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"ESCULACHO"


Paulo Lot Calixto Lemos

A América, principalmente agora com o republicano George Busch, parece ter agravado um terrível mal crônico chamado “arrogância”. E nós, brasileiros, sofremos também de outro mal crônico: a “baixa auto-estima”. Portanto considero de muita importância a leitura da “nota” que segue abaixo.

Em outubro de 2000, durante um debate em uma universidade dos Estados Unidos, o ex-governador do Distrito Federal, Cristóvam Buarque foi questionado por um jovem americano sobre o que ele pensava a respeito da “internacionalização” da Amazônia, perguntou e arrematou:

- Mister Buarque gostaria que respondesse à minha pergunta não como brasileiro, mas acima de tudo como HUMANISTA!

Cristovam Buarque não se fez de rogado. Respondeu a pergunta com um educado e politicamente correto “esculacho”:

- De fato, como brasileiro eu falaria simplesmente que sou contra a internacionalização da Amazônia, pois por mais que nossos governos não tenham o devido cuidado com esse patrimônio, ele é nosso. Porem, como HUMANISTA, sentindo o risco da degradação ambiental que sofre a Amazônia posso muito bem imaginar a sua internacionalização, como também posso e devo imaginar a internacionalização de tudo o mais que tenha importância para a humanidade. – coçou a garganta e continuou:

- Se a Amazônia, sob a ótica e a ética humanista, deve ser internacionalizada, internacionalizemos também as reservas de petróleo do mundo inteiro! O petróleo é tão importante para o bem-estar da humanidade quanto a Amazônia o é para o nosso futuro. Apesar disso, os donos das reservas sentem-se no direito de aumentar ou diminuir sua extração e subir ou abaixar seu preço.

- Da mesma forma, o capital financeiro dos paises ricos deveria também ser internacionalizado! Se a Amazônia é uma reserva para todos os seres humanos, ela não pode ser queimada pela vontade de um dono ou de um país. Queimar a Amazônia é tão grave quanto deixar que reservas financeiras sirvam para “queimar” países inteiros na volúpia da especulação. Tão grave quanto as guerras, a fome e o desemprego provocado pelas decisões arbitrárias da chamada globalização.

- Antes mesmo da Amazônia, eu gostaria de ver internacionalizado, todos os grandes museus do mundo! O Louvre não deveria pertencer apenas à França. Cada museu do mundo é guardião das mais belas peças produzidas pelo gênio humano. Não se poderia deixar que esse patrimônio cultural, assim como o patrimônio natural amazônico, seja manipulado ao “bel prazer” de um único proprietário ou de um único país.

- Ao mesmo tempo em que este encontro acontece, as Nações Unidas estão realizando o “Fórum do Milênio”, mas alguns presidentes de paises tiveram dificuldades em comparecer, por constrangimentos na fronteira com os EUA. Por isso, eu acho que Nova Yorque, como sede das Nações Unidas, deveria ser também internacionalizada! Assim como Paris, Veneza, Roma, Londres, Rio de Janeiro, Brasília... Cada cidade, com sua beleza especifica, com sua historia do mundo, deveria pertencer ao mundo inteiro.

- Se os Estados Unidos da América querem internacionalizar a Amazônia, pelo risco de deixa-la nas mãos dos brasileiros, muito mais importante é que internacionalizemos todo o arsenal nuclear dos EUA! Até porque, eles já demonstraram serem capazes de usar tais armas. Provocando uma destruição milhares de vezes maior que as lamentáveis queimadas feitas nas florestas brasileiras.

- Em seus debates, os atuais candidatos à presidência dos EUA têm defendido a idéia de internacionalizar as florestas do mundo em troca da suas dividas. Acredito que antes disso, devem ser internacionalizadas todas as CRIANÇAS do mundo! Comecemos usando tais dividas para garantir que cada criança do mundo tenha direito de COMER e de ir a escola. Resgatando-as, todas elas! Como o maior e mais importante patrimônio da humanidade, que merece todo cuidado do mundo. Muito mais do que merece a Amazônia...

- Enfim, como HUMANISTA, aceito defender a internacionalização do mundo. Mas enquanto o mundo me tratar apenas como brasileiro, lutarei para que a Amazônia seja nossa. SÓ NOSSA!

Ps: ESTA MATERIA FOI PUBLICADA NO NEW YORK TIMES, NO WASHINGTON POST, US TODAY E NOS MAIORES JORNAIS DA EUROPA E DO JAPÃO EM OUTUBRO DE 2000. NO BRASIL ELA NÃO FOI PUBLICADA.

Paulo Lot Calixto Lemos

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