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A Agricultura familiar e o problema da comercialização


Alexander Silva de Resende

A agropecuária brasileira é um sucesso! Quando falamos em agricultura de larga escala, isso é verdade absoluta. Maior produtor de café, cana-de-açúcar, um dos maiores de soja, milho, carne bovina, frango e mais uma extensa lista de produtos... Fruto de um árduo trabalho dos órgãos de ensino e pesquisa do País, aliado a atitudes governamentais inteligentes como o ModerFrota, que revitalizou o maquinário no campo e alavancou a indústria de máquinas agrícolas no País... Atitudes inteligentes, como as negociações bilaterais no mercado internacional e a ampliação dos mercados exportadores...

Mas e o pequeno agricultor? Me refiro ao pequeno mesmo, que somente tem como mão-de-obra sua família, com dificuldades e falta de informação para acesso ao crédito... O pequeno que não pode pagar por assistência técnica e vê as empresas de extensão rural serem sucateadas, com técnicos com salários muito abaixo do mercado, sem recursos para combustível e sem receber treinamentos de reciclagem e atualização há muito tempo...

E como está esse pequeno produtor, que apesar disso, hoje sabe produzir, mesmo com baixa produtividade, mas não sabe vender... Ou simplesmente não tem como vender com competência? O problema desse agricultor há alguns anos deixou de ser o como produzir e sim o como vender. E quais são os mecanismos que estão sendo instaurados para ajudá-lo a resolver esse problema? Não conheço muitos e como técnico faço uma mea-culpa, por me preocupar em ajudá-lo a produzir sem me preocupar em como ele fará para vender...

Ë comum encontrarmos no mercado em algumas épocas do ano, verduras a R$ 0,30 a unidade nos sacolões, mas imaginem vocês que na maioria dos casos o dono do sacolão não produz nada, normalmente ele revende o que um intermediário comprou no Ceasa e distribuiu no comércio local... mas esse intermediário também não produz e ao comprar do Ceasa, está comprando na maioria das vezes de alguém que também não produz, simplesmente centraliza os negócios e revende... Quem vende aos Ceasas, muitas vezes é um outro intermediário que tem seu caminhãozinho e passa de porta em porta recolhendo as caixas de hortifrutigranjeiros na porta das propriedades rurais pagando o que quer aos pequenos agricultores... Agora chegamos no início da cadeia produtiva... depois de 4 intermediários trabalhando com margens de lucro em cada passagem... Os pequenos agricultores que produzem mas não têem como ou não sabem escoar sua produção... Assim, fica fácil perceber que o agricultor que produz deve estar recebendo de 0,05 a 0,07 centavos por cabeça de alface!!!

Assim, é impossível! Quanto mais ele produz, mais difícil é para escoar a produção, e seu problema maior hoje é como vender... E não vejo órgãos de ensino e/ou pesquisa preocupados com isso... O que vejo é a agricultura familiar envelhecer cada vez mais... Com os jovens indo trabalhar nas cidades em virtude das dificuldades encontradas na roça... baixa remuneração, trabalho árduo, dificuldades em conseguir ensino, saúde e lazer de qualidade...Que pai quer isso para seu filho?

E nós nas grandes cidades deveríamos estar mais conscientes desse problema... A agricultura no mundo inteiro é subsidiada, e nunca deixará de ser para esse tipo de agricultor... Não há outra saída! Mesmo que o subsídio seja técnico, ou simplesmente no transporte da produção, reduzindo o número de intermediários! Que seja das prefeituras e do comércio local que estimulem o comércio no próprio município... ë comum vermos produtos produzidos no sul do estado irem para o Centro de distribuição há 300 km para depois voltarem para o sul novamente para serem vendidos... Não é possível que ninguém perceba que manter um comércio regular na própria localidade estimulando a diversificação da produção não seja possível e que todos ganharão com isso, o produtor, o comércio e a população em geral... Por que não criar centros de distribuição municipais e não estaduais? Nosso país é muito grande há espaço para otimização de nosso comércio e logística... Assim, por que não fazê-lo já? Temos 5560 municípios, no Rio de janeiro próximo a 80 e somente um Centro distribuidor de peso que é o Ceasa... Isso se chama planejamento? Por que as prefeituras municipais não estimulam esse tipo de centralização? Ao menos nos municípios de tradição agrícola? Essa resposta eu não tenho...

Um forte abraço.

Alexander silva de Resende é pesquisador da Embrapa Agrobiologia [email protected]

 

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