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A China e a Índia no desenvolvimento econômico do Brasil


Amélio Dall’Agnol

É inegável a contribuição que a China proporcionou ao desenvolvimento da economia brasileira. O gigante asiático era um ator secundário no comércio exterior do Brasil no início dos anos 90 e, em menos de três décadas, converteu-se no principal parceiro comercial do país, absorvendo mais 20% das nossas exportações, que, infelizmente, ainda se concentraram em produtos com baixo valor agregado, principalmente commodities agrícolas e minerais (minério de ferro e soja em grão). 

Por causa da fome chinesa por essas commodities e as maiúsculas importações realizadas com esses produtos, seus preços de mercado deslancharam e o Brasil faturou bilhões de dólares em superávits comerciais. Sem os dólares auferidos com as exportações para a China, o Brasil seria um país muito mais pobre e pior.

Mas não é só a China que está com fome dos produtos exportados pelo Brasil. A Índia, outro gigante asiático, tem potencial para tornar-se parceiro preferencial do Brasil.  Em 2016, a economia da Índia cresceu a um ritmo superior à economia da China (7,1% vs. 6,7%). A demanda deste país por bens de consumo pode crescer da forma como cresceu na China, no período recente. Alguns especialistas dizem que, em mais uma década, a China terá estabilizado sua demanda de consumo. Nessa eventualidade, espera-se que a Índia possa carear essa demanda chinesa, caso o programa de modernização econômica em curso no país seja bem sucedido.

O PIB indiano é ainda muito baixo em relação ao chinês (U$ 2,44 trilhões vs. US$ 15 trilhões) e a renda per cápita é ainda mais discrepante: cerca de 20% da chinesa. Mas, a China de 30 anos atrás não era diferente da Índia de hoje. O PIB indiano superou recentemente o do Brasil e, segundo estimativas do Banco Goldman Sachs, pode superar o da França e Itália em 2020; o da Alemanha, Reino Unido e Rússia em 2025 e o do Japão em 2035, quando será a 3º maior economia do planeta. Em 2050 poderá ultrapassar o PIB dos EUA em cerca de U$ 10 trilhões (U$ 44,1 trilhões da Índia vs. U$ 34,1 trilhões dos EUA), e, até, superar o PIB chinês, que nessa data, se estima, estará em U$ 58,5 trilhões.

A Índia é o 2º país mais populoso do mundo depois da China (1,2 bilhões de habitantes) e metade da população ainda depende da agricultura para sobreviver. Mesmo com inúmeros problemas sociais, o país se tornou a 7ª economia do mundo.  Adicionalmente, a Índia é o 3º maior produtor global de grãos e possui o maior rebanho bovino (búfalos) do Planeta. A cultura impede o país de ser grande produtor e consumidor deste alimento, mas não de disputar a liderança no comércio exterior com Brasil e Austrália. A Índia não produz e nem importa carne suína, mas é o 5º produtor e consumidor da carne de frango.

Existem indícios que a próxima década poderá ser a década da Índia no agronegócio global, ocupando o espaço que já foi da China em décadas mais recentes. Por causa dos seus avanços econômicos, as agências Standard & Poors e Moodys outorgaram o Nível de Investimento ao país em 2003, indicando que o país se tornou um lugar seguro para receber investimentos com capital estrangeiro. 

Caso o significativo crescimento do PIB indiano seja mantido, sua renda per cápita crescerá, o que poderá promover mudanças nos hábitos de consumo da população, reduzindo o consumo de grãos (arroz, trigo e milho) e aumentando a demanda por proteínas animais (carnes, produtos lácteos e ovos). Para que isto aconteça, a Índia precisará do Brasil, importando soja em grão e milho ou carnes. 

O agronegócio brasileiro poderá respirar aliviado e continuar carregando o piano da economia brasileira, caso se concretizem as previsões positivas sobre o mercado indiano, potencial grande consumidor de produtos brasileiros. Mas seria desejável que, diferentemente do que ocorreu no comércio bilateral com a China, nossas exportações para o novo parceiro não privilegiassem tanto as commodities, hoje favorecidas pela Lei Kandir, que as isenta de taxas de exportação, mas que são cobradas dos produtos industrializados. 

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