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Entenda a produção de bezerros para esportes equestres


Guilherme Augusto Vieira

Evolução dos suplementos contribuiu para o desenvolvimento da produção animal no Brasil

Suplementos previnem as doenças de origem nutricional e ajudam na potencialização dos resultados

Guilherme Augusto Vieira[1]

A produção pecuária passa por grandes transformações, evoluindo de um estágio tradicional para um estágio profissional, onde o produtor moderno busca a eficiência e a lucratividade nos processos produtivos inserindo os conceitos de pecuária de ciclo curto e a produção intensiva.

Dentro desta evolução constata-se a presença de produtores atentos as novas realidades de mercado, utilizando novas tecnologias (confinamento e semiconfinamento), novas técnicas de reprodução, cruzamento industrial e uso de suplementos nutricionais (minerais, proteinados, injetáveis ou não) visando ajustar e melhorar a produtividade da pecuária.

Entretanto, apesar dos avanços na produção, a pecuária brasileira enfrenta um grande desafio que é o período seco do ano.

Durante o período seco o valor nutritivo e a produção de gramíneas forrageiras nos trópicos diminuem levando a desnutrição dos animais criados a pasto e consequentemente baixo ganho de peso, baixa produção de leite , baixos índices reprodutivos ,o que impacta diretamente nos custos e qualidade da produção de pecuária de corte e leite no Brasil.

Diante deste quadro que acomete a pecuária há bastante tempo ocorreu o desenvolvimento e aprimoramento dos suplementos , destacando-se os suplementos minerais ( sal mineral) , os proteinados , os suplementos vitamínicos injetáveis, orais e premixes que contribuíram para o desenvolvimento da pecuária nacional, prevenindo as doenças de origem nutricionais , corrigindo as deficiências minerais , vitamínicas e potencializando a produção de carne , leite e ovos.

Ante a ausência de referências quanto ao assunto proposto, foi utilizada como metodologia de construção do referencial teórico, a experiência profissional do autor, entrevista oral com veterinários graduados nos anos 1960-1970 e também a leitura de bulas de produtos veterinários que informaram a data do registro dos produtos no Ministério da Agricultura.

O presente artigo fará uma abordagem histórica da evolução dos suplementos no Brasil e citará os vários tipos de suplementos e suas funções.

 

Sal Mineral x Suplemento Proteinado

Primeiramente deve-se diferenciar o sal mineral do suplemento proteinado, Vieira (2020):

Sal mineral: É uma combinação industrial (ou mistura industrial) de Sal Comum + Minerais (micro e macroelementos). Os principais micro e macroelementos minerais são Cálcio, Fósforo, Iodo, Ferro, Manganês, Mn, Selênio, Cobalto, Cobre, dentre outros.

Os Minerais são importantes nutrientes para a saúde e manutenção dos animais , sendo que a mistura mineral deve ser fornecida diariamente a todas as categorias animais.

 Sal Proteinado: É um suplemento mineral enriquecido com fontes de energia (milho/sorgo), mais fontes de proteínas que podem ser verdadeiras ( farelo de soja, algodão) e/ou NNP (ureia) acrescidos de aditivos e núcleo mineral (contendo todos os minerais).

O Sal Proteinado também é denominado de Mistura Múltipla. Também são chamados de Suplementos Proteinados.

Os suplementos proteinados são divididos em[2]:

  • Sal Ureado (Sal Mineral + Uréia)
  • Suplemento Proteinado Seca (alto teor de energia)
  • Suplemento Proteinado Chuvas ( alto teor energético)

 

Segundo Lana (2002), as principais vantagens de se utilizar a suplementação com Proteinados, destacam-se:

Aumentar o fornecimento de nutrientes para os animais, utilizar as pastagens de modo mais adequado, evitar a subnutrição, melhorar a eficiência alimentar, auxiliar na desmama precoce, reduzir a idade do primeiro parto, reduzir o intervalo entre partos, diminuir a idade de abate, aumentar a taxa de lotação das pastagens e auxiliar na terminação de animais de descarte.

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Evolução do sal mineral

De acordo com Moraes (1984), a suplementação de minerais macro e microelementos iniciou-se no Brasil em maior escala, posteriormente no início da indústria de rações , que teve seus primórdios na década de 1940.

Antes da suplementação mineral completa, o “primeiro suplemento” utilizado (perdurou por muitos anos), foi a farinha de ossos auto clavados, subproduto de matadouros industriais, sem qualquer respaldo técnico-científico sobre a reais carências minerais nos animais.

Nos anos 1950 surgiram as primeiras fábricas de suplementos minerais tendo como foco produtos à base de iodo e polivitamínicos direcionados para suínos, bovinos , aves e equinos.

O grande “boom” da indústria de suplementos minerais ocorreu nos anos 1970[3] com a fundação das grandes indústrias de suplementos minerais impulsionadas pelo conhecimento técnico cientifico e avanço da pesquisa em nutrição animal que detectou as principais carências minerais presentes na pecuária nacional, principalmente pelo elemento fósforo deficiente nas pastagens e que tem impacto na produção de bovinos.

Outro fator importante foi a importação dos fosfatos minerais, principalmente o fosfato bicálcico, juntamente com outras matérias-primas constituem a base das principais fórmulas dos produtos comercializados.

A grande consolidação das indústrias minerais e a melhoria das formulações dos suplementos minerais ocorreu nos anos 1980 até os dias atuais, no qual o mercado oferece produtos diversificados para as diversas categorias animais.

Atualmente O Sal Mineral é denominado Suplementos Minerais Linha Branca que abrange suplementos para reprodução, crescimento, engorda, suplementos para gado leiteiro.

O leitor deve ter observado que a maiorias das formulações tem a terminação FÓS e apresenta um número: 20, 40, 60, 80,90, 120, 160. O que isto significa?

Significa o teor de Fósforo para cada mistura e é direcionada para cada categoria animal, produção ou corrigir alguma deficiência mineral. Como citado anteriormente, a maioria das pastagens e solos são deficientes em fósforo e este elemento tem várias funções orgânicas e é limitante no consumo.

Os proteinados no Brasil

Desde dos anos 1940 tem se estudado formas de melhorar a produção e diminuir os efeitos da seca na produção dos animais, principalmente quanto ao uso de suplementos.

Inicialmente os estudos sobre a suplementação dos animais na seca indicavam o uso de alimentos energéticos tais como o milho, melaço e silagem de milho. Entretanto os resultados do uso destes alimentos, de forma isolada, não foram capazes de evitar a perda de peso nos animais, principalmente devido ao fato destes alimentos estimularem o crescimento de bactérias que digerem o amido em detrimento daquelas que digerem a celulose ( Lopes et al,1997).

Mais tarde, as pesquisas concentraram no elemento Fósforo, devido a sua importância no metabolismo animal. Entretanto, esclarece Lopes et al (1997), com a administração de somente fontes de fósforos na época da seca não ocorreu respostas ao ganho de peso dos animais.

A partir dos anos 1960, os estudos comprovaram que o fósforo não é o principal nutriente limitante, mas sim o déficit proteico presente nas pastagens durante o período seco.

Trabalhos direcionados neste sentido comprovaram que a deficiência proteica poderia ser corrigida tanto com o fornecimento do Nitrogênio Não Proteico (Uréia por exemplo) quanto a proteína verdadeira, fato comprovado por um estudo clássico de Loosli & Mcdonald (1969) sobre o uso de NNP em animais bovinos a pasto na época seca (Barbosa & Graça,2003).

O professor Carneiro Viana da UFMG (1977 apud Barbosa & Graça ,2003) conduziu trabalhos no qual afirmava que no período seco não há somente deficiência de proteínas, mas sim de fósforo e outros minerais, sem excluir a ocorrência direta ou indireta de déficit energético e propôs maneiras de suplementação de animais na seca:

Viana propôs uma “Mistura Farelada de NNP” composta de ureia, fubá de milho, fosfato bicálcico, sal comum e melaço. A presença do sal comum, proposto no método, controla a ingestão da mistura de acordo com a sua concentração. Atualmente insere-se em várias formulações além da uréia, outros ingredientes proteicos como o farelo de soja ou farelo de algodão.

Após este marco inicial os estudos progrediram através da EMBRAPA e outras unidades de pesquisas, indústrias de insumos com ótimos resultados, e atualmente o mercado apresenta várias fórmulas e produtos direcionados não só para consumo na seca quanto para consumo na época das águas, constituindo-se no grande marco da evolução da nutrição na pecuária nacional.

 

A evolução dos suplementos vitamínicos, minerais e aminoácidos ( uso oral e injetável)

Ao realizar o levantamento bibliográfico visando a elaboração deste artigo, verificou-se que a suplementação vitamínica[4] e mineral sempre foi a preocupação do uso humano e consequente nos animais. Os primeiros relatos do uso de suplementos remontam do século XVIII, especialmente o uso do óleo de fígado de bacalhau pelos médicos por muito tempo como fortificante e combatendo diversas doenças. Este produto foi industrializado no final do Século 19 nos Estados Unidos com o nome de Emulsão de Scott, e começou a ser fabricado no Brasil em 1908.

Em 1910 foi criado pelo médico Cândido Fontoura Silveira o Biotônico Fontoura[5], o primeiro suplemento mineral do Brasil, a base de sulfato ferroso com a denominação de fortificante e antianêmico, que persiste até os dias atuais. Segundo relatos, também foi muito utilizado nos animais, devido principalmente a ausência de produtos veterinários.

Quanto a evolução histórica do uso de vitaminas em uso animal, Nunes (1998) aponta que até os anos 1950, a maior parte das vitaminas administradas aos animais tinha como fonte o óleo de fígado de peixes, subprodutos industriais e pelos ingredientes naturais. Segundo Moraes (1984), os suplementos contendo em suas fórmulas as vitaminas assim como os minerais começaram a ser fabricados a partir da evolução das indústrias de rações aliados a fundação dos laboratórios farmacêuticos e veterinários a partir dos anos 1950-1960.

De acordo com Vieira (2018) os primeiros suplementos industrializados, nos anos 1960, foram os suplementos minerais principalmente a base de ferro, injetável, ferrodextrano, utilizado na prevenção e tratamento de anemia ferropriva. Também forma oferecidos ao mercado os suplementos orais a base de um único mineral, a base de ferro e cálcio (em solução). Adiante foram lançados suplementos minerais conjugados com mais de um componente em sua formulação com destaque os produtos a base de gluconato de cálcio (para combater as hipocalcemias e febre vitular) mais magnésio e fósforo.

O mesmo autor enfatiza que nos anos 1970 e 1980 ocorreu uma grande leva de lançamentos principalmente dos suplementos vitamínicos por via oral, injetáveis ou em pó (premix, complexos vitamínicos). Os primeiros   suplementos vitamínicos injetáveis continham uma única vitamina (  C, , K, A , B12) e logo depois foram fabricados os complexos vitamínicos conjugados, contendo várias vitaminas em sua formulação com destaques para os produtos à base de vitaminas ADE ( em pó ou injetáveis) e os polivitamínicos ( uso oral e injetáveis).

Nesta mesma época , dentro do processo evolutivo , verificou-se o lançamento dos produtos denominados “soros energéticos” ou fortificantes. São produtos compostos de vitaminas , sais minerais, aminoácidos, geralmente adicionados de dextrose e soro fisiológicos, cuja funções são revigorantes para animais debilitados, exaustão por produção ou esforço físico, estados em convalescença (pós cirúrgico ou pós patologias). Geralmente estes produtos são aplicados via endovenosa, de forma lenta e utilizando equipo.

Outros produtos fabricados que merecem destaques são os antitóxicos, que se destinam ao controle do metabolismo dos animais intoxicados em geral, atuando no fígado e estimulando a eliminação dos “tóxicos” presentes no organismo. Vieira (2018) analisou as fórmulas de alguns destes produtos e encontrou na composição dos produtos (na sua maioria):  aminoácidos lisina, metionina e colina, vitaminas do complexo B e glicose.

Vale enfatizar que na fabricação dos suplementos vitamínico-minerais, todas as espécies animais foram contempladas com apresentações específicas, inclusive pássaros e animais pets.

O grande avanço observado em termos de suplementos injetáveis foram os modificadores orgânicos. São suplementos utilizados como reconstituintes, revigorantes e atuam no desenvolvimento dos animais, podendo ser aplicados em animais em situação de stress, após viagens e também auxilia no crescimento dos animais. É um composto formado de aminoácidos, vitaminas e sais minerais.

Atualmente a indústria nos oferece o que denomino de super suplementos[6] , mais completo a base aminoácidos, minerais e vitaminas, cuja finalidade é desempenhar várias funções orgânicas específicas, como ganho de peso, atuação na melhoria das funções reprodutivas, coadjuvante no tratamento de enfermidades de origem infecciosas ou não.

Presentemente, verifica-se no mercado os suplementos vitamínicos-minerais acrescidos de  aditivos melhoradores de desempenho ( monensina, leveduras, probióticos ), que podem ser adicionados a rações, suplementos minerais e proteinados, tendo como finalidade principal potencializar o ganho de peso dos animais

Ao finalizar o artigo, observou-se uma evolução dos suplementos no Brasil guido principalmente pela evolução tecnológica ( genética, manejo sanitário e nutricional) dos processos produtivos na  pecuária de corte, pecuária de leite, avicultura e suinocultura,    sendo de grande valia para a produção nacional já que tem importante função na prevenção de doenças carenciais,   manutenção e ganho de peso dos animais , aumento na produção de carne, leite e ovos.

O artigo também procurou demonstrar a diferença entre suplemento mineral, suplemento proteinado e a evolução dos suplementos vitamínicos-minerais, cuja evolução ocorreu a partir do desenvolvimento do parque industrial nacional.

O desenvolvimento de suplementos contendo vários elementos em suas fórmulas são importantes para o desempenho de várias funções orgânicas nos animais.

Referências Bibliográficas

BARBOSA, F.A.; GRAÇA, D.S. Suplementos múltiplos para bovinos. In Carvalho, A. Barbosa, F.A., MCDOWELL, l.R. Nutrição de bovinos a pasto. Belo Horizonte: Papelform, 2003;

BÚTOLO,J.E. Qualidade de ingredientes na alimentação animal , 2ª edição, Campinas -SP: J.E. Butolo, 2010;

LANA, R.P. Sistema de suplementação alimentar para bovinos de corte em pastejo. R. Brasileira de Zootecnia, v.31, n.1,p.223-231,2002;

LOPES, H.O. DA SILVA; PEREIRA, EA. SOARAES, W.V. PEREIRA, G. Mistura múltipla, uma alternativa de baixo custo para suplementação alimentar do gado na época da seca. Comunicado Técnico CPAC -EMBRAPA, n.69, 6p.,1997.

MORAES, B.T. Controle de qualidade, fiscalização e legislação das misturas minerais. In Anais do I Encontro sobre carências minerais em bovinos do Centro-Oeste, p.127-139, Goiânia -GO: EV-UFG 19 a 21/11/1984, ,Anais

NUNES, I.J. Nutrição animal básica. 2.ed. Belo Horizonte: FEP-MVZ Editora, 1998;

VIEIRA, G.A. Manual rações & proteinados para semiconfinamento. Salvador: Farmácia na Fazenda, 2020;

VIEIRA, G.A. Suplementos vitamínicos e minerais, módulo 6 In: Curso (on line) entendendo os produtos veterinários, VeteAgroGestão – Farmácia na Fazenda, 2018;


[1] Médico Veterinário, Professor Universitário, Doutor em História das Ciências. Coordenador das plataformas Farmácia na Fazenda e www.semiconfinamento.com.br , Autor do livro Como montar uma farmácia na fazenda e dos manuais semiconfinamento e confinamento. Contato com autor: [email protected]

[2] Existem no Mercado outros exemplos de Suplementos com a finalidade de potencializar o ganho de peso dos animais.

[3] Datas de fundação das principais indústrias de suplementos : 1954 – Tortuga; 1973: Minerthal;1974 – Guabi; 1980: Agroceres ( Vieira, 2018)

[4] Segundo Nunes (1998) , Bútolo (2010), Em 1912, o bioquímico polaco Casimir Funk isolou o complexo de micronutrientes e propôs que esse complexo fosse denominado de Vitamina ( uma contração de "vital" e "amina"). Ele criou o termo após estudar a vitamina B1, também denominada de B1. Escorbuto

[6] Anabolic – Noxon Saúde Animal

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