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Coronavírus: observações econômicas (I)


Argemiro Luís Brum

Com seus efeitos sobre a saúde humana superestimados, ou não, o fato é que o novo coronavirus Covid-19 já provocou estragos na economia global, com consequências, talvez, irreversíveis na economia brasileira neste ano. Dentre as observações econômicas em torno do tema, algumas merecem atenção.

Em primeiro lugar, confirma-se que as bolsas de valores mundiais viviam uma nova bolha especulativa. O tombo que o coronavirus provocou nas mesmas, incluindo a nossa B3 (ex-Bovespa) confirma isso. Em época de pânico, não importando o motivo, se o sistema vive uma bolha, o estouro da mesma provoca um recuo intenso no valor das cotações.

Nas ações isso foi observado. O mesmo não aconteceu com as bolsas de mercadorias (soja, petróleo, minério de ferro....) que, embora tenham recuado, mostraram um desempenho aceitável diante do movimento financeiro geral. No caso das ações foi o contrário. As bolsas da Europa, na semana do carnaval, viveram os piores sete dias desde a grande crise de 2008, perdendo um total de US$ 1,5 trilhão do seu valor. Nos três principais continentes (Ásia, Europa e América) o total perdido naquela semana foi de US$ 5 trilhões (cerca de quase três PIBs anuais brasileiros em uma semana). Na B3 brasileira, em apenas um dia (26/02), a saída de capital estrangeiro atingiu a R$ 3,068 bilhões, sendo a maior saída diária da história da Bolsa.

Ou seja, o mercado aproveitou o coronavirus para realizar uma correção significativa. Mas, bastou o anúncio de que os países do G7, juntamente com o FMI e outras organizações supranacionais, estaria se organizando para uma atuação conjunta visando evitar maiores estragos na economia mundial, que a Bolsa de Nova York ganhou mais de 5% no dia 02/03, enquanto a B3 se elevou em mais de 2%. Ou seja, o mercado bursátil, na área das ações, continua especulando alheio à realidade da economia real. A segunda observação é que a saída de capitais das diferentes bolsas os direciona para valores refúgio, dentre eles o ouro e o dólar. Isso explica a disparada de suas cotações no mundo. Aqui no Brasil, o movimento se ancorou em uma realidade de desvalorização do Real que já vinha ocorrendo desde o final do ano passado.

Assim, mesmo com intervenções de nosso Banco Central, o Real se estabiliza próximo de R$ 4,50 (um novo recorde histórico). Se é verdade que todas as moedas emergentes do mundo se desvalorizaram, dentre elas o Real foi a que mais se desvalorizou, atingindo 11,1% nos primeiros 60 dias do ano, em comparação com a cotação de fechamento de 2019. E isso se deve também a um componente interno, talvez mais impactante do que o coronavirus. Trata-se da inabilidade política, para dizer o mínimo, do presidente Bolsonaro, seguido de muitos de seus ministros, o que agora vem comprometendo as relações com o Congresso Nacional e o avanço das reformas administrativa e tributária. (segue)
 

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