
Temos visto e ouvido diariamente que a liquidez internacional está a níveis recordes, e que o Brasil vem sendo um dos destinos destes recursos. A liquidez interna também vem aumentando na onda da queda da taxa de juros, que induz os investidores a buscarem opções mais rentáveis do que os títulos do tesouro e outros ativos atrelados à taxa SELIC.
Por outro lado, o empresário brasileiro ainda se ressente de falta de recursos, em especial nas empresas médias e pequenas. Recentemente, ouvimos notícia de um novo fundo dedicado a empresas inovadoras, que, para fazer seu primeiro investimento, avaliou cerca de 100 empreendimentos.
O que faltou aos outros 99 para que também recebessem os recursos de que precisavam? Para facilitar, podemos resumir os obstáculos a apenas três fatores – deficiências internas, estágios de desenvolvimento e apresentação da empresa.
As deficiências internas podem ser entendidas como o descompasso entre a organização da empresa e seu estágio de desenvolvimento. O crescimento dos negócios da empresa deve obrigatoriamente ser acompanhado de evolução de sua organização interna – sem isto, será raro o investidor que levará a sério uma proposta de participação ou financiamento. Em outras palavras – não basta vender.
Em cada estágio de desenvolvimento, a empresa atrai investidores de diferentes tipos. Nos iniciais, os investidores de risco tendem a ser os únicos dispostos a participar, sendo que as fontes mais "óbvias" – bancos e mercados de capitais em geral – somente servem a empresas nos estágios mais avançados.
Esta regra tem exceções, em especial em épocas como a atual – de alta liquidez. Aqui é que entra o terceiro fator: a forma pela qual a empresa se apresenta aos investidores e, aqui, a palavra chave é transparência.
Neste aspecto, o empresário brasileiro deve se lembrar de duas coisas: o bom profissional do mercado financeiro se pauta, dentre outras características, pela confidencialidade, e não vai sair revelando seus segredos aos concorrentes. Além disto, a revelação de algum ponto fraco não necessariamente inviabiliza a participação do investidor, ao contrário, melhora a probabilidade de que isto ocorra, pelo fortalecimento dos elos de confiança que disto derivam.