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2020 perdido, e 2021? (I)


Argemiro Luís Brum

Com o prolongamento da quarentena da população mundo afora, diante de uma pandemia ainda sem controle (na China novos casos voltaram a surgir), enquanto em um grande número de países (Brasil dentre eles) o pico da doença nem ainda foi atingido, é natural que a economia sofra uma queda brutal. É o custo material para se tentar salvar o maior número de vidas humanas, embora isso venha afligindo, com razão, o setor produtivo e empregador.

O fato é que a humanidade não tem muitas escolhas, pois se não ataca o problema firmemente no imediato, assumindo os custos econômicos de tal ação, irá prolongar a crise de forma a causar estragos econômicos ainda maiores e mais prolongados logo adiante. A questão é se chegar a um consenso sobre isso. Infelizmente, nos países onde as mortes disparam, devido ao coronavírus, este consenso está sendo alcançado na dor das perdas humanas.

Dito isso, não é mais novidade que, em termos econômicos, o ano de 2020 já está perdido. Além dos números que já se divulgou neste espaço sobre os efeitos na economia chinesa e estadunidense, agora começam a surgir projeções ainda mais estruturadas sobre outros pontos do Planeta. Na França, por exemplo, o PIB caiu 6% no primeiro trimestre do corrente ano, sendo o tombo de 32% somente na primeira quinzena da quarentena feita por lá.

Segundo o governo local, cada quinzena de confinamento custa 1,5% do nível do PIB e 1% de déficit público adicional. É a pior realidade desde 1945 (final da 2ª Guerra Mundial). Nos EUA, hoje epicentro da doença, a situação aponta para uma depressão econômica semelhante ao crash de 1929. O Banco Mundial, em relatório desta semana, indica que o PIB brasileiro recuará 5%, colocando o país novamente em recessão, seguindo grande parte do mundo.

A América Latina e o Caribe, juntos, verão seu PIB despencar para -4,6% neste ano. Ainda no Brasil, somente no mês de março a Bolsa caiu 30%, acumulando perdas de 37% no primeiro trimestre. Foi o pior trimestre de toda a história do Ibovespa. Em março, o setor de veículos, motos e peças caiu 23,1% sobre fevereiro. O comércio brasileiro sofreu um prejuízo de R$ 53,5 bilhões apenas em março, um tombo de 46,1% em relação a março de 2019.

O socorro necessário do Estado, e ainda insuficiente, já eleva o déficit fiscal brasileiro para R$ 500 bilhões para este ano, contra uma meta de déficit de R$ 129 bilhões e contra R$ 61 bilhões no ano passado. Neste contexto, análises da FGV nos indicam que a pandemia pode fazer dobrar o desemprego, levando o mesmo a quase 25 milhões de pessoas ou 24% da população ativa até o final do ano. Com isso, a contração na renda dos trabalhadores nacionais será de 15%, um recorde, caso o governo não amplie o socorro aos mesmos, o que, ao ser feito, elevará ainda mais o déficit público. Assim, o que nos espera em 2021? (segue)


 

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