignorar que a agricultura, por si mesma, já é uma intervenção extrema na natureza). Portanto, não dá para simplesmente desconsiderar a necessidade de avaliações de impactos no ambiente de tecnologias ainda desconhecidas. E mais: nunca se pode perder de vista os aspectos sociais afetados pela inovação tecnológica. Intervenções no meio rural com tecnologias não comprometidas socialmente pode acabar trazendo mais problemas que propriamente benefícios. A defesa política de qualquer nova tecnologia é mera conseqüência dos aspectos discutidos. Se for econômica, não degradar o ambiente e se mostrar socialmente justa (não causar exclusão), com certeza que tem a sua defesa política assegurada.

Nada mais palpável em agricultura, em termos de tecnologia, que cultivares. Na semente de uma cultivar escolhida para ser plantada há muito mais tecnologia e investimentos do que geralmente se costuma imaginar. E ai vem também uma questão crucial: qual a melhor cultivar? Resposta elementar: depende. Depende de se conseguir otimizar a combinação entre o melhor genótipo (cultivar), no ambiente certo, conduzido sob práticas de manejo adequadas e que seja capaz de gerar resultados que atendam as expectativas das pessoas envolvidas no processo de produção. Simples, desde que se consiga visualizar e entender a interdependência entre esses fatores.

(Gilberto R. Cunha é pesquisador da Embrapa Trigo, de Passo Fundo/RS.)

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