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A crise e o mercado interno


Argemiro Luís Brum
A crise mundial continua! Evidenciada em meados de 2007, após três anos, as coisas não se arranjam no cenário internacional. Agora, com o anúncio de que a Hungria igualmente se encontra em situação falimentar (dívida pública superior a possibilidade de pagamento), aumenta o número de países europeus em situação crítica.
O euro, moeda única de parte da União Europeia, já foi salvo uma vez. Exatamente no dia 7 de maio de 2010 o mesmo esteve a ponto de “morrer” diante do impacto da crise na Grécia e outros países vizinhos. O mesmo foi salvo pela reação dos países da União que, apoiados pelos EUA e pelo FMI, destinaram cerca de US$ 1,0 trilhão para salvar os países em situação falimentar.
O problema é que o número destes países não pára de aumentar e o mundo vem sendo corroído pelo problema dia após dia. Os EUA, nesse momento, já começam a acusar novamente o problema. Hoje a moeda europeia está abaixo de US$ 1,20, ganhando mais competitividade e complicando os interesses exportadores estadunidenses.
Além disso, uma economia europeia em crise, num contexto mundial de dificuldades que dura três anos, enfraquece o sistema financeiro dos EUA e a recuperação econômica do chamado Primeiro Mundo. Aliás, boa parte dos países desenvolvidos, e outros tantos subdesenvolvidos, ainda terão um crescimento negativo ou próximo de zero em 2010.
Nesse marasmo mundial, o Brasil destoa positivamente, assim como a China, anunciando um PIB anualizado de 9% no primeiro trimestre de 2010.   
A crise e o mercado interno (II)
A explicação é conhecida de todos, mas precisa ser temperada com realismo. Em primeiro lugar, a crise nos atinge pesadamente, tanto é verdade que nosso PIB no primeiro trimestre de 2009 foi negativo de 2,1% e no ano todo passado em 0,2%.
Em segundo lugar, o país conseguiu contornar relativamente bem a crise porque, usando a estabilidade econômica construída desde 1994, pode adotar medidas de apoio ao consumo interno, via liberação maciça de crédito público e redução setorial de impostos. Em terceiro lugar, comprovou-se o potencial de nosso mercado interno, amordaçado por uma má distribuição de renda, concentrada absurdamente no Estado em particular. Bastou dar-lhe certo fôlego e o consumo estourou, puxando a economia em 2010.
Isso permite mais empregos, mais renda e um melhor enfrentamento das crises externas. Todavia, o nosso grande pecado vem novamente à tona. Por não termos feito o dever de casa completo, sustentando reformas estruturais profundas, particularmente no Estado, não construímos uma estrutura que possa aguentar esse crescimento de 9% de forma sustentável. Assim, somos obrigados a frear o processo, via aumento de juros (está aí novamente a decisão do Copom), retorno dos impostos (altíssimos) sobre os bens de consumo, infraestrutura etc. Nossa capacidade de crescimento, da forma como estamos, não permite irmos muito além de 5% ao ano. Isso é insuficiente para alcançarmos o desenvolvimento da Nação.
Por incapacidade e falta de interesse estamos perdendo um momento histórico para nova virada em nossa economia.      

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