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BOM NOME


Paulo Lot Calixto Lemos

Em 1922, Doutor Wellington Brandão, natural da cidade de Visconde do Rio Branco, veio para Passos onde montou seu escritório de advocacia. Fato que Passos deveria comemorar, pois ganhou um de seus mais ilustres filhos adotivos. Intelectual, dotado dos mais elevados conhecimentos jurídicos, poeta e escritor, Dr Wellington, como diz a crônica popular, nunca perdeu uma só causa. Humanitário, sempre movido por um enorme senso de justiça, selecionava as causas apenas pela ótica moral e pela ética profissional. Nunca pelo dinheiro.

Sua facilidade de expressão e a eloqüência de sua oratória marcaram época. Extremamente culto e inquieto, participou ativamente do Movimento Modernista Brasileiro ao lado dos mais ilustres intelectuais e poetas de seu tempo, como Carlos Drummond de Andrade e Cecília Meirelles, com quem trocava freqüentes correspondências.

Em 1945 candidatou-se e foi eleito, pelo recém fundado PSD (Partido Social Democrático), a deputado federal constituinte. Obteve destacada atuação no Congresso Nacional aprovando diversos projetos de cunho social, e defendendo ferrenhamente os pecuaristas, que na época se encontravam assolados pela chamada crise do Zebu, patrocinando a vitória do projeto que prorrogou as dividas da pecuária nacional por 10 anos.

Durante o governo de Bias Fortes, Dr. Wellington Brandão foi nomeado Procurador Geral do Estado de Minas Gerais, e mais tarde Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado. Posição na qual se aposentou.

Antes de iniciar nosso causo, quero ressaltar que Dr. Wellington tinha outra grande paixão, era também um amante das coisas do campo. Possuía uma pequena propriedade rural chamada fazenda Morro Alto onde criava gado Gir de alta linhagem. Assim, cultivava inúmeras amizades com os fazendeiros de sua época, e um deles se tornou, talvez, seu maior amigo. Feres Calixto, de quem além de amigo, era também vizinho de frente na rua Formosa.

Não passava um dia sequer sem se encontrarem para bater papo ou irem juntos pra fazenda. Quando estava em Passos, toda manhã Dr. Wellington adentrava a casa de Feres para ouvir sua esposa, dona Ritoca, executar alguma sonata ou minueto ao piano. E, invariavelmente, assim que terminava a prazerosa sessão musical, discursava a mesma reprimenda:

- Feres, você é mesmo um troglodita! Sua esposa é uma artista nata. Deveria estar freqüentando os melhores conservatórios e brilhando nos melhores palcos do mundo! Nunca cozinhando ou criando tantos filhos para um descendente de libaneses como você!

Pois bem, para exercer o importante cargo de Procurador Geral do Estado, Dr. Wellington, praticamente, foi obrigado se mudar para Belo Horizonte. Tal fato o deixou preocupado, pois teve que se afastar das suas atividades rurais. Deixando seu gado apenas sob o comando de seu camarada Zé Simão. Assim sendo, endereçou uma carta a seu amigo Feres, relatando-lhe sua apreensão e pedindo-lhe que fosse imediatamente a sua fazenda e escolhesse a seu gosto 100 matrizes Gir, e as levasse para sua fazenda onde com certeza seriam mais bem cuidadas. Que não se preocupasse, pois em sua próxima vinda a Passos acertariam as condições do negocio...

Orgulhoso pela confiança nele depositada pelo futuro Desembargador do Estado, o Sr. Feres Calixto cumpriu ao pé da letra o que lhe determinara o amigo, levando para sua fazenda 100 rezes da melhor qualidade.

Passados alguns meses Dr. Wellington volta a Passos. Como sempre, logo de manhã bate a porta de dona Ritoca, ouve pelo menos uma partitura, e depois de repreender, mais uma vez, Feres Calixto por sua falta de sensibilidade, partem para fazenda para ver e conferir o gado que ele havia levado.

Satisfeito com o estado dos animais, Dr. Wellington parabeniza Feres pelo bom trato dispensado a eles, e se encanta em particular com uma novilha Gir, chita de vermelho, chegadinha pra parir, que se encontrava em excepcional condição de beleza e altivez. Ao que Dr. Wellington exclama:

- Feres! Exijo uma condição para que o negocio fique acertado conforme combinamos. Exijo que esta novilha tenha um nome especial, um nome que confirme sua beleza e seu porte de princesa. Portanto darei eu mesmo um nome a ela. Seu nome será NATACHA! Não se esqueça: NA-TA-CHA. Ensine seu retireiro e faça com que ele grave este nome. Uma novilha como esta merece ser tratada como uma Czarina Russa!

Outros tantos meses se passaram quando Doutor Wellington retorna a Passos. De tão ansioso que estava para conhecer o rebento de Natacha que desta vez nem mesmo o piano de dona Ritoca pode ouvir. Saem bem cedinho para Fazenda Sagrado a fim de chegar a tempo de ver a ordenha matinal. Do alto do morro, ainda na camionete, avistam o gado todo reunido no curral, e por pura coincidência, assim que apeiam da condução, ouvem o retireiro Pedro Braz chamar exatamente a novilha-princesa pelo nome: TACHÊRA! TACHÊRA! TACHÊRA!

Expressando seu mais puro descontentamento, o Doutor Wellington apenas retruca:

- Feres! Precisamos rever imediatamente as condições do nosso negocio.

Paulo Lot Calixto Lemos

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