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Alerta!


Argemiro Luís Brum
Os resultados recentes das economias dos EUA, dos países da União Europeia e do Japão, associados às decisões da China de frear o ímpeto de sua economia (fato que o Brasil vem tentando igualmente) fazem parte de um mesmo cenário. A crise econômico-financeira, que estourou em meados de 2007, continua e não dá sinais de ceder. A diferença agora é que o capital financeiro assume o lugar dos Estados como elemento motor do processo.
Ou seja, após o setor privado (bancos especialmente) ser atingido pela crise, tendo se retirado do financiamento à economia, os Estados vieram em socorro do mercado injetando somas fabulosas na mesma. Isso ajudou a conter a queda, porém, não está tirando o mundo do fundo do poço. Agora, os recursos estatais se esgotam, já tendo gerado uma crise fiscal de proporções assombrosas em alguns países.
Esta nova bolha, que acaba de estourar, alimenta o capital financeiro especulativo, o qual fica à espreita de qualquer derrapada na gestão da economia global para tirar proveito. A situação é tão séria, neste meados de 2010, que economistas como Paul Krugman (Prêmio Nobel de Economia de 2008) alertam para uma possível depressão mundial nos próximos meses, se nada for feito de concreto para conter o processo.
A esperança na reunião do G20 se esvaiu, na medida em que o grupo pouco trouxe de concreto como solução aos problemas atuais do mundo, embora haja o consenso de que novas regras de regulação do capital financeiro precisam ser construídas.
Alerta! (II)
Ora, uma depressão é algo muito sério, pois significa uma economia mundial decrescendo (PIB médio negativo) por um longo período de tempo. Seria a terceira da histórica econômica (a primeira ocorrida em 1873 e a segunda em 1929, quando do crash de Wall Street).
Por enquanto ainda não estamos lá, porém, com o passar dos anos (já estamos no terceiro ano desta crise) o medo se instala junto às principais economias mundiais. E o Brasil sabe disso, embora o discurso político seja de que o país tenha superado tal crise. Tanto é verdade que o Banco Central brasileiro, nesta semana, editou nova regulamentação, que entrará em vigor em 2012, prevendo que os bancos reservem mais recursos para fazer frente a uma eventual (e hoje bastante provável) crise internacional de proporções à de 2008.
Além disso, o Banco Central brasileiro anunciou que retirará do mercado, até julho de 2014, R$ 4,7 bilhões, sendo R$ 1,6 bilhão já neste mês de julho. Isso, para tentar evitar o estouro da bolha consumista que se construiu no país. Particularmente, afirmo que não se trata de uma nova crise, mas sim de uma recaída importante da crise que ainda não foi superada. A ideia, com razão, é evitar que os bancos brasileiros tenham muitos recursos disponíveis para fazer apostas de riscos, com o capital alheio, no mercado financeiro, assim como existe sim uma bolha de consumo perigosa em nossa economia.
Pelas datas estabelecidas, nota-se que a expectativa é de que o mundo não saia efetivamente da atual crise nem mesmo no médio prazo, confirmando nossos alertas quando do estourou da mesma há três anos.
A contradição do Brasil
O que o leitor pode estar se perguntando é: “...afinal, se esta crise continua, porque no Brasil parece que a mesma não se faz presente?” O Brasil, assim como a China, não pode se enganar com o fenômeno.
Efetivamente, estas duas economias estão crescendo muito para um período de crise mundial (nova projeção brasileira dá conta que 2010 pode terminar com 7% de crescimento no PIB neste ano). Todavia, tal crescimento se dá graças a forte injeção de recursos estatais na economia interna, em substituição ao dinheiro privado, somado a um estímulo ao consumo interno generalizado.
Assim, graças a um enorme mercado interno, com uma demanda reprimida historicamente, é que sentimos menos a atual crise quando o mesmo passa a consumir. Um mercado interno que os países ricos, em especial, já não possuem mais com tanto potencial. Desta forma, enquanto a produção brasileira e chinesa cresce, a ponto dos países terem que frear dito crescimento por não possuírem estrutura para suportá-lo, os países ricos estagnam e mesmo regridem.
Todavia, tal comportamento gera um problema já indicado há mais tempo: o convite ao consumo desenfreado, pela facilidade creditícia oferecida, o qual leva a um endividamento com forte potencial de inadimplência na maioria dos setores (a bolha). Como há, geralmente, um período de carência para o pagamento de tais dívidas, principalmente as mais importantes, o problema ainda não se manifestou plenamente. Mas os próximos dois anos serão decisivos nesse sentido (grandes dificuldades à vista para o futuro governo).
O convite ao consumo interno está correto e sempre foi necessário na história deste país. O que faltou foi alertar (ou ensinar) a população sobre a importância de se consumir com responsabilidade, ou seja, dentro do que o orçamento familiar realmente permite. A situação é tão séria que finalmente, após mais de dois anos de estímulo ao consumo desenfreado, os próprios bancos brasileiros acordaram para o problema e começam a fazer movimentos no sentido de estimular o consumo consciente, visando educar o cliente a evitar o aumento da inadimplência.
Uma iniciativa acertada, porém, provavelmente tardia!

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