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A conta das promessas eleitorais


Argemiro Luís Brum

A história nos mostra, e nossos comentários nas últimas semanas alertaram, quanto a conta que o país teria que arcar quando as promessas eleitorais, qualquer que fosse o candidato eleito ao governo brasileiro, tivessem que ser postas em prática. A outra opção seria não as cumprir. O candidato agora eleito, diante da necessidade social da maioria dos brasileiros, e não desejando iniciar seu governo praticando um “calote eleitoral”, se vê, hoje, às voltas com uma delicada costura para iniciar o mandato com, pelo menos, o encaminhamento de algumas dessas promessas. Particularmente visando manter o Auxílio Brasil em R$ 600,00 mensais e corrigir o salário mínimo pela nova sistemática desejada (a inflação do ano anterior, mais a média do PIB dos últimos cinco ou seis anos). Neste último caso, para o primeiro ano (2023), haveria um ganho real deste salário entre 1,3% e 1,4%. Isso será possível desde que a inflação oficial do ano 2022 vier 1,3 ponto percentual abaixo de 7,5%, valor aproximado que está previsto no Orçamento. Além disso, acaba ajudando muito o pífio crescimento econômico que o país tem nos últimos anos. O problema será os anos seguintes. Quanto ao Auxílio Brasil, que no orçamento para 2023 está projetado em torno de R$ 400,00, não há alternativa senão furar o teto de gastos, algo que já está em discussão na atual transição de governo. Fica evidente que uma nova âncora ao gasto público precisa ser criada rapidamente, mais eficaz que o teto de gastos, já totalmente desgastado pelo atual governo. Mas o desafio é ainda maior: para cumprir as promessas eleitorais, que são muitas, o novo governo terá que reduzir despesas na outra ponta e/ou aumentar as receitas. Neste segundo caso, se não optar pelo caminho mais fácil, que é aumentar impostos, terá que trabalhar fundo para recuperar a receita via maior crescimento da economia. E isso não será simples de fazê-lo, lembrando que o mundo sinaliza uma nova recessão geral no horizonte. Além disso, reformas tributária e administrativa, muito bem-feitas, se tornam urgentes. Mesmo assim, em acertando tudo isso, talvez somente em 2024 haja uma melhoria no quadro fiscal e de outros indicadores econômicos. O risco de derrapagem é enorme, o que exigirá uma equipe econômica de grande habilidade, e que não caia na tentação “desenvolvimentista intervencionista”.

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