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“A corrupção e o outro”, Qual e como será nosso futuro?


Climaco Cezar de Souza

“A CORRUPÇÃO E O OUTRO”, QUAL E COMO SERÁ NOSSO FUTURO?
(adequação, pela importância, e transcrição parcial autorizada de artigo publicado no jornal Ação ANABB por Edson Vismona, Presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO)

 
Para Vismona, a corrupção pode estar embutida na população já de tempos longínquos, com ações que desencadearam uma cultura de desmandos desde a época do Império até os dias de hoje. Entretanto, embora o “jeitinho brasileiro” dê impressão de que o problema no Brasil é cultural, trata-se na verdade de corrupção – falta de controle, de prestação de contas, de punição e de cumprimento das leis.
 
Ainda segundo ele, Valdir Pucci (Mestre em ciência política pela UNB e doutorando em Direito Constitucional pela UNICEUB-Brasilia) define a corrupção como o ato de levar vantagem em algo de forma desonesta, agindo de maneira contrária às leis e à moral da sociedade. “Corrupção é qualquer ato contrário à coletividade. A corrupção não se faz por valor, mas por ato. Roubar R$ 1 milhão da saúde é um ato tão corrupto quanto oferecer uma cervejinha para o guarda não multar seu carro que está com os documentos vencidos”.
 
Em algum momento da vida, qualquer pessoa pode ter-se envolvido com práticas corruptas.
 
Dados da pesquisa do Instituto ETCO revelam como atitudes corriqueiras de corrupção tornam-se presentes no cotidiano e pouco incomodam a população. De acordo com a pesquisa, 63% dos jovens entrevistados afirmam que buscam ser éticos na maioria das vezes em seu dia a dia. No entanto, 52% compram produtos piratas por serem mais baratos, com a justificativa de não acreditar fazer mal a alguém, enquanto 36% avaliam que, para ganhar dinheiro, nem sempre é possível ser ético.
 
“É verdade que jovens compram produtos pirateados em razão do preço, mas é importante notar que a pesquisa mostra que 72% sabem que deixar de comprá-los tornaria o Brasil mais ético. Então, são atitudes enraizadas, são falhas que cometemos no automático, não estamos pensando nelas ao praticá-las. Deixamos de atravessar a pista na faixa, falamos ao telefone enquanto dirigimos, mesmo sabendo que a lei nos proíbe de fazer isso. São pequenos atos ilegais que fazemos no automático”.
 
Também é preciso que a sociedade assuma seus erros e suas responsabilidades perante a Nação para que haja transformação. “Precisamos transformar isso em uma reflexão pessoal. “O ERRO ESTÁ SEMPRE NO OUTRO, MAS, PARA O OUTRO, EU SOU O OUTRO”. Então, precisamos refletir sobre nossas atitudes diárias em nossas famílias, na criação de nossos filhos e, acima disso, precisamos mostrar bons exemplos, fazer o bem, ser pessoas honestas, pois elas são a maioria, motivando nossos jovens a assumir uma postura ética cada vez mais firme”.
 
Já para a ANABB, “as seguidas denúncias de corrupção envolvendo políticos e gestores e a consequente crise política e econômica instalada no país trouxeram à tona o sentimento de descrença, quase que generalizada, dos brasileiros em seus agentes...”.
 
O mundo atravessa uma crise de confiança nas instituições: empresas, governos, ONGs e mídia. É o que revela o estudo Edelman Trust Barometer 2017, realizado em 28 países com mais de 33 mil entrevistados. Na pesquisa, o Brasil está entre uma das nações em que a população menos acredita no setor público (24%) e tem a corrupção como seu maior temor (87%).
 
Outro levantamento realizado pelo Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), em parceria com o Datafolha, revelou que 90% dos jovens de 14 a 24 anos consideram a sociedade brasileira pouco ou nada ética.
 
Para o cientista político Valdir Pucci, “a descrença do brasileiro em relação à política não é uma surpresa e aponta que a falta de entendimento dos políticos sobre os interesses da sociedade e a liberdade de imprensa são dois fatores que colaboram para o aumento da desconfiança da população”.
 
“Os políticos atuais (“em geral, eleitos e apoiadores - meu grifo”), têm dificuldade de entender que a sociedade já não tolera práticas que antes eram até comuns e aceitáveis, como o patrimonialismo. Pode-se falar que a sociedade brasileira evoluiu em vários aspectos, porém a classe política permaneceu estagnada. Graças à liberdade de imprensa e de informação, cada vez mais, o brasileiro tem descoberto como os políticos se comportam não apenas pelos meios tradicionais de comunicação, mas também pelas mídias sociais”, destaca Pucci”.
 
É fato que a corrupção no Brasil nunca esteve tão exposta como nos últimos anos. A cada dia, um novo escândalo é revelado e as mídias sociais e as ferramentas tecnológicas têm-se tornado grandes aliadas na denúncia dos atos de corrupção. Hoje, qualquer descuido está sob o alcance das câmeras de celular e pode viralizar nas redes sociais.
 
“Vejo de maneira positiva essa capacidade da sociedade de ‘produzir’ seu conteúdo. Mas é importante destacar que isso ainda não é entendido pela classe política tradicional do Brasil.

Muitos políticos ainda acreditam viver em um país de total impunidade, em que eles podem fazer tudo sem a necessidade de prestar contas à sociedade. Esse é o fosso que existe entre a classe política e a população. Por exemplo, mesmo com investigações em curso, muitos políticos continuam a fazer o mesmo que faziam antes. Isso é uma visão distorcida que eles  possuem do Brasil de hoje”, analisa Valdir Pucci.
 
O especialista acredita ainda que a atual crise política pode ser um divisor de águas para a sociedade brasileira, assim como o momento é propício para uma inflexão da Nação.
 
“Ou sairemos um país mais institucionalizado em boas práticas políticas ou então não teremos outra chance tão boa quanto essa para revisar o Brasil que queremos”.
 
A médio e longo prazo, acredito que o resultado final será positivo ao país. A curto prazo, acredito que a crise tende a continuar”, diz Pucci.

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