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Alternativas tecnológicas para a pecuária da Amazônia Ocidental. II. Manejo de capineiras


Newton de Lucena Costa

1. Manejo de capineiras - A baixa disponibilidade de forragem, durante o período seco, afeta seriamente o desempenho animal, implicando em perda de peso, declínio acentuado da produção de leite, diminuição da fertilidade e em enfraquecimento geral do rebanho. A suplementação alimentar, durante o período de estiagem, torna-se indispensável, visando amenizar o déficit nutricional do rebanho. A utilização de capineiras surge como uma das alternativas para assegurar um melhor padrão alimentar dos rebanhos durante a época de escassez de forragem. O capim-elefante (Pennisetum purpureum), devido ao fácil cultivo, elevada produção de matéria seca, bom valor nutritivo, resistência a pragas e doenças, além da boa palatabilidade, tem sido a forrageira mais utilizada para a formação de capineiras em Rondônia.

Formação da capineira - A capineira deve ser localizada em terreno plano ou pouco inclinado, bem drenado e próximo ao local de distribuição do capim aos animais. A área deve ser destocada, arada e gradeada para facilitar o desenvolvimento da planta e as atividades de manutenção e utilização. Em geral, um hectare de capineira, bem manejada, pode fornecer forragem para alimentar 10 a 12 vacas durante o ano. Nos solos ácidos a calagem deve ser realizada pelo menos 60 dias antes do plantio, aplicando 1,5 a 3,0 t/ha de calcário dolomítico (PRNT igual a 100%). No plantio recomenda-se a aplicação de 80 kg de P2O5/ha. A adubação orgânica poderá ser feita utilizando-se 10 a 30 t/ha de esterco bovino, no sulco de plantio, o que equivale a cerca de 50 a 70 carroças de esterco/ha. Após cada corte deve-se aplicar 5 t/ha de esterco e, anualmente 50 kg de P2O5/ha. Caso a análise química do solo apresente valores baixos de potássio (< 45 ppm), sugere-se aplicar 60 kg de K2O, sendo metade no plantio e metade após o segundo corte. O plantio deve ser realizado no início do período chuvoso. As mudas devem ser retiradas de plantas com 3 a 12 meses de idade. Deve-se aparar as plantas e retirar as folhas para que ocorra uma melhor brotação. A quantidade de mudas necessárias para o plantio varia de acordo com o espaçamento. No sistema de duas estacas/cova, no espaçamento de 1,0 m entre sulcos e 0,8 m entre covas, necessita-se cerca de 25.000 estacas de 2 a 3 nós/ha. As mudas devem ser colocadas horizontalmente em sulcos com 10 a 15 cm de profundidade. Em média, um hectare fornece mudas para o plantio de 10 ha de capineira. As cultivares recomendadas são Cameroon, Mineiro e Pioneiro.

Manejo - A frequência entre cortes afeta marcadamente a produção de forragem, valor nutritivo, potencial de rebrota e persistência (vida útil da capineira). O primeiro corte após o plantio deve ser realizado quando as plantas estiverem bem entouceiradas, o que ocorre cerca de 90 dias após o plantio. Os cortes devem ser realizados a intervalos de 45 a 60 dias, ou quando as plantas atingirem de 1,5 a 2,0 m de altura. A altura de corte em relação ao solo depende do nível de fertilidade e umidade do solo. Quando as condições para as brotações basilares forem satisfatórias (solo bem adubado ou de alta fertilidade natural), o corte pode ser feito rente ao solo; caso contrário, deve ser efetuado entre 20 a 30 cm acima do solo. Os melhores resultados são obtidos com cortes feito com terçado, foice ou enxada. Cortes mecanizados podem prejudicar a longevidade da capineira. Nas condições edafoclimáticas de Rondônia, os rendimentos de forragem do capim-elefante variam entre 6 a 10 t/ha/corte de matéria seca. Recomenda-se o diferimento da capineira durante o período chuvoso, visando o acúmulo de forragem para a suplementação dos rebanhos durante o período seco. Visando conciliar rendimento e qualidade de forragem, sugere-se o seguinte esquema: diferimento em março para utilizações em junho e julho e, diferimento em abril para utilizações em agosto e setembro.

2. Capim-elefante Anão - A Embrapa Amazônia Oriental introduziu em 1983 no Brasil a cultivar de capim-elefante de porte baixo, denominada Anão, a qual foi desenvolvida na Universidade da Flórida (USA). Esta cultivar mostrou-se bastante promissora para pastejo direto, devido ao seu porte que não ultrapassa 1,0 m de altura, sob utilização normal. No entanto, apesar de seu porte o potencial de produção de forragem não é comprometido, enquanto que sua composição química supera as cultivares de porte alto, face a sua grande proporção de folhas em relação aos colmos. Trabalhos conduzidos na Embrapa Rondônia, onde avaliou-se o desempenho agronômico da cv. Mott em relação à Cameroon, mostraram que as duas foram semelhantes quanto à produção de forragem (37 e 38 t de MS/ha/ano). Com relação aos rendimentos de PB, a cv. Mott (3.480 kg/ha) superou a Cameroon (3.108 kg/ha). Quanto as práticas de manejo do capim-elefante cv. Mott, os resultados obtidos indicam que o manejo mais adequado, visando a manutenção do vigor de rebrota, persistência e obtenção de altos rendimentos de forragem com bom valor nutritivo, consiste em cortes a cada 70 dias e a 15 cm acima do solo. Com relação ao manejo da capineira para a produção de feno-em-pé, recomenda-se o diferimento em março para utilização em junho e julho e, diferimento em abril para utilização em agosto e setembro.

3. Consorciação de capim-elefante com leguminosas forrageiras - A suplementação volumosa dos rebanhos, durante o período de estiagem exclusivamente com capim-elefante, apresenta limitações de ordem qualitativa, principalmente sob o ponto de vista proteico. Logo, uma alternativa bastante viável para contornar esta deficiência é a consorciação da gramínea com leguminosas forrageiras tropicais. Em Presidente Médici, a adubação nitrogenada incrementou as produções de MS e PB do capim-elefante em cultivo puro. As consorciações de capim-elefante com C. macrocarpum CIAT-5062, C. mucunoides, D. ovalifolium CIAT-350, P. pahaseoloides CIAT-9900 e C. pubescens CIAT-438 proporcionaram rendimentos de forragem e PB semelhantes aos obtidos com a gramínea em cultivo puro fertilizada com 100 kg de N/ha. As consorciações que se mostraram mais compatíveis, em termos de produção de forragem, composição botânica e teores de PB, foram capim-elefante com C. macrocarpum, D. ovalifolium e P. phaseoloides. As leguminosas que fixaram as maiores quantidades de N foram P. phaseoloides (71,04 kg/ha/ano) e D. ovalifolium (69,41 kg/ha/ano), enquanto as que transferiram as maiores quantidades para o capim-elefante foram D. ovalifolium (29,95 kg/ha/ano), C. mucunoides (25,47 kg/ha/ano) e C. pubescens (18,75 kg/ha/ano). Já, em Ouro Preto do Oeste as consorciações com D. ovalifolium e P. phaseoloides forneceram rendimentos de MS semelhantes aos obtidos com a gramínea em cultivo puro fertilizado com 50 kg de N/ha/ano. As leguminosas mais eficientes na transferência de N para a gramínea foram D. ovalifolium (48,34%) e P. phaseoloides (18,80%).

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