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DEP, Base Genética e Acurácia


Gustavo Fonseca de Almeida

Como prometido no capítulo anterior, para que seja facilitada a interpretação de sumários de touros apresentados pelas centrais de criação e inseminação artificial, falarei sobre DEP's, Base Genética e Acurácia. Boa leitura e bom divertimento.

A DEP nada mais é do que uma ferramenta poderosa utilizada para a realização de mudanças de rumo nas características produtivas de importância econômica para produção de carne. Com tal ferramenta, os produtores de carne podem projetar um rebanho que satisfaça, especificamente, suas metas e objetivos de produção.

As DEP's são resultados de anos de registros de dados de desempenho obtidos pelos criadores de raças puras, e sua correta utilização resultará em significativas mudanças genéticas dentro de cada raça bovina. Os produtores devem tirar proveito dos programas de melhoramento genético, e isto só ocorrerá quando esses passarem a compreender os conceitos subjacentes às DEP's e como incorporá-las aos critérios utilizados na compra de um reprodutor.

A transferência de desempenho genético superior e específico requer que tanto vendedores quanto compradores de touros, ou sêmen dos mesmos, compreendam o que as DEP's são, o que elas não são e como usá-las.

DEP's são exatamente o que implica a expressão "Diferença Esperada na Progênie". Se um touro A é usado num grupo de vacas, espera-se que os filhos produzidos apresentem diferenças no desempenho de suas características, dadas pelo confronto entre a DEP deste touro em relação à DEP de um outro touro qualquer (da mesma raça), que foi avaliado em conjunto com o touro A, que possa ser empregado no mesmo grupo de vacas. Uma vez que tais estimativas são apresentadas nas unidades de medida da característica, o produtor pode executar o redirecionamento de uma característica e saber o quanto essa característica deverá melhorar. Conforme afirmação de BRINKS (1990), a DEP é a diferença esperada na média das performances das progênies futuras de determinado touro em relação à

média das diferenças esperadas das progênies futuras de todos os touros que participaram da mesma avaliação, considerando em ambos os casos acasalamentos com conjunto de vacas, que tenham, entre si, o mesmo potencial genético.

De outra forma, a DEP é um valor tomado na unidade da característica em questão, de maneira a possibilitar comparações relativas entre os touros. A DEP de um animal, sendo uma estimativa, não é um valor estatístico, isto é, pode mudar em função da variação do número de informações tomadas em qualquer de seus descendentes.

Para que os animais sejam comparados, existe a necessidade de se determinar uma base genética, definida como um grupo de animais com DEP média, igual a zero, escolhida arbitrariamente dentro do grupo em teste (ALBUQUERQUE, 1999).

A definição da base genética para qual a DEP foi predita é de suma importância para o entendimento de sua magnitude, porém, a escolha de uma determinada base não afeta a classificação dos animais. Em todos os casos, os valores das DEP's são expressos em relação à população base. A definição da base é arbitrária; no entanto, geralmente, a base é definida assumindo-se o valor da média das DEP's de todos os animais nascidos em um certo ano ou período de tempo, como sendo zero. Isto determina que as DEP's informadas para animais nascidos em um ano em particular, são relativas ao mérito genético médio dos animais nascidos no ano ou período tomado como base (SUMÁRIO USP, 1999 ).

Cada DEP de uma característica deve ser acompanhada por uma estimativa da sua exatidão, a acurácia. Tal valor expressa a confiabilidade da estimativa explicitada pela DEP, medindo a correlação existente entre o valor predito da DEP e o seu valor verdadeiro. Os valores de acurácia variam entre 0 e 1, de menor à maior confiabilidade. As estimativas de acurácia são uma função da quantidade e da distribuição, entre rebanhos e grupos contemporâneos, da informação disponível para realizar a avaliação de um touro. São utilizadas diferentes fontes de informação: dados do seu próprio desempenho produtivo, dados do desempenho de sua progênie e de seus parentes ( pai, mãe, irmãos

germanos, meio irmãos etc.) sendo que quanto maior o número de informações disponíveis, e melhor distribuída em diversos ambientes, maior será o valor da acurácia.

DEP's resultam de programas informatizados de avaliação genética que analisam dados do desempenho de terneiros, coletados por criadores como parte do programa de seleção e melhoramento genético dos rebanhos de cada raça.

As DEP's devem ser utilizadas pelos criadores, enquanto compradores de touros ou de material seminal, tendo em mente as "especificações de desempenho". Deve-se, sobretudo, pensar em termos de quatro categorias quando se visa atingir os objetivos de produção. São elas:

-Reprodução

Escolher animais que apresentem DEP's favoráveis à facilidade de partos ou peso ao nascer, principalmente para fêmeas de primeira cria e tamanho das vacas na maturidade. Utilizar também dados de medidas de perímetro escrotal, de alta herdabilidade, e de idade ao primeiro parto, de herdabilidade moderada, conseguindo, dessa forma utilizar machos e fêmeas mais precoces.

-Habilidade materna ou leiteira nas novilhas de reposição

-Desenvolvimento até a desmama e ganho pós desmama

-Qualidade de carcaça

Todos os programas de avaliação genética das raças estão aptos a fornecer informações sobre as primeiras três categorias. Como a tendência é a de aumento da ênfase na busca pela qualidade da carcaça devido a mudanças nas referências dos consumidores, é bem possível que, em breve, as empresas estarão fornecendo dados relacionados às características de qualidade de carcaça nos sumários.

A tarefa de escolher touros com base nas DEP's seria, razoavelmente, fácil se o interesse fosse melhorar apenas uma característica. No entanto, raramente é esse o caso. Portanto, nem todos os touros satisfarão a todos os critérios e alguma solução intermediária, provavelmente, terá que ser encontrada. Segundo WILSON (1996), antes de se utilizar os dados das DEP's o produtor deve seguir alguns passos para obter sucesso no empreendimento. São eles:

1. Obtenção de um sumário de touros que seja mais utilizado na raça de interesse. Familiarizar-se com o seu formato e identificar quais são as características que estão sendo avaliadas;

2. Determinação das metas do programa antes da aquisição do material genético superior;

3. Qual é o intervalo aceitável de valores de DEP's para o seu rebanho;

4. Antecipar o "espaço de manobra" em cada característica ( previsões);

5. Determinar qual valor médio da DEP para os touros com interesse de compra. É muito importante que se conheça

o valor da base de referência da DEP para a raça;

6. Os produtores devem exigir mais de si mesmos no que diz respeito ao conhecimento das DEP's além de saber

mais do que os vendedores de touros;

7. Acompanhamento do desempenho do touro no seu rebanho.

As avaliações genéticas levam em conta a herdabilidade de cada característica, diferenças ambientais e de manejo entre rebanhos, além das relações de parentesco entre todos os animais em avaliação. A maioria das características relacionadas à produção de carne apresentam valores de herdabilidade que variam entre 20 e 30%. Isto significa que 70 a 80% de toda variação apresentada no desempenho dos animais é de origem ambiental e devido aos genes de ação não aditiva.

As DEP's são obtidas simultaneamente para todos os animais de uma raça, incluindo valores de DEP's para animais não mais existentes. As DEP's são então publicadas pelas várias associações de raça para os touros em uso e com acurácia acima de um nível mínimo. As diferenças genéticas entre rebanhos de uma mesma raça podem ser significativas e podem estar confundidas com os efeitos dos diferentes ambientes e manejos. Como comprador de touros, deve-se comparar apenas desvios da média para touros oriundos de um mesmo rebanho e criados em um mesmo grupo contemporâneo.

Não é possível usar desvios em relação à média do grupo para determinar o nível do mérito genético de touros de diferentes rebanhos, além disso, as DEP's não são uma garantia absoluta de qual será o desempenho dos filhos de um determinado touro. Cada animal herda uma amostra dos genes dos pais, metade proveniente do touro e metade proveniente da vaca. Cada descendente herda uma amostra diferente. Esta é a principal razão para as diferenças observadas em irmãos germanos, isto é, animais que são filhos do mesmo touro e da mesma vaca ( WILSON, 1998).

As DEP's não são diretamente comparáveis entre raças. Esta é, provavelmente, uma das maiores frustrações dos compradores pois, as raças apresentam uma composição diferentes de seus genes, impossibilitando uma comparação pelo parentesco com animais de outra raça, além de serem comparados dentro de diferentes grupos de contemporânos e de manejo.

O uso prévio de touros com DEP's conhecidas de duas raças diferentes num mesmo rebanho, proporcionando o mesmo número de filhos e mesmas condições de criação dos mesmos, é a única maneira para decidir como novos

touros podem ser comparados em termos de desempenho da progênie.

Como o presente trabalho é direcionado às pessoas interessadas no tema melhoramento genético em bovinos de corte, foi realizado um agrupamento, a partir dos sumários estudados, sobre todas as definições relacionadas às diferentes características envolvidas para interpretação das DEP's.

Mas somente na próxima semana!

Tá interessante né? Pois é, agora é só esperar pelo próximo capítulo.

Grande semana para todos.

Fiquem com Deus.

Ps- Tenho uma idéia. Por que não transferir a CPI do lixo de São Paulo para Brasília? Seria uma boa não?

See you later mate!

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