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Caatinga: conhecer para preservar


Opinião Livre
O dia 28 de abril ficou instituído como Dia Nacional da Caatinga. Como a maioria das datas comemorativas instituídas no país sem conotação econômica, esta passa despercebida pela maior parte da população. Nossas escolas pouco citam a importância e a beleza desse bioma, pelo contrário, alguns livros didáticos o associam à pobreza, a feiúra, descrevendo-o como um ambiente rústico e inóspito. 
Quem conhece verdadeiramente a caatinga, sabe que esse retrato não é verdadeiro. A caatinga é um bioma único, genuinamente brasileiro, que comporta uma infinidade de espécies vegetais adaptadas a viver sob o regime de chuvas típicas do clima semi-árido (com estação chuvosa curta e alta taxa de evaporação) e em solos com baixa fertilidade. Com isso, a maioria das plantas, na estação seca, perde suas folhas e fica com seus troncos “brancos e brilhantes”, o que deu origem a seu nome: o termo indígena ca-a (floresta), tî (branco) e o sufixo ngá, (que lembra). Quando surgem as primeiras chuvas, a vegetação responde prontamente gerando uma paisagem maravilhosa, com muito verde, muitas flores, muitos frutos. 
Muitos outros organismos são associados a essas plantas e a esse ambiente. Os insetos são um exemplo dessa enorme diversidade. A despeito dos que dizem que esta é uma “floresta morta”, quando das primeiras chuvas há uma explosão populacional de insetos, como as borboletas e mariposas, por exemplo, que vemos em grande número nessa época, principalmente em áreas de caatinga.  Para essa explosão populacional cito duas razões (mais prováveis já que cada espécie possui características biológicas e comportamentais próprias) que descreverei a seguir.
Muitos Lepidoptera conseguem “alongar” seu ciclo de vida através do fenômeno conhecido como diapausa (significa estado de suspensão, ou pelo menos de redução, do desenvolvimento de um HYPERLINK "http://pt.wikipedia.org/wiki/Ser_vivo" \o "Ser vivo"organismo em resposta a condições ambientais adversas de natureza periódica ou recorrente) que ocorrem, principalmente nas fases de ovos e pupas. Para isso, esses insetos contam com adaptações fisiológicas e morfológicas que garantam sua sobrevivência durante longos períodos. Quando as primeiras chuvas ocorrem ou há um aumento na umidade relativa do ar, esses insetos saem da diapausa e contam com uma infinidade de recursos disponíveis, como folhas, flores, néctar, pólen, etc. Com esse clima mais ameno e muitos recursos alimentares, as espécies encurtam seus ciclos de vida acelerando assim a reprodução e gerando um maior número de descendentes. 
Outra explicação para esse fenômeno é a migração de espécies. Muitas espécies de Lepidoptera migram em panapanás (bando de borboletas migrantes) de áreas menos favorecidas (temporariamente, em termos de recursos) para outras com mais recursos. Com essa disponibilidade de recursos, esses lepidópteros tendem a desenvolver maior fecundidade.
Seguindo a lógica da cadeia-alimentar, uma maior disponibilidade de recursos vegetais (produção primária) atrai um maior número de espécies consumidoras (no caso, essas borboletas e mariposas – consumidores primários) que, por sua vez, será recurso alimentar para outros organismos, como os predadores e parasitóides (consumidores secundários). 
Parasitóides são insetos que na fase jovem (larva) se desenvolvem no interior ou sobre os seus hospedeiros (geralmente outros insetos ou outros artrópodes, como as aranhas) acarretando a morte do mesmo. Muitos himenópteros são associados ao parasitismo de borboletas e mariposas, além de atuar como inimigo natural de outros insetos como besouros, baratas, pulgões, moscas-brancas, etc, sendo considerados importantes para o Controle Biológico de Pragas nos agroecossistemas e fundamentais para o estabelecimento do equilíbrio dinâmico existente na natureza.
 Pouco se conhece sobre a fauna de insetos da caatinga. A Embrapa Meio-Norte, UEP de Parnaíba, através da pesquisadora Carolina Rodrigues de Araújo e da equipe do Laboratório de Ecologia de Insetos, participará como colaboradora do projeto “Contribuição ao conhecimento da fauna de vespas parasitóides (Hymenoptera, Ichneumonoidea) da Caatinga” (financiado pelo CNPq) liderado pela Dra. Angélica Maria Penteado-Dias, Coordenadora no INCT Hympar Sudeste, que desenvolve projetos sobre sistemática e ecologia de parasitóides em todo o Brasil. A partir desse projeto, coletas serão realizadas em 10 localidades nos Estados de Minas Gerais, Piauí (em Piripiri no Parque das Sete Cidades e em São Raimundo Nonato na Serra da Capivara), Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Bahia. 
O dia 28 de abril também é celebrado como Dia da Educação. É impossível pensar em conservação sem pensar em informação e educação. Os resultados obtidos nesse projeto serão usados como instrumento de educação ambiental da população que convive com esse bioma, para que entendam seu funcionamento e valorizem suas potencialidades.
* A autora é Pesquisadora da Embrapa Meio-Norte

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