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CHEIRO TAMBEM TEM PREÇO


Paulo Lot Calixto Lemos

Em princípios do século XX, com a vinda das inúmeras levas de emigrantes Italianos, apareceu por aqui um italianinho chamado João Piassi.

João Piassi era um rapazinho irrequieto e muito trabalhador, como candango construtor de estradas de ferro, chegou até Passos junto com a linha ferroviária da Fepasa. Gostou do lugar e aqui se radicou casando-se com dona Francisca Cherchiglia, também italiana da gema. Sem dinheiro, seu começo de vida foi muito difícil, de jornaleiro a vendedor de sorvete ele e sua esposa tentaram de tudo. Porem, como sua família era oriunda de uma região agrícola da Itália, seu interesse real sempre foi pelas coisas do campo e, dentre elas identificou uma enorme carência em um setor um tanto esquecido, mas muito especifico: o comercio de muares. Sim, pois naquela época toda lida e todo transporte de gado dependia do serviço de animais fortes e resistentes, assim, a procura por burros e mulas, especialmente para sela, era muito grande.

O grande problema enfrentado pelos pecuaristas de então, era e ainda é até hoje, encontrar boas partidas de burros, em uma só mão, já mansos de sela e com toda garantia de “qualidade”. Pois bem, foi esta a especialização que o rapazola João Piassi escolheu. Começou sua vida assim, viajando em lombo de burro, tanto para comprar como para vender as partidas já prontas para o comercio.

Enfim, foi com este negocio que, o mais tarde famoso coronel João Piassi ficou conhecido e reconhecido como um dos maiores e mais tradicionais fornecedores e “entendedores” de tropa que o Brasil já teve.

Tradição mantida até hoje por alguns de seus filhos e netos.

Ainda em inicio de carreira, quando voltava de mais uma de suas viagens por este sertão brasileiro, João Piassi chega à tardinha a um ponto de pouso no sopé da “serra das 7 voltas” – município de Sacramento/MG – cansado, solta a tropa no piquetinho e sai a procura de algum local para arranchar e comer alguma coisa. Confere o embornal, e certifica que lhe restam apenas algumas broas já duras e um naco de queijo curado... Olha em volta e vê alguém acendendo fogo logo abaixo. Curioso, se aproxima e detrás do tronco de uma paineira identifica que quem está assando um pedaço de lingüiça é um desafeto seu de outros tempos – um tal Manoel Rodrigues – português, com o qual tivera séria desavença ainda nos tempos da ferrovia – “Chiii! O jeito é contentar com minhas broas mesmo... Mas vou ficar aqui, escondido atrás da paineira, pois assim pelo menos sinto o cheirinho da lingüiça enquanto engulo estas broas velhas” – pensou o italiano.

Porem, enquanto se “deliciava” com seu sanduíche de broa com cheiro de lingüiça, aparece o português de repente, e já gritando e xingando diz:

- Italiano vagabundo! Só podias seres tu a roubar o cheiro de minha lingüiça, pois saibas que vou agora mesmo até a vila dar parte de tua façanha, quero ver-te na cadeia de uma vez por todas carcamano de uma figa!

- Pois que vá! Que não existe tal classificação para roubo, português idiota! “Capiche”??!!

- Isto nós veremos! Veremos!

E, lá se foi o português levando com ele o recheio da broa do italiano...

Algum tempo mais tarde, já noite feita, aparece o “portuga” acompanhado de alguns comissários, do juiz-delegado da vila, e mais outro tanto de populares.

Chegaram, e fazendo uma roda iluminada por diversas lamparinas, solicitam ao português e ao italiano que se sentem no centro dela. O juiz-delegado toma então a palavra:

- Senhor Manoel Rodrigues: quero que repita sua grave acusação na frente do senhor João Piassi.

- Pois não, com prazer. Há poucas horas atrás flagrei este italiano a roubar perfidamente o cheiro de minha lingüiça, que estava a assar...

- Isto é verdade senhor João Piassi? – atalhou o juiz.

- Que eu estava sentindo o cheiro estava... Mas isso é roubo seu juiz?

- Quem faz as perguntas aqui sou eu! Entendido? – e tornou a perguntar – o senhor tem dinheiro para pagar o cheiro da lingüiça?

- Tenho sim senhor!

- E, onde esta esse dinheiro?

- Aqui, na minha algibeira! – respondeu já desconfiado o italiano.

- Então, chacoalhe esta algibeira, para que fique comprovado que o senhor realmente possui este dinheiro.

João Piassi chacoalhou tão forte a danada da bolsa que o tilintar das moedas assustou até a tropa...

- Muito bem senhores – disse o juiz – o “cheiro” da lingüiça do português acaba de ser pago com o “barulho” do dinheiro do italiano. Caso encerrado!

Paulo Lot Calixto Lemos

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