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A crise, os bancos e as fraudes


Argemiro Luís Brum
A crise mundial continua! A saída do fundo do poço está mais lenta do que se previa inicialmente. Nestes últimos dias de junho novamente as bolsas despencaram, com a Bovespa perdendo 3,5% no dia 29/06, em razão de índices econômicos negativos pelo mundo afora, particularmente junto aos desenvolvidos. Dados sobre a China e sua necessidade em frear o crescimento, assim como no Brasil, auxiliaram no recuo geral.
E isso tudo coincidiu com o final de mais uma reunião do G20, que tinha como objetivo criar elementos de regulação para o sistema financeiro. Os poucos avanços nesta reunião acabaram igualmente deixando o mercado mais preocupado. Afinal, um dos grandes problemas vindo à tona com esta crise se encontra nas informações adulteradas que os bancos internacionais vêm passando ao mercado. Nesse contexto, a prática tem mostrado que a realidade econômico-financeira dos mesmos é bem mais difícil do que seus balanços indicam.
Apenas neste primeiro semestre 85 bancos faliram nos EUA! E, após o Lehman Brothers, que quebrou em setembro de 2008, em abril de 2010 a crise se evidenciou no Goldman Sachs, outro grande do sistema financeiro mundial. Motivo: ter “roubado” do Estado norte-americano, e por extensão de seus clientes, uma soma importante quando do socorro estatal direcionado ao setor em setembro de 2008 (cf. Le Monde).
Apesar de manter sua relativa solidez, o fato é que o banco perdeu sua influência política nos EUA e está a perigo, embora pouco se fale nele atualmente. Na verdade, para usar uma expressão francesa, a causa da crise do Goldman Sachs, e que é causa de crise para outros bancos mundiais, está no fato de que o mesmo “deixou de ser um banco de negócios e investimentos produtivos para se tornar um cassino especulativo”.
A crise, os bancos e as fraudes (II)
Assim, o interesse dos clientes ficou em segundo plano! O banco passou a jogar em conta própria e não em favor dos seus clientes, nem que para isso fosse necessário mascarar seus balanços. E isso vem de longe! Ao privilegiar atividades de mercado, a partir de 1990, o banco deu o sinal de que mudava sua postura de prudência e conselho às empresas clientes.
O equilíbrio entre as duas atividades foi quebrado e, com o estouro da crise mundial, o banco igualmente estoura.
Criou-se um “supermercado” das finanças, onde três atividades se misturam: conselho às empresas; gestão do patrimônio e negócios por conta própria, usando o dinheiro dos clientes. Para se ter uma ideia do que isso significa em números, vejamos: em 1999 os negócios especulativos representavam 43% da renda líquida do Goldman, alcançando US$ 13,3 bilhões.
Em 2006 os mesmos representavam 68% da renda líquida. Ao mesmo tempo, a parte “banco de investimentos”, que era de 33% em 1999, recuou para apenas 15% e a gestão de patrimônio dos clientes, que era de 24%, passou a 17%, de uma renda total de US$ 37,7 bilhões. Já em 2009 a parte especulativa subiu para 77%, os investimentos produtivos caíram para 10% e a gestão de patrimônio recuou para 13%, sobre uma renda total que subiu para US$ 45,1 bilhões (cf. Le Monde).
Uma explicação para tal comportamento suicida no longo prazo é dada em três etapas, e que serve de lição aos outros:
1) a forte concorrência no sistema financeiro levou o banco a buscar a especulação financeira, que gera maior volume final de negócios e resultados imediatos;
2) a cultura da casa, que alimentou o sucesso a qualquer preço, somado a uma peculiar arrogância e pressão constante por resultados;
3) um banco pouco transparente, muito fechado diante de analistas e a mídia, e que não trabalha diretamente com o público.    

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