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Contas externas melhoram


Argemiro Luís Brum

O balanço de pagamentos é a radiografia das relações econômico-financeiras de um país com o resto do mundo. No contexto deste balanço, a conta “transações correntes” é uma das partes mais importantes, pois demonstra o resultado do comércio do país com o mundo. Quando esta conta é negativa significa dizer que o país mais comprou do que vendeu bens e serviços, fato que aumenta suas obrigações (dependência) para com o resto do mundo.

O superávit, ao contrário, implica em troca de consumo presente por consumo futuro. Em não havendo superávit, o futuro pode ser amenizado cobrindo-se o excesso de gastos por investimentos diretos produtivos. Em estes últimos não sendo suficientes o país recorre a empréstimos e financiamentos externos (realização de dívida externa) e/ou recorre à participação de capitais de curto prazo (especulativos).

Todavia, é bom lembrar que, quanto maior for a exposição a estes capitais especulativos, maior será o risco que o país assume. Pois a realidade em 2017 mostra uma sensível melhora nas contas externas brasileiras. Após ter alcançado um recorde negativo em 2014, quando o déficit nas transações correntes subiu a US$ 104,2 bilhões e os investimentos externos diretos somaram US$ 62,5 bilhões, no acumulado de 12 meses, terminados em abril de 2017, o déficit recuou para US$ 19,8 bilhões e os investimentos diretos subiram para US$ 84,7 bilhões.

Esse comportamento permite, pelo menos, quatro reflexões: a) a melhoria nas contas externas se deve particularmente à recessão econômica brasileira e à desvalorização do Real neste último ano, fato que ajudou a aumentar o superávit comercial e reduzir o déficit em transações correntes (em 2014 o saldo comercial brasileiro foi negativo em US$ 4,05 bilhões, enquanto em 2016 o mesmo foi positivo em US$ 47,68 bilhões, batendo um recorde histórico), duas situações que levam a reduzir gastos no exterior; b) se o superávit comercial nacional cresce nesta proporção (até o dia 21/05 do corrente ano o mesmo já somava US$ 26,22 bilhões, contra US$ 17,24 bilhões em igual período de 2016), não há porque o Banco Central brasileiro deixar que o Real se desvalorize. Isso explica sua forte ação visando conter a moeda nacional ao redor de R$ 3,25 após o estouro do escândalo Temer-JBS.

Afinal, maior desvalorização da moeda é sinônimo de pressão inflacionária pelo aumento dos preços dos produtos importados; c) entre o final de 2014 e abril de 2017 os investidores externos passaram a confiar mais no Brasil, especialmente após o impeachment da presidente Dilma, elevando a entrada de recursos produtivos em 35,5% no período; d) o ponto anterior nos traz a esta última constatação: em quanto a nova crise política, que atinge em cheio o governo Temer, irá influenciar nas contas externas nacionais as quais, assim como a economia interna, estavam iniciando uma recuperação, mesmo que lenta?
 

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