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A gestão da SELIC e o populismo eleitoral


Argemiro Luís Brum

Na semana passada, pela quarta reunião consecutiva, o Comitê de Política Monetária (Copom), manteve a taxa Selic anual em 6,5%, a mais baixa de sua história. O Sistema Especial de Liquidação e Custódia – Selic foi criado em 1979, pelo Banco Central e pela Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto). Em 1996, o Banco Central instituiu um sistema de bandas de juros, extinguindo-o em 4 de março de 1999, passando a usar apenas uma taxa para sinalizar os juros de toda a economia. Surge, então, a chamada taxa referencial Selic.

Na prática, a taxa serve de balizador para o estabelecimento de juros no mercado nacional. O Banco Central, tendo como mandato o controle da inflação, usa a mesma como um instrumento para tal controle. Outros bancos centrais, além do controle da inflação, possuem como mandato igualmente usar a taxa básica de juros para promover o crescimento econômico. O fato é que a inflação brasileira sofre, pelo menos, pressões de três frentes: da demanda interna; dos preços administrados; e dos juros básicos dos EUA. Tratando-se deste último caso, porque não possuímos, historicamente, poupança própria suficiente para tocar a economia, necessitamos de recursos externos.

Parte destes recursos vem de capitais especulativos, em busca de nosso juro, desde que ele seja mais elevado (considerando ainda o risco país) do que o juro no seu país de origem. Ora, neste momento, o juro básico nos EUA está novamente se elevando, após 10 anos estagnado em quase zero por cento ao ano, em função da histórica crise de 2007/08. O mesmo pode chegar ao final de 2018 em torno de 2,5%. A elevação dos juros estadunidenses, ao mesmo tempo em que a nossa Selic fica estagnada, tende a provocar uma saída de dólares do Brasil, desvalorizando o Real, fato que causa pressão inflacionária interna devido à elevação dos preços dos produtos que importamos, os quais estão em toda nossa economia.

O aumento quase constante dos combustíveis (um dos preços administrados) no país entra nesta lógica. Neste contexto, parece ser questão de tempo para a Selic voltar a subir no Brasil. Só não aconteceu até agora porque a inflação nacional, medida pelo IPCA, apesar de ter passado de 2,53% ao ano, em setembro/17, para 4,19% em agosto/18 (aumento de 65% em um ano), ainda está dentro da meta oficial (entre 3% e 6%). Mas não haverá como evitar um aumento da Selic, devendo a mesma chegar ao final de 2019 ao redor de 8% ao ano. O problema é que isso ocorrerá em um momento em que a economia brasileira não reage, após uma das piores recessões de sua história. E aumento de juros inibe ainda mais o crescimento econômico.

O futuro governo terá um enorme desafio nesta área. Este á apenas um dos motivos que não nos permite aventuras populistas nas eleições, de qualquer lado que seja. 

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