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Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA), vão decolar ?



Fernando Lobo Pimentel
Como mais um dos elementos da sopa de letrinhas que marcou o lançamento dos “Novos Títulos Agrícolas” em 2004, a saber: CRA, CDCA, LCA, CDA-WA, etc.; o CRA- Certificados de Recebíveis do Agronegócio ainda não havia mostrado a que veio, até esse ano. Análogo ao CRI - Certificados de Recebíveis Imobiliários, sob o ponto de vista estrutural e jurídico, ambos os papéis trazem vantagens para o investidor pelo fato de serem isentos de IR. Na atual conjuntura, de juros baixos e poucas opções de investimento rentáveis, o investidor comum começa a explorar alternativas de maior risco e melhor remuneração, fator de mercado que torna esses títulos bastante competitivos, frente às aplicações mais tradicionais, como poupança, CDB, Títulos do Tesouro, etc.

Diferentemente dos LCA e a LCI (Letras de Crédito Agrícola e Imobiliário, respectivamente) os certificados não têm, obrigatoriamente, a garantia do banco ou gestor que emite os papéis, portanto a sua segurança está calcada mais na confiança, credibilidade dos gestores e na governança da operação, normalmente detalhada em seu prospecto.
Por não terem todos os benefícios de segurança da LCA e LCI, ao comprar um CRI o investidor tem que estudar os empreendimentos imobiliários dos tomadores do empréstimo, para ter uma boa ideia dos riscos assumidos na carteira. No caso do CRA não é diferente, é bom conhecer também os riscos dos negócios agrícolas envolvidos, o que de certa forma, exige a participação de um consultor ou um corretor especializado que conheça melhor a natureza dos riscos envolvidos, sua distribuição dentro da estrutura operacional do CRA e os fatores de mitigação.
O simples fato de o CRA estar lastreado em recebíveis agrícola, sujeito às incertezas climáticas, não o coloca em posição inferior ao CRI, haja vista que uma estruturação bem feita, reservaria muito pouco risco para o investidor. A distribuição do risco geográfico, risco cultura e a distribuição desses riscos entre os originadores/estruturadores, permite que uma cota mínima da consolidação dos riscos seja reservada ao investidor. Vale lembrar que, o campo tem prosperado muito nos últimos anos, sobretudo nas culturas de exportação e essa prosperidade tem atraído o sistema financeiro para uma aproximação com o campo. Essa aproximação, de certa forma, deriva do fato dos bancos já estarem excessivamente expostos ao setor da construção civil e do varejo (grandes tomadores de recurso) que já mostram sinais de saturação, o que eleva o interesse no Agronegócio, que diante do seu tamanho, é relativamente pouco operado pelo sistema financeiro privado.
O sinal da mudança, vem do recente evento, na BM&FBovespa, de lançamento do CRA emitido pela Securitizadora Octante, lastreado em recebíveis de canais de distribuição da Syngenta (Fiagril, Sinagro, Agrocat e Agrícola Panorama). Apesar de não ter sido uma emissão robusta para as cifras bilionárias normalmente transacionadas no setor, os R$ 85.5 milhões tiveram uma liquidez surpreendente devido à estrutura bem montada e a remuneração de 110% do CDI. A demanda pelos papéis superou em 150% a oferta, atraindo um total de 211 investidores pessoas físicas, a maioria investindo pela primeira vez no segmento do agro. Os investidores individuais de médio e grande portes, além dos Family Offices, que são consultorias que normalmente organização dos negócios de pessoas ricas, buscam oportunidades como essas, operações de nicho de mercado, bem estruturadas e com boa remuneração.
É importante salientar que a operação em questão, trouxe um diferencial importante. Como foi uma operação piloto, de cifra reduzida, e que não pode dar errado, compôs na estrutura o seguro de crédito da Chartis (do Grupo AIG), item que dá mais conforto ao investidor, mas que não será comum a todas as emissões, em função do custo e do diminuto mercado de seguro de crédito para o segmento agro no país, que poderá crescer, mas não na velocidade necessária para cobrir a demanda de recursos do campo.
É animadora a perspectiva gerada pela iniciativa da Syngenta-Bunge-Octante e mais emissões vão estar no mercado em 2013, pela própria Octante, a Brasil Agrosec e a Gaia , entre outras securitizadoras que buscam oportunidades no setor. Como visão de oportunidade, vale lembrar que hoje o CRI, do mercado imobiliário, já possui emissões da ordem de R$ 31,6 bilhões registrados na BM&FBovespa, enquanto o CRA, no seu nascedouro, ainda trabalha na casa do primeiro bilhão, conforme o quadro abaixo, mas o futuro reserva uma avenida de oportunidade para as operações com recebíveis agrícolas. 

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