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Infelizmente mais dois Pibinhos (Final)


Argemiro Luís Brum

Dando sequência ao comentário iniciado na coluna passada, temos a dizer que não só o dinheiro privado não veio, para substituir o recurso público, como a parte que corresponde ao dinheiro estrangeiro sai significativamente do país, em parte assustada pelas diatribes presidenciais e de alguns de seus ministros.

O investidor estrangeiro já retirou cerca de R$ 45 bilhões de nossa Bolsa em dois meses e uma semana. No ano passado inteiro a saída havia sido de R$ 44,5 bilhões. Pior: a saída líquida de dinheiro do país atingiu a US$ 44,8 bilhões em 2019 e US$ 4,8 bilhões somente nos dois primeiros meses de 2020. Já o capital nacional, combalido, continua esperando “para ver no que vai dar”.  E tal resultado nada tem a ver com o coronavírus Covid-19, pois este somente surgiu em 2020 em nosso horizonte. De fato, o quadro externo, que já era ruim, piorou consideravelmente neste início de ano.

Além de o mundo ainda viver rescaldos da crise de 2007/08, uma nova recessão econômica se desenha para algum momento entre 2020 e 2024, fato que indicamos em diversas oportunidades neste espaço. Pois o coronavírus parece ser o estopim de tal recessão já no início de 2020.

Junto com ele tem-se os efeitos, ainda pouco conhecidos, da consolidação do Brexit; do conflito comercial entre EUA e China, o qual está longe ainda de ser resolvido totalmente; da recessão econômica na Argentina; das eleições presidenciais nos EUA no final do ano; do avanço das políticas protecionistas no mundo; e dos crescentes problemas ambientais. Neste quadro, nossas taxas de investimento e de poupança, que ficaram em tão somente 15,4% e 12,2% do PIB respectivamente, em 2019 (quando o ideal é 25% para ambas), tendem a ficar nestes níveis, senão pior em 2020. Isso tudo aponta, agora, não mais para um novo Pibinho, mas sim algo pior.

Justificativa para tal afirmação: segundo estudos da FGV, para crescermos 2,2% em 2020 será preciso crescer, em média, 0,7% em cada um dos quatro trimestres do corrente ano. Ora, sem coronavírus, nosso crescimento médio nos últimos 10 trimestres foi de 0,3%. Dá para imaginar o que virá após a paralisia da economia no primeiro semestre em função da doença (as primeiras projeções indicam nova recessão econômica no Brasil em 2020, com o ano terminando com um PIB potencial entre 0% e -4,5%). Isso sem falar, no caso gaúcho, dos graves efeitos vindos da frustração da safra de verão. O estouro da bolha especulativa bursátil e a disparada do câmbio são apenas os sintomas do que nos aguarda na economia nacional, num contexto mundial igualmente recessivo e ainda totalmente indefinido, pois ninguém sabe como e quando tudo isso irá terminar.
 

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